Homem que salvou mais de 600 crianças do nazismo é premiado

Nicholas Winton usou oito trens para tirá-las da Tchecoslováquia e levá-las até a Inglaterra e a Suécia antes da eclosão da Segunda Guerra

28 out 2014 - 21h02
(atualizado às 21h03)
<p class="text">Nicholas Winton foi condecorado com a Ordem do Leão Branco, a mais alta honraria da República Tcheca </p><p class="text"> </p>
Nicholas Winton foi condecorado com a Ordem do Leão Branco, a mais alta honraria da República Tcheca
Foto: Petr David Josek / AP

Um inglês que salvou mais de 600 crianças dos nazistas no início da Segunda Guerra Mundial foi condecorado na República Tcheca com a mais alta honraria do país – a Ordem do Leão Branco.

Nicholas Winton, de 105 anos, tinha apenas 29 anos em 1939 quando conseguiu oito trens para levar 669 crianças – a maioria delas judias – da Tchecoslováquia quando eclodiu a Guerra. Elas foram conduzidas para a Inglaterra e para a Suécia, onde ficaram livres das ações dos nazistas.

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Setenta e seis anos depois, o britânico participou de uma cerimônia no Castelo de Praga, onde recebeu o prêmio. Em seu discurso, ele agradeceu aos britânicos que aceitaram receber as crianças em suas casas.

"Quero agradecer a todos vocês por essa tremenda expressão de agradecimento por algo que aconteceu comigo há quase 100 anos", disse Winton. "Fico muito contente que algumas das crianças ainda estejam aqui para me agradecer."

"Eu agradeço aos britânicos por dar uma casa para eles, por aceitá-los e, claro, a enorme ajuda dada por muitos tchecos que fizerem o que puderam para lutar contra os alemães e tentar tirar as crianças do país", finalizou.

'Sem medo'

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A missão notável do homem apelidado de "Schindler britânico" veio à tona somente no final de 1980. Mas tudo começou em 1938, após a ocupação nazista da região dos Sudetos - nome usado para as áreas de pré-guerra na Tchecoslováquia.

''Acho que não aprendemos com os erros do passado", declarou Nicholas Winton, hoje com 105 anos, em entrevista
Foto: Petr David Josek / AP

Winton visitou campos de refugiados fora de Praga e decidiu ajudar as crianças a conseguirem licenças britânicas, da mesma forma como as crianças de outros países foram resgatadas no "kindertransport".

Na época, ele era um corretor de ações em Londres, e vinha de uma família judia alemã, então estava bem consciente da urgência da situação. "Eu sabia do que estava acontecendo na Alemanha mais do que muita gente e, com certeza, mais do que os políticos", disse à BBC.

"Nós tínhamos pessoas ficando conosco que eram refugiados da Alemanha naquela época. Alguns que sabiam que suas vidas estavam em perigo." Mas ele ressaltou que não teve medo de ajudar. "Não houve nenhum medo pessoal envolvido."

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Winton conseguiu lotar oito trens com crianças que saíram da Tchecoslováquia, antes da eclosão da Guerra. Mas um nono trem, o que estava ainda mais cheio – com 250 crianças – não conseguiu cruzar a fronteira antes do conflito tomar conta do país.

A atitude de Winton ficou 'oculta' por 50 anos – ele não contou a ninguém o que fez – até que sua mulher encontrou um livro de recordações e descobriu.

Quando questionado pela BBC sobre o que achava que tinha mudado daquela realidade de 70 anos atrás para a que vive hoje, o homem de 105 anos não foi muito otimista. "Acho que não aprendemos com os erros do passado", disse.

"O mundo hoje está em uma situação mais perigosa do que jamais esteve e considerando que agora temos armas de destruição em massa que podem acabar com qualquer conflito, nada está seguro mais."

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