Ecologista intelectual de esquerda vira presidente austríaco

4 dez 2016 - 16h02
(atualizado às 16h08)
Alexander van der Bellen
Alexander van der Bellen
Foto: Getty Images

Alexander Van der Bellen, economista e intelectual de 72 anos, ex-líder do Partido Os Verdes da Áustria, venceu neste domingo a repetição das eleições presidenciais contra o ultranacionalista Nobert Hofer.

Um político que não se encaixa dentro do estereótipo de ecologista clássico, Van der Bellen levou a melhor no pleito e acalmou os membros da União Europeia (UE), que temiam que a extrema-direita chegasse ao poder em um dos países-membros do bloco.

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Filho de uma estoniana e de um russo de origem holandesa que fugiram da revolução bolchevique na Rússia em 1917, Van der Bellen nasceu em 1944 e viveu em Tirol até os 33 anos. Depois, se mudou para Viena, capital do país, onde construiu sua carreira, primeiro no mundo acadêmico e depois como político.

Antigo decano da Faculdade de Ciências Econômicas de Viena, o novo presidente sempre foi muito bem avaliado pelos eleitores por sua honestidade. A forma pouco convencional de argumentar e debater em público pode estar relacionada com a decisão de Van der Bellen de entrar na política aos 50 anos de idade.

Pai de dois filhos, Van der Bellen tem fama de personagem que não se encaixa dentro dos estereótipos de um político ecologista clássico. Ninguém nunca o viu andar de bicicleta, por exemplo. No passado, ele até mesmo chegou a declarar amor pelos carros potentes. Além disso, até os dias atuais, ele segue sendo fumante.

Para muitos analistas, o novo presidente é um político que terá muito sucesso no cargo, que tem função protocolar, mas detém prestígio e é visto como uma referência ética no país.

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Defensor da integração europeia e antigo militante socialista, Van de Bellen cita Heinz Fischer, presidente da Áustria até julho deste ano, como modelo a ser seguido. Fischer representou o país dignamente no exterior e, internamente, controla de forma discreta, mas firme, as forças políticas do país.

Para chegar à vitória, o ecologista teve que superar um processo que começou em 22 de maio deste ano, com a primeira tentativa de ser eleito presidente do país. Van der Bellen venceu Hofer por apenas 31 mil votos, mas o resultado acabou sendo invalidado pelo Tribunal Constitucional, que encontrou irregularidades na apuração.

Apesar de os dados oficiais do pleito deste domingo ainda não terem sido divulgados, Van der Bellen parece ter vencido por uma vantagem ainda maior, que fica próxima dos sete pontos percentuais.

O agora presidente eleito superou também as pesquisas, que indicavam um cenário propício para o triunfo da mensagem populista de Hofer, após a vitória do "Brexit", a saída do Reino Unido da União Europeia, em julho, e a do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

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Para conter o avanço do populismo de extrema-direita, Van der Bellen foi obrigado a se apresentar não só como um candidato progressista e experiente, mas também como um patriota, com fortes raízes em Tirol. Um de seus principais argumentos foi o alerta de que seu adversário poderia convocar um referendo sobre a permanência da Áustria na União Europeia, repetindo o caminho britânico.

Ele também insistiu na tese de que os austríacos não estavam decidindo apenas a pessoa que ocuparia a presidente, um cargo eminentemente protocolar, mas sim o futuro da Aústria: integrada à União Europeia ou com as fronteiras fechadas para os demais países.

Além disso, Van der Bellen também assumiu compromissos em relação ao que faria caso fosse eleito. O ecologista prometeu, por exemplo, que não ratificaria a assinatura do TTIP, o futuro acordo de livre-comércio e investimentos que ainda está sendo negociado entre Estados Unidos e UE, mesmo se fosse aprovado pelo parlamento.

A proposta foi praticamente a única que coincidia com o projeto de seu rival, um conhecido cético da integração europeia e da globalização de forma geral.

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Apesar de não estar previsto na lei um papel ativo do chefe de Estado no dia a dia político, a Constituição dá ao presidente o poder de decidir quem será o encarregado pela formação do governo, sem a obrigação de optar pelo líder do partido mais votado.

Por isso, Van der Bellen disse que, se ganhasse, faria o possível para não colocar nunca o Partido Liberal da Áustria (FPÖ), o mesmo de Hofer, para formar um novo ministério.

Hofer, que já reconheceu a derrota, criticou esse alerta por considerá-lo "antidemocrático".

  
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