Grécia: violência de operação anti-imigrante atinge turistas

14 jan 2013 - 06h16
(atualizado às 06h33)

Alguns turistas estão sendo detidos por engano na Grécia em meio a uma nova operação lançada pela polícia local para capturar imigrantes sem papéis. E pelo menos dois estrangeiros denunciaram que foram espancados em incidentes desse tipo.

Um deles é o mochileiro coreano Hyun Young Jung, que foi abordado em Atenas por dois agentes de segurança gregos: primeiro, por um policial à paisana; em seguida, por um uniformizado que solicitou seus documentos.

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Jung ficou desconfiado com a abordagem dos policiais e, por isso, pediu que o agente uniformizado lhe mostrasse sua identificação. Em vez disso, recebeu um soco no rosto. E ao cair no chão diz que continuou a receber chutes.

Em estado de choque, o coreano estava convencido de que estava sendo assaltado por criminosos disfarçados de policiais e começou a gritar por socorro. "Eu estava com muito medo", diz. Foi só quando foi algemado e arrastado por 500 metros até a delegacia mais próxima que se deu conta que estava realmente sendo detido.

Antes de entrar no edifício, Jung diz que recebeu mais um soco no rosto: "Algumas pessoas na rua viram o que aconteceu. Mas eles tinham medo de me ajudar."

Dentro da delegacia, ele conta que foi espancado novamente. "Posso entender que tenham me pedido uma identificação e até que tenham me batido em um primeiro momento. Mas por que continuaram a me bater depois que eu estava algemado?", ele questiona. "Agora sempre que as pessoas me perguntarem se devem ir para a Grécia, vou responder que em vez disso visitem a Turquia."

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Outro caso

Christian Ukwuorji, 38 anos, um nigeriano de cidadania americana, viveu uma situação semelhante em julho. Ele foi para a Grécia com a esposa e três filhos e visitou as ilhas de Rhodes e Santorini antes de ir para Atenas.

Pouco antes da data prevista para sua volta para casa, um policial pediu sua identificação e o prendeu apesar de ele mostrar seu passaporte americano. Na delegacia, foi espancado de forma tão brutal que desmaiou e acordou no hospital. "Fui para a Grécia para gastar meu dinheiro, mas me pararam por causa da minha cor. São racistas", acusa Ukwuorji.

É impossível determinar quantas pessoas tiveram uma experiência semelhante - mas o número foi suficiente para o Departamento de Estado dos EUA emitir um alerta aos cidadãos americanos que viajam à Grécia.

Desde 15 de Novembro, seu website alerta para "relatórios confirmados de afro-americanos detidos pela polícia em operações contra imigrantes ilegais em Atenas" e também para "ataques violentos contra pessoas que, por causa de sua compleição, podem ser confundidas com imigrantes".

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Operação anti-imigração

Os turistas estão sendo presos juntamente com imigrantes sem papéis como resultado da operação anti-imigração Xenios Zeus - nome que, ironicamente, faz referência ao deus grego da hospitalidade.

Calcula-se que hoje os imigrantes representem até 10% da população grega. E o país é uma das principais portas de entrada na União Europeia para imigrantres ilegais.

O grande fluxo de imigrantes representa um desafio para um país que, tradicionalmente, é uma terra de emigrantes. Ainda mais em um momento em que ele está mergulhado em uma grave crise econômica e seu sistema de bem-estar social está em colapso.

O governo grego diz que não tem recursos para oferecer serviços básicos a uma população inflada pela imigração - um dos argumentos que justificou o lançamento da Xenios Zeus, em agosto.

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Comentando sobre a operação, o tenente-coronel Christos Manouras admite que qualquer um que pareça estrangeiro ou que tenha despertado suspeitas, pode ser abordado pela polícia, mas diz que os esforços anti-imigração estão surtindo resultado.

"Se uma pessoa for parada por policiais e não tiver como comprovar sua identidade, deverá acompanhá-lo até a delegacia para que sua nacionalidade seja verificada", explica. "Isso é normal e aceitaria que gregos fossem submetidos ao mesmo tratamento no exterior."

Mas, enquanto mais de 60 mil pessoas foram abordadas nas ruas de Atenas desde que a operação foi lançada, houve menos de 4,2 mil detenções de imigrantes irregulares. E alguns visitantes, como Ukwuorji, foram detidos, apesar de terem mostrado seus passaportes para a polícia.

Professor visitante

Além dos turistas, outros visitantes estão sendo afetados pelas políticas de imigração mais duras. Um caso de grande repercussão no país foi a detenção de um acadêmico indiano nas imediações da Universidade de Economia e Negócios de Atenas, onde ele trabalhava como professor visitante.

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Shaledra Kumar Rai saiu para o almoço, mas esqueceu-se de levar seu passaporte. "Os policiais pensaram que eu era paquistanês e, como não falavam inglês, não me entenderam quando eu expliquei que era indiano", conta Rai.

Estudantes viram que o professor estava sendo detido e alertaram funcionários da universidade, mas os policiais não deram ouvidos a seus protestos. A polícia algemou Rai e o levou para a delegacia. "Entendo porque os policiais precisam pedir documentos de identidade, eles estão apenas fazendo seu trabalho. Mas acho que eles são muito agressivos", afirma o professor.

Racismo

Rai diz não acreditar que os policiais foram "racistas" no seu caso, mas em 2012 a Rede de Registro de Violência Racista, composta por 23 ONGs e pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados, exortou o governo grego a "impedir policiais de levarem a cabo atos de violência racial" após ter registrado 15 incidentes desse tipo.

Também há relatos de que muitos policiais apoiariam o partido Amanhecer Dourado, de extrema-direita, que conquistou 18 cadeiras nas eleições parlamentares de junho com um discurso anti-imigração.

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O porta-voz da polícia grega, tenente-coronel Manouras, responde às acusações dizendo que as preferências eleitorais dos policiais são uma questão de ordem pessoal.

"Não importa o que um policial possa sentir na sua vida privada. Quando eles vêm trabalhar e colocam o uniforme, assumem os valores da nossa instituição", ele disse, acrescentando que a polícia grega tem respeito absoluto pelos direitos humanos.

"É claro que não podemos descartar a possibilidade de que um policial tenha agido de forma imprópria, mas isso seria um incidente isolado", afirma. Manouras diz que não pode comentar sobre os casos de Jung e Ukwuorji porque eles ainda estão sob investigação.

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