Mobilização pró-europeia na Ucrânia perde força após acordos com Moscou

A manifestação deste domingo reuniu poucas pessoas, em comparação com protestos anteriores; opositores em Kiev não escondem decepção

22 dez 2013 - 12h05
(atualizado às 12h10)
Cerca de 40 mil pessoas protestaram na Praça da Independência, onde centenas de milhares de ucranianos se reuniram nos últimos três domingos
Cerca de 40 mil pessoas protestaram na Praça da Independência, onde centenas de milhares de ucranianos se reuniram nos últimos três domingos
Foto: AP

A mobilização pró-europeia tem perdido força em Kiev após a aproximação do governo ucraniano com Moscou na semana passada, a manifestação deste domingo reuniu poucas pessoas em comparação com os protestos nas semanas anteriores.

Cerca de 40.00 pessoas estavam reunidas na Praça da Independência uma hora após o início da manifestação no centro de Kiev, onde centenas de milhares de ucranianos protestaram nos três domingos precedentes, após a desistência no final de novembro pelo governo de Viktor Yanukovich de um acordo de associação com a União Europeia.

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Esta manifestação deveria servir para esclarecer a futura estratégia da oposição e o futuro de Maidan, a Praça da Independência, símbolo da contestação e ocupada há mais de uma mês por manifestantes que ergueram barricadas. Mas na manhã deste domingo, os opositores entrevistados pela AFP não esconderam sua decepção com o resultado desta mobilização.

"Maidan está num beco sem saída. Os manifestantes fizeram tudo o que podiam. Agora cabe a oposição (seus líderes) trabalhar nos bastidores para enfraquecer o poder", declarou Ostap Nikitin, um estudante de Kiev.

Vasyl Gouliï, um empresário de 49 anos de Ternopil (oeste) culpou a Europa, que, segundo ele, não foi firme o suficiente após os episódios de violência policial em novembro contra manifestantes em Kiev. "A Europa poderia ter pressionado o governo, mas ela abandonou a Ucrânia", lamentou.

"A oposição deve agir de forma mais ativa. Eles devem dizer como conseguir o impeachment do presidente Viktor Yanukovich", declarou por sua vez à AFP Lessia Pantchuk, de 23 anos, que veio da região de Chernivtsi (oeste).

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A assinatura na terça-feira em Moscou de acordos econômicos prevendo um crédito de US$ 15 bilhões para a Ucrânia e a diminuição em um terço do preço do gás russo, enquanto o país está à beira da falência, parece ter desestabilizado os líderes da contestação, sem precedentes desde a Revolução Laranja pró-ocidental, em 2004.

A oposição acusa o presidente de ter "prometido a Ucrânia" a Moscou por US$ 15 bilhões e questionou o conteúdo dos documentos firmados, mas a rejeição de uma aproximação da Rússia parece ter desaparecido das reivindicações. Uma manifestação na terça-feira para denunciar esses acordos mobilizou cerca de 50.000 pessoas.

"A adesão da Ucrânia à União Aduaneira liderada por Moscou deveria ter irritado os opositores, mas é difícil criticar o governo por ter conseguido preços mais baixos para o gás. Não é contra Moscou que a oposição irá se mobilizar", considera o analista político Volodymyr Fessenko.

Bandeira dos Estados Unidos está entre os símbolos empunhados por manifestantes em Kiev
Foto: AP

Após os acordos de Moscou, "as tentativas de formar um 'governo técnico' para assinar um acordo de associação com a UE já não são válidas. A revolta dos oligarcas foi abafada pelo gás barato", ressaltou recentemente o ex-ministro do Interior Yuriy Lutsenko, que fez um apelo em favor da ampliação da contestação.

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Se o regime de Yanukovich parecia enfraquecido após a dispersão violenta de uma manifestação estudantil em 30 de novembro, exibida pelas emissoras controladas pelos oligarcas ucranianos, parece agora ter recuperado seus sentidos.

"O poder é mais forte hoje do que em 2004", quando foi derrubado pela Revolução Laranja, diz Volodymyr Fessenko.

A súbita decisão do presidente ucraniano de rejeitar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE) em favor de uma aproximação econômica com Moscou desencadeou as maiores manifestações contra o governo desde a Revolução Laranja.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, cujo país desempenhou um papel fundamental para dissuadir a Ucrânia de assinar a associação com a UE ressaltou no sábado que as "estruturas de integração eurasiáticas", um termo para designar as ex-repúblicas da antiga União Soviética, implementadas por Moscou estavam "abertas" para a Ucrânia. O presidente ucraniano é esperado em Moscou na próxima semana para participar de uma reunião de cúpula sobre a integração "Eurasiática".

Reunidos em Bruxelas, alguns líderes europeus expressaram na sexta-feira sua exasperação com o governo ucraniano. A União Europeia mantém a porta aberta "para o povo ucraniano, mas não necessariamente para o seu governo", alertou a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE.

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A oposição acusa o presidente de ter "prometido a Ucrânia" a Moscou por 15 bilhões de dólares
Foto: AP
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