Especialistas: Putin quer provocar caos no leste da Ucrânia

Aumento da tensão nos últimos dias nas cidades de Lugansk, Donetsk e Kharkiv ampliam os temores de uma repetição do que ocorreu na Crimeia

10 abr 2014 - 13h53
(atualizado às 13h56)
<p>Presidente russo Vladimir Putin chega para uma reunião com membros do Governo, em 9 de abril</p>
Presidente russo Vladimir Putin chega para uma reunião com membros do Governo, em 9 de abril
Foto: Reuters

O presidente russo, Vladimir Putin, quer provocar o caos nas regiões de língua russa do leste da Ucrânia para desacreditar o governo pró-europeu de Kiev, mas não tem a intenção de realizar uma intervenção militar, segundo os especialistas.

O súbito aumento de tensão nos últimos dias nas cidades de Lugansk, Donetsk e Kharkiv, onde militares pró-russos tomaram vários edifícios oficiais, aumentam os temores de uma repetição do que ocorreu na Crimeia.

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Esta península ucraniana do Mar Negro foi anexada à Rússia em março, depois que homens armados pró-russos e sem uniformes oficiais tomaram o controle da região e foi realizado um referendo de anexação, considerado ilegal pelo Ocidente.

Mas, segundo os especialistas, a situação atual no leste da Ucrânia é diferente, por um lado porque os Estados Unidos e a União Europeia ameaçam com sanções, e por outro porque a população não é favorável à anexação.

"Uma intervenção militar seria totalmente absurda. Nossos líderes já entenderam que o risco é muito alto, que há a possibilidade de duras sanções econômicas", explicou à AFP o analista russo Alexei Malachenko, do Centro Carnegie.

Após a anexação da Crimeia, os Estados Unidos e a Rússia reagiram adotando sanções contra autoridades russas e ucranianas pró-russas. E o presidente americano, Barack Obama, falou da possibilidade de sancionar "setores chave" da economia russa em caso de aumento da escalada.

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Por sua vez, segundo o analista Konstantin Kalachev, "não há consenso" sobre a integração à Rússia entre os habitantes destas regiões industriais de língua russa do leste da Ucrânia.

Apenas 30%, segundo as pesquisas, querem se separar da Ucrânia para formar parte da Rússia, um número que está muito distante da unanimidade ocorrida na Crimeia, segundo Kalachev.

Uma análise compartilhada pelo jornal econômico Vedomosti, que lembra que estas regiões não estão isoladas geograficamente nem têm uma base militar russa, como era o caso na Crimeia.

"Se a política do Kremlin com a Ucrânia é racional, uma intervenção no sudeste é inútil e não tem nenhum interesse. A situação social e o nível de apoio não têm nada a ver com o que se viu na Crimeia, o risco é muito mais alto de todos os pontos de vista", afirma o jornal em um editorial.

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A política atual do Kremlin consiste em "apoiar e controlar a instabilidade no leste da Ucrânia para colocar em xeque a legitimidade das eleições presidenciais e tentar influenciar nas reformas constitucionais" desta ex-república soviética, independente desde 1991, segundo Vedomosti.

Após a destituição, em fevereiro, do presidente pró-russo Viktor Yanukovytch, o novo governo interino de Kiev convocou eleições presidenciais para 25 de maio. Até agora os candidatos favoritos são todos pró-europeus, que querem aproximar do Ocidente esta ex-república soviética de 46 milhões de habitantes.

Os Estados Unidos acusaram na terça-feira a Rússia de criar o caos na Ucrânia, enquanto o governo interino de Kiev classifica os separatistas pró-russos que ocupam edifícios oficiais em Donestk, Kharkiv e Lugansk de "terroristas e criminosos".

Por sua vez, o presidente Vladimir Putin advertiu o governo ucraniano a não cometer atos irreparáveis, depois que Kiev ameaçou com uma intervenção contra os separatistas.

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Segundo Kalachev, a Rússia quer conseguir no mínimo que a Ucrânia se torne uma federação, na qual as regiões pró-russas tenham autonomia suficiente para negociar acordos comerciais e diplomáticos diretamente com Moscou.

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