Madri: sem museus e atrações, turistas foram “ver o rei”

Temor de manifestações republicanas faz polícia adotar medidas duras de controle. Monarquistas comemoram novo Rei

19 jun 2014 - 10h28
(atualizado às 18h47)
<p>Além dos espanhois, muitos turistas encheram as ruas de Madri, curiosos para assistir à cerimônia</p>
Além dos espanhois, muitos turistas encheram as ruas de Madri, curiosos para assistir à cerimônia
Foto: Rachel Costa / Especial para Terra

Sem museus e com grande parte das lojas fechadas, o grupo de cinco brasileiras caminhava hoje pela manhã pela Gran Vía, centro de Madrid, tentando entender a cerimônia de posse do novo monarca. “Na verdade viemos para cá porque está tudo fechado. Então decidimos ver o Rei”, brinca Michele Silva, 30 anos, bancária.

A colega de grupo Cecília Sanada, 34 anos, completa: “Não tem nem como atravessar a rua”. De férias pela cidade e de bom humor, o grupo optou por “provar” a cerimônia, tão distante da realidade brasileira. 

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Pelas ruas fechadas do centro de Madri, se viam muitos turistas, curiosos com a cerimônia. Alguns irritados, como dois amigos indianos que tentavam acessar o hotel, na Carrera de San Jeronimo, que, por dar acesso ao Congresso, estava completamente fechada. Muitos tentando entender o que deveriam fazer, como um casal de japoneses que, apressados, tentavam encontrar um lugar para assistir à cerimônia.

Com muitas ruas fechadas ou com acesso restrito, o melhor lugar para ver a cerimônia era a Praça de Callao, onde telões retransmitiam o evento – com imagens, mas sem som. No espaço, algumas centenas acompanhavam os passos do monarca desde o Palácio de Zarzuela, domicílio real e início da cerimônia.

Segurança

Um dos grandes temores do governo espanhol era a invasão da festa por republicanos. O grupo de descontentes com a monarquia chegou inclusive a marcar uma manifestação, para as 12h do dia de hoje, na Porta do Sol, centro da cidade.

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O Tribunal Superior de Justiça de Madrid, porém, proibiu a manifestação e a praça foi ocupado por forte policiamento. Por toda a área, bandeiras ou camisas em vermelho, amarelo e roxo, as cores da bandeira republicana, foram proibidas. Com a represão, os republicanos remarcaram a manifestação pelo referendo para mais tarde, às 20h, na mesma Praça do Sol. 

O paranaense Vagner Antônio Candils, 48 anos, se lamentava à beira da calçada. Não exatamente por ser republicano, mas por não poder trabalhar. Candils se veste de Minnie e aproveita o fluxo de turistas na Porta do Sol para ganhar algum trocado. “Não sabia que eles iam ocupar a praça”, dizia ele, enquanto reclamava do dinheiro gasto para se sustentar a família Real. “Dava para dar casa para um monte de gente pobre”.

Momento único

“Acho que será nosso último rei”, dizia uma senhora espanhola que saiu cedo da cidade de Getafe, região metropolitana de Madri, para ver o novo monarca. Assim como ela, outros presentes foram às ruas em um clima quase de despedida. “Acredito que a monarquia termina com ele e que ele irá ajudar a buscar um outro sistema”, dizia Carlos Jover, 27 anos, especialista em marketing. Ele e amiga Alícia Sanchez, 26 anos, foram juntos à cerimônia. Ele, monarquista. Ela, republicana. “Pra mim, na verdade, o pai dele já podia ter sido o último”, brincou.

Para os que acreditam na monarquia, resiste nas mãos de felipe VI a esperança de tempos melhores. “Será uma importante mudança generacional. As pessoas da minha geração são as que tem que fazer o País andar para frente”, considera Enrique Cabezuelo, 32 anos, recepcionista. Enrolado na bandeira espanhola, ele vaticina: “A monarquia é o único caminho”.

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De pé na praça Oriente, buscando um ângulo para ver o aceno do Rei Felipe VI e da Rainha Letícia da janela do Palácio Real, a aposentada Amália Molina, 73 anos, conversava animada com o advogado Miguel Angel, 49 anos. Elogiosos ao novo rei, os dois acreditam que ele é a pessoa certa para ajudar o País a superar a crise. Perguntados sobre a possibilidade de uma Espanha republicana, os dois respondem em uníssono: “A monarquia é a nossa única opção”.

Após uma cerimônia relativamente tranquila – foram registrados apenas três detidos durante a manhã – resta saber qual será o ânimos dos espanhois nos outros dias.

Foto: Arte Terra

Fonte: Terra
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