Os ucranianos do leste do país começaram a votar neste domingo para decidir sobre o futuro de sua região. Trata-se de uma votação considerada ilegal por Kiev e pelo Ocidente, mas que pode levar a uma secessão histórica desta parte do país.
Quase simultaneamente, no entanto, foram retomados os combates nos subúrbios de Slaviansk, um reduto dos separatistas pró-russos cercado pelas forças ucranianas, que lançaram no início de maio uma operação militar.
As autoridades centrais de Kiev consideram ilegal o referendo deste domingo e classificam os separatistas pró-russos de terroristas apoiados por Moscou. Mais de sete milhões de ucranianos do leste foram convocados a decidir sobre a independência das "Repúblicas Populares" autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, duas regiões fronteiriças com a Rússia, onde os insurgentes controlam as principais cidades.
Nas cédulas produzidas às pressas pelos rebeldes pró-russos aparece a pergunta: "Você está de acordo com a independência da República Popular de Donetsk?" ou "Você está de acordo com a independência da República Popular de Lugansk?". E duas únicas opções: sim ou não.
A ucraniana Victoria Petrovna chegou cedo, às 07h45 locais, a um centro de votação instalado em uma escola de Donetsk, a principal cidade da região. "É um dia importante. Disseram para que viéssemos votar, é essencial fazer isso. (...) Estamos vivendo momentos muito importantes", declarou à AFP.
Dentro da escola, duas grandes urnas transparentes foram colocadas diretamente no chão e dez pessoas estavam ali para dirigir a votação, com grandes listas eleitorais nas mãos. "Tudo se desenvolve como o previsto, tudo estava pronto, os colégios eleitorais abriram pontualmente, e as pessoas estão indo votar", declarou Satisfeito Nicolas Tsonsev, um dos responsáveis pela organização do referendo em Donetsk.
Combates em meio ao pleito
A retomada dos combates perto de Slaviansk - onde as pessoas também votam neste domingo - lembra, no entanto, que a situação continua tensa. Muitas detonações fortes foram ouvidas no início da manhã perto da cidade, constatou a AFP.
Os combates, que foram precedidos durante grande parte da noite por rajadas de tiros, foram retomados neste domingo na localidade de Andreevka, na linha de frente, na entrada sul desta cidade de 110.000 habitantes cercada pelas forças ucranianas, declarou à AFP Stella Jorosheva, porta-voz dos insurgentes pró-russos de Slaviansk. "Há vítimas", acrescentou Jorosheva, que não pôde fornecer mais detalhes até o momento.
Os ecos dos disparos com armas pesadas continuavam chegando dos subúrbios no início da manhã.
Kiev e os países ocidentais condenam a realização desta consulta popular. Temem que ocorra o mesmo que na Crimeia, que se uniu em março à Rússia após uma consulta similar. Os Estados Unidos, por sua vez, afirmaram no sábado que não reconhecerão o resultado destes referendos "ilegais de acordo com o direito ucraniano e que constituem uma tentativa de criar divisões e distúrbios".