O conflito entre a Ucrânia e a Rússia pela Crimeia também está acontecendo no terreno dos mapas e enciclopédias da internet. Quem coloca a península como território ucraniano? Quem a integra à Rússia?
Essa é a questão. E essa guerra tem a web como campo de batalha. Em especial a Wikipedia, a enciclopédia gratuita on line editada pelos próprios usuários.
Brevemente, na terça-feira, a Crimeia apareceu como parte da Rússia, mas a página logo foi mudada. Agora, no mapa da Ucrânia a região aparece com uma cor diferente. Só em março, o texto sobre a Crimeia em inglês foi editado mais de 500 vezes.
Em alguns idiomas na Wikipedia se descreve o local como a República Autônoma da Crimeia, administrada pela Ucrânia e a República da Crimeia, incorporada pela Rússia. Esse é o caso da versão da página da enciclopédia em inglês, espanhol, holandês, sérvio, entre outros.
A partir de um referendo realizado no último domingo - considerado ilegal pelo Ocidente - 97% dos eleitores da Crimeia apoiaram a anexação pela Rússia. Moscou aceitou a união logo depois. A península fica no Mar Negro e tem 2,3 milhões de habitantes. A maior parte deles (58%) se identificam como russos étnicos e falam russo.
Os russos dominaram a Crimeia durante a maior parte dos últimos 200 anos, desde que a região foi conquistada em 1783. Mas, foi transferida para a Ucrânia em 1954, época em que o país fazia parte da União Soviética.
Recentemente, a imprensa russa começou a reproduzir declarações dadas à agência Bloomberg e à revista U.S News & World Report por Juan José Valdés, geógrafo e diretor de investigação da divisão de cartografia da National Geographic Society, com sede nos Estados Unidos.
"Fazemos mapas do mundo como ele é, não como queremos que seja", disse Valdés. Ele afirmou ter feito uma reunião na terça-feira com a equipe editorial, legal e cartográfica da publicação.
Na ocasião se decidiu que a península da Crimeia receba temporariamente uma cor diferente, da mesma forma que são retratados os territórios palestinos da faixa de Gaza e Cisjordânia, para simbolizar uma situação especial até que o Parlamento russo aprove o tratado firmado entre o presidente da Rússia Vladimir Putin e as autoridades da Crimeia.
Quando isso acontecer, explicou Valdés, será necessário retratar a Crimeia como parte da Rússia.
Material didático
Contudo, a Rand McNally, editora líder na produção de atlas e mapas educativos nos Estados Unidos disse que os materiais didáticos que se usam nas salas de aula do pais não serão atualizados, pois o governo considera o referendo ilegal.
"Nos guiamos pelo Departamento de Estado", disse a porta-voz da empresa, Amy Krouse, à revista U.S News & World Report.
Os mapas usados por aplicativos da Google, Bing e Apple continuam mostrando a Crimeia como parte da Ucrânia. O debate não parece ter uma resolução rápida.
Na versão em inglês da Wikipedia há uma página onde se discutem as edições feitas no verbete da Crimeia. Ela já conta com 10 mil palavras. No início da página se podia ler uma frase que serviria para refletir a realidade no terreno: "o artigo é uma confusão de passado, presente e dados incorretos".