Ex-contador de Auschwitz pede perdão às vítimas do Holocausto

21 abr 2015 - 11h54
(atualizado às 11h54)

Oskar Gröning, ex-contador de Auschwitz, pediu nesta terça-feira perdão às vítimas do Holocausto assumindo sua culpa moral, embora tenha enfatizado as diferenças entre o seu trabalho e dos executores, durante o primeiro dia de seu julgamento na Alemanha.

"Para mim, não há dúvida alguma de que compartilho uma culpa moral", declarou o antigo SS, de 93 anos, durante um longo depoimento pronunciado com voz firme. "Peço perdão", completou.

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Quanto à questão da responsabilidade penal, corresponde aos senhores decidir", afirmou, dirigindo-se aos juízes de Luneburgo (norte). Gröning pode pegar uma pena entre 3 e 15 anos de prisão por cumplicidade em 300.000 homicídios" e poderá ser o último nazista julgado.

Usando um pulôver sem mangas, camisa branca listrada e óculos, o idoso entrou na sala com um de seus advogados e caminhando com um andador.

A audiência, realizada em uma sala de espetáculo devido à grande presença da imprensa e das 67 partes civis, sobreviventes e descendentes das vítimas, começou com a prestação do juramento de três intérpretes que fizeram uma tradução simultânea em inglês, hebraico e húngaro.

Oskar Gröning - viúvo, aposentado, com dois filhos de 65 e 70 anos - relatou sua adesão voluntária à Waffen SS, em outubro de 1940, com seu primeiro posto na administração e depois transferido para Auschwitz em 1942, onde permaneceu até 1944.

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Descrevendo a vida cotidiana em Auschwitz, se esforçou para marcar a diferença entre seu trabalho e o dos guardas que estavam diretamente envolvidos no extermínio dos prisioneiros, assegurando que sua tarefa consistia principalmente em "evitar os roubos nas bagagens dos deportados, "um importante mercado negro" dentro do campo.

É acusado de ter "ajudado o regime nazista a tirar rendimento econômico dos assassinatos em massa", enviando o dinheiro dos deportados a Berlim, e de ter ajudado na "seleção" que separava os deportados considerados aptos para o trabalho daqueles que eram imediatamente executados.

"Havia muita corrupção e tinha a impressão que existia um mercado negro" no interior do campo, que se concentrava nos relógios de ouro dos recém chegados, se defendendo Gröning, assegurando que não teve nada a ver com o procedimento dos assassinatos.

Além disso, insistiu que solicitou em três ocasiões ser transferido para o front, em vão, para justificar sua intenção de abandonar o campo, comovido pelas cenas que havia assistido.

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Logo depois de sua chegada, em novembro de 1942, havia visto um guarda matar um bebê que estava sozinho, chorando, o pegando pelos pés e atirando-o contra em um vagão. Seu superior admitiu que este fato não era particularmente aceitável mas considerou que sua saída do campo era impossível.

Três semanas depois, patrulhado o campo, ouviu gritos "de deportados, cada vez mais e mais fortes e desesperados, antes de morrerem" nas câmaras de gás, e disse que depois assistiu à cremação de corpos.

Eva Kor, uma sobrevivente de Auschwitz de 81 anos que chegou dos Estados Unidos, perdeu seus pais e duas irmãs no campo. Ainda que considere Gröning um "assassino" por sua participação em "um sistema de assassinatos em massa", aprecia seus esforços. "O fato de vê-lo na minha frente me dá conta que ele fez o melhor que pôde com seu corpo e seu espírito, pois tem muitas dificuldades físicas e, sobretudo, emocionais", afirmou aos jornalistas.

O ex-contador, que voltou à Alemanha depois da guerra, nunca se escondeu. Antes de ser acusado pela justiça, havia contado à imprensa e à televisão seu passado em Auschwitz, explicando querer "combater o negacionismo"

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Seu processo judicial ilustra a severidade crescente da justiça alemã com os antigos nazistas, desde a condenação em 2011 de John Demjanjuk, ex-guarda do campo de concentração de Sobibor (Polônia), a cinco anos de prisão.

Cerca de 1,1 milhão de pessoas, incluindo cerca de 1 milhão de judeus da Europa, morreu entre 1940 e 1945 no campo de Auschwitz-Birkenau.

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