No dia em que a primeira-ministra britânica, Theresa May, apresenta ao Parlamento o texto alcançado para o Brexit, seu gabinete sofre um forte golpe com a renúncia de quatro membros contrários ao acordo com a União Europeia (UE).
A renúncia mais relevante é do próprio ministro para o Brexit, Dominic Raab. "Não posso apoiar o acordo com a UE", disse.
Também deixaram seus cargos a subsecretária para o Brexit, Suella Braverman; o subsecretário para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara; e a ministra do Trabalho, Esther McVey.
Segundo eles, os termos do acordo não honram as promessas feitas para os britânicos sobre a relação futura entre a UE e Londres, além da garantia de direitos civis e das fronteiras. Os ministros acusam May de "não entregar o Brexit que os britânicos pediram" nas urnas. May anunciou na terça-feira (13) que havia chegado a um acordo preliminar com a União Europeia para a saída do país do bloco, que deve se concretizar até 29 de março.
O projeto, que tem 585 páginas, ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento britânico por pelo menos 320 de 650 votos - mas não há data definida para a votação -. O Conselho Europeu também fará uma reunião extraordinária no dia 25 de novembro para validar o texto.
Nesta quinta-feira (15), May fez um discurso no Parlamento para defender o acordo preliminar. Segundo ela, "votar contra o acordo nos levaria de volta à estaca zero".
"A escolha é clara: nós podemos escolher deixar sem nenhum acordo, arriscar não ter nenhum Brexit ou escolher nos unir e apoiar o melhor acordo que poderia ser negociado", disse.
"Este é um momento muito importante. O acordo é justo e equilibrado, assegura as fronteiras da Irlanda e gera bases para uma ambiciosa relação futura. Mas teremos uma longa estrada pela frente", afirmou a premier. Ela também garantiu que haverá Brexit e que nenhum outro plebiscito será convocado. A saída do Reino Unido da União Europeia foi aprovada em plebiscito em junho de 2016. Há meses, May tenta negociar um acordo de como será o "divórcio", encontrando resistência tanto de Bruxelas quanto de membros do seu próprio governo.
Um de principais pontos de entrave era um princípio chamado "backstop", que garante que, se não houvesse acordo, a fronteira entre as Irlandas permaneceria inexistente. Neste caso, a Irlanda do Norte continuaria no mercado comum e na união alfandegária e ficaria submetida as regras diferentes do restante do Reino Unido.
No entanto, tanto a Irlanda quanto a Irlanda do Norte querem a manutenção de fronteiras abertas, mas isso pode acabar criando uma região com status especial dentro do Reino Unido e até uma espécie de diferenciação entre o território e o restante do país. Sem um acordo com a UE, o Reino Unido corre o risco de ter de sair do bloco de maneira "traumática", sem garantia de interesses nem de relações comerciais.