O ex-presidente francês Nicolas Sarkozy se disse nesta quarta-feira inocente das acusações de corrupção ativa, tráfico de influência e violação do sigilo profissional, denunciando "uma instrumentalização política de parte da justiça".
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"Digo a vocês, olhando nos olhos, eu não fiz nada que possa me envergonhar", declarou a jornalistas do canal de televisão privado TF1 e da rádio Europe 1, em sua primeira entrevista desde a derrota na eleição presidencial de 2012 para o socialista François Hollande.
Sem dissipar as dúvidas sobre um possível retorno à política, ele afirmou que "jamais" cometeu "qualquer ato contrário ao Estado de Direito", acrescentando que "nunca traiu a confiança" de ninguém.
Nicolas Sarkozy denunciou com veemência a sua detenção por cerca de 15 horas para interrogatório antes de seu indiciamento, algo inédito para um ex-chefe de Estado francês.
"Havia um desejo de me humilhar ao me convocar sob custódia, o que não é normal", disse. "Será que não poderiam ter me convocado para responder às perguntas dos juízes? Será que era absolutamente necessário ter um encontro às duas horas da manhã com as duas senhoras que me convocaram?", questionou o ex-chefe de Estado francês (2007-2012).
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Ele foi indiciado por violação de segredo de justiça, corrupção e tráfico de influência ativos ao final de sua detenção.
Corrupção e tráfico de influência são crimes que podem ser punidos com até dez anos de prisão na França.
O ex-presidente de direita chamou de "grotescas" as acusações e questionou a imparcialidade de uma juíza responsável pelo caso, Claire Thépaut. Ele ressaltou que ela pertence ao Sindicato dos Magistrados (SM), um órgão de esquerda, segundo ele. Sarkozy acusou a magistrada de ter uma "obsessão política (...) de destruir a pessoa contra quem (ela) deve instruir".
O Sindicato dos Magistrados acusou imediatamente Nicolas Sarkozy de querer "desacreditar" os juízes.
Seu indiciamento derrubou a esperança de seu partido, o UMP (oposição de direita), de vê-lo retornar à política.
Apesar de sua derrota para o socialista François Hollande em 2012, Nicolas Sarkozy, de 59 anos, estava convencido da possibilidade de voltar para ser o "salvador" da França, tendo em vista a eleição presidencial de 2017.
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À imprensa, nesta quarta-feira, ele indicou que vai dizer "no final de agosto, início de setembro" se retornará à política como candidato à direção de seu partido.
Duas outras pessoas foram acusadas junto com ex-presidente: seu amigo e advogado Thierry Herzog e um advogado-geral do Tribunal de Cassação, Gilbert Azibert.
Os juízes de instrução tentam estabelecer se Sarkozy tentou obter informações confidenciais por meio de Azibert sobre uma decisão da justiça relacionada ao ex-presidente, em troca da promessa conseguir para o informante um posto de prestígio em Mônaco.
A decisão de grampear os telefones de Sarkozy havia sido tomada em setembro do ano passado pelo juiz que investiga as acusações de financiamento ilegal de sua campanha eleitoral em 2007 pelo ex-ditador da Líbia Muammar Khadafi.
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O presidente francês François Hollande lembrou nesta quarta-feira os princípios de "independência da justiça" e de "presunção de inocência", em referência ao indiciamento de seu antecessor.
A suspeita de corrupção "é baseada apenas em escutas que nós contestamos e cuja legalidade será combatida", declarou o advogado de Thierry Herzog, Paul-Albert Iweins.
A promotoria de Paris também confiou a juízes financeiros uma investigação sobre o financiamento da campanha de 2012 de Nicolas Sarkozy.
Questionado sobre o caso Bygmalion, empresa de eventos suspeita de emitir notas frias durante essa campanha, Sarkozy disse que nunca houve "qualquer sistema de dupla cobrança."
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O ex-presidente da França Nicolás Sarkozy foi detido pela polícia nesta terça-feira, perto de Paris, para ser submetido a um interrogatório por um caso relacionado a tráfico de influência e violação do sigilo da investigação. A detenção de Sarkozy é uma medida inédita para um ex-chefe de Estado francês. Veja a seguir outras polêmicas envolvendo o ex-presidente:
Foto: Ben Stansall
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Em 2013, Nicolas Sarkozy foi acusado de ter recebido dinheiro do ditador líbio Muamar Kadafi para sua campanha à presidência da França em 2007. Segundo uma fonte do regime deposto, o ex-presidente teria embolsado US$ 50 milhões. Logo após ter sido eleito, Sarkozy defendeu Kadafi, afirmando que ele não era considerado um ditador no mundo árabe. "Kadafi é o chefe de Estado há mais tempo no poder na região, e, no mundo árabe, isso é importante", disse o presidente à época. Mais tarde, Sarkozy apoiou a ação militar que culminou com a queda e morte de Kadafi
Foto: Eric Ryan
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Sarkozy também foi acusado de abuso de incapaz por ter supostamente se beneficiado da fortuna da herdeira da gigante mundial dos cosméticos L'Oreal, Liliane Bettencourt. Um tribunal concluiu que o marido de Carla Bruni tirou proveito, em 2007, da saúde frágil de Bettencourt, que sofre de demência, para conseguir doações em dinheiro feitas por ela para sua campanha à presidência na mesma época. De acordo com os dados do processo, a bilionária teria feito doações ilegais de altas somas em espécie para ele
Foto: Eric Feferberg
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Logo que Sarkozy assumiu o poder, os franceses passaram a ver o presidente em revistas de fofocas exibindo seu gosto pelo luxo. Em 2009, uma viagem de Sarkozy com Bruni ao México levantou uma polêmica sobre o excesso do presidente. Antes de iniciar a visita oficial ao país, o casal passou o fim de semana em Manzanillo, no sul do México, hospedado no hotel El Tamarindo, pertencente ao milionário Robert Hernandez Ramirez, suspeito de ligações com o narcotráfico. Diversos sites e revistas francesas questionaram quem havia bancado o fim de semana presidencial, avaliado em 50 mil euros. O governo francês afirmou que o convite foi feito pelo presidente do México à época, Felipe Calderón que por sua vez, informou que a visita foi promovida por empresários locais
Foto: Nasser Nasser
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Em 2010, o governo francês enfrentou uma onda de críticas externas e internas pela compra excessiva de vacinas contra a gripe suína (H1N1). O caso motivou, inclusive, uma demanda de investigação parlamentar. Na época, Sarkozy comprou 10% das vacinas de todo o mundo. Apesar de a França encomendar 94 milhões de doses de vacinas, somente 5 milhões de cidadãos foram vacinados no país, que teve de lidar com problemas logísticos. A oposição afirmou que Sarkozy ajudou os laboratórios farmacêuticos a lucrar
Foto: Benoit Tessier / AFP
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Em 2012, Sarkozy e a mulher, Carla Bruni, compraram, por 5 milhões de euros, um palácio na cidade marroquina de Marrakech. A residência possui oito suítes de luxo, um spa, uma piscina de 21 metros e um jardim com 600 espécies diferentes de rosas. A operação de compra, no entanto, levantou dúvidas. Alguns dizem que o palácio seria um presente do rei rei Mohammed ao casal, que se hospedou na casa do monarca por duas vezes em visitas durante o mandato de Sarkozy. Outros afirmam que a residência seria um presente de um rico empreendedor imobiliário do Catar
Foto: Benchris
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Outra polêmica que rondou Sarkozy após a saída do governo foi em torno do seu patrimônio. Em uma declaração que assinou ao oficializar sua intenção de concorrer novamente ao cargo, o francês afirmava ter patrimônio de US$ 3,3 milhões, US$ 814 mil a mais do que tinha quando entrou na Presidência. Sarkozy, no entanto, se adiantou e explicou que o aumento dos bens se deu principalmente por meio de investimentos feitos antes de ser eleito, em 2007
Foto: Yves Herman
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Nicolas Sarkozy já era presidente de França quando, em 2007, se divorciou de Cecilia Ciganer-Albéniz, em um conturbado processo. Eles eram casados desde 1996. Em 2005, quando Sarkozy era ministro do Interior da França, os jornais publicaram notícias de que Cécilia teria abandonado o marido por um produtor marroquino e que o presidente teria um caso com uma jornalista. Mas o casal continuou junto até as eleições, em maio de 2007. Sarkozy foi o primeiro presidente francês a se divorciar enquanto ocupando o cargo
Foto: Francois Mori
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Ainda em dezembro de 2007, surgiram rumores na imprensa francesa afirmando que a modelo e cantora Carla Bruni estaria namorando o presidente da França. Em janeiro de 2008, os dois assumiram o namoro oficialmente, e o casal passou a viver sob os holofotes da mídia mundial. Em fevereiro de 2008, Bruni e Sarkozy se casaram em Paris. Três anos mais tarde, nascia a primeira filha do casal, Giulia
Foto: Remy de la Mauviniere
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Em discurso no início de 2010, Sarkozy defendeu a cassação da nacionalidade de delinquentes de "origem estrangeira", após incidentes violentos envolvendo imigrantes no sul da França - onde a morte de um homem de origem árabe que fugia da polícia provocou a revolta da população estrangeira. O presidente declarou, à época, que "a nacionalidade é adquirida e deve ser merecida". "Estamos sofrendo pelos 50 anos de regulação frouxa da imigração, que levaram a uma ausência da integração, disse, provocando a ira de intelectuais e juristas, que alertaram que a Constituição francesa garante a igualdade diante da lei de todos os cidadãos, sem distinção de origem, raça ou religião"
Foto: Gonzalo Fuentes
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No mesmo ano, a polêmica envolvendo imigrantes na França continuou. Após intensificar a expulsão de ciganos durante o verão, cercando famílias em acampamentos ilegais e oferecendo a elas incentivos financeiros para deixar o país, Sarkozy envolveu a Alemanha no debate. Para justificar suas ações, o presidente francês afirmou que o governo alemão também pretendia desmantelar acampamentos de ciganos. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, negou que tenha feito tais declarações e refutou os comentários de Sarkozy, causando tensão entre os dois governos. O tema dos ciganos é historicamente sensível na Alemanha, que perseguiu este povo durante o regime nazista
Foto: Regis Duvignau / AFP
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