Judeus e muçulmanos falam em medo, mas pregam união em Paris

O ato, considerado antissemita, ganhou repúdio de judeus, muçulmanos e cristãos no dia seguinte

10 jan 2015 - 15h58
(atualizado em 12/1/2015 às 10h11)

<p><em>"Eu sou Charlie, judeu e francês</em>", diz cartaz em meio a flores</p>
"Eu sou Charlie, judeu e francês", diz cartaz em meio a flores
Foto: Fernando Diniz / Terra
“Eu sou Charlie”, “eu sou judeu”, “eu sou francês”.

Cartazes com as três frases amanheceram em meio a flores nas proximidades do supermercado judaico Hyper Cacher, em Porte des Vincennes, no leste de Paris, onde um terrorista e quatro reféns foram mortos em um sequestro na sexta-feira.

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O ato, considerado antissemita, ganhou repúdio de judeus, muçulmanos e cristãos no dia seguinte, que foram ao local do crime manifestar a união da comunidade.

O autor do crime, Amedy Coulibaly, disse ter agido em sincronia com os irmãos Said e Cherif Kouachi, identificados como autores do massacre na redação da revista Charlie Hebdo. A ação atribuída por Coulibaly, a missão para a rede terrorista Al-Qaeda, é considerada pela comunidade local como um ato extremista, e não de crença religiosa. 

“Tenho medo que por causa de algumas pessoas que fazem esse tipo de ato... Não são os muçulmanos que fizeram isso, foram terroristas, foram bárbaros. Tenho medo que as pessoas pensam que os muçulmanos sejam selvagens. A religião muçulmana é muito tolerante”, disse Jamel Boubane, 50 anos.

Veja momento em que polícia invade mercado em Paris
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A região de Porte des Vincennes é considerada tranquila pelos moradores, onde judeus, cristãos e muçulmanos convivem pacificamente.

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Vizinho do supermercado, o jovem judeu Noah Fitoussi presenciou a situação que levou à morte dos reféns e do terrorista.

“Foi horrível, parece que estávamos em um filme. Foi um choque”, disse. Mesmo assim, acredita na união e que a comunidade não deve ser afetada. “No nosso bairro, todo mundo vive junto. Não entendo que por causa dessa barbárie na França temos que parar com isso tudo”, observou. “Mas claro que fico com medo! Podem atacar qualquer coisa. Podem atacar uma escola judia”, acrescentou.

Supermercado Hyper Caché foi invadido pelo terrorista Amedy Coulibaly, que foi morto
Foto: Fernando Diniz / Terra
Muçulmano de Mali salvou reféns

Segundo reportagem do canal BMFTV, um dos heróis do sequestro é um funcionário do mercado judeu, Lassana Bathily, um muçulmano do Mali.

Ele protegeu clientes em uma sala fria do estabelecimento, durante a invasão do terrorista.

“Desci ao congelador, abri a porta e muitas pessoas entraram comigo. Apaguei a luz e o congelador. Coloquei-os lá dentro e disse: fiquem calmos, vou sair. Quando eles saíram, vieram me agradecer”, disse o funcionário ao canal de TV.

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Atentados, assassinatos, sequestros e perseguições em Paris

A sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, foi alvo de um ataque que matou 12 pessoas no dia 7 deste mês. De acordo com testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a redação armados de fuzis e, enquanto atiravam nas pessoas que trabalhavam no local, gritaram “vamos vingar o profeta” e Allah akbar (Alá é grande). O semanário já havia sofrido diversas ameaças por publicar charges e caricaturas da figura religiosa de Maomé.

O atentado causou comoção no mundo todo. Manifestações foram organizadas com cartazes escritos "je suis Charlie" (Sou Charlie) e mãos empunhando lápis, o material de trabalho dos quatro cartunistas mortos no episódio.

Cidades da França entraram em alerta máximo para ataque terrorista e 88 mil homens das forças de segurança iniciaram uma caçada aos envolvidos no atentado. Nove pessoas foram presas no dia seguinte. Os irmãos nascidos em Paris e de pais argelinos Cherif Kuachi, 32 anos, e Said Kuachi, de 34, foram identificados como os autores dos disparos. O primeiro já havia sido condenado, em 2008, por ter atuado num grupo que enviava jihadistas ao Iraque.

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Na sexta-feira (9), a polícia fechou o cerco após os dois irmãos, que estavam foragidos, roubarem um carro e invadirem uma fábrica na cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde mantiveram um refém.

Ao mesmo tempo, no leste de Paris, o casal Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly mataram três pessoas em um mercado judaico e fizeram outras dez reféns. Coulibaly, que conheceria um dos irmãos Kuachi, foi identificado pela polícia como o autor dos disparos que mataram uma policial na periferia de Paris no dia anterior.

Após horas de negociações, ambos os lugares foram invadidos pela polícia. Em Dammartin-en-Goële, os irmãos foram mortos e o refém liberado. No mercado, um sequestrador foi morto, assim como um refém, e a outra terrorista permanece foragida. 

Fonte: Terra
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