A mobilização pró-europeia tem perdido força em Kiev após a aproximação do governo ucraniano com Moscou na semana passada, a manifestação deste domingo reuniu poucas pessoas em comparação com os protestos nas semanas anteriores.
Cerca de 40.00 pessoas estavam reunidas na Praça da Independência uma hora após o início da manifestação no centro de Kiev, onde centenas de milhares de ucranianos protestaram nos três domingos precedentes, após a desistência no final de novembro pelo governo de Viktor Yanukovich de um acordo de associação com a União Europeia.
Esta manifestação deveria servir para esclarecer a futura estratégia da oposição e o futuro de Maidan, a Praça da Independência, símbolo da contestação e ocupada há mais de uma mês por manifestantes que ergueram barricadas. Mas na manhã deste domingo, os opositores entrevistados pela AFP não esconderam sua decepção com o resultado desta mobilização.
"Maidan está num beco sem saída. Os manifestantes fizeram tudo o que podiam. Agora cabe a oposição (seus líderes) trabalhar nos bastidores para enfraquecer o poder", declarou Ostap Nikitin, um estudante de Kiev.
Vasyl Gouliï, um empresário de 49 anos de Ternopil (oeste) culpou a Europa, que, segundo ele, não foi firme o suficiente após os episódios de violência policial em novembro contra manifestantes em Kiev. "A Europa poderia ter pressionado o governo, mas ela abandonou a Ucrânia", lamentou.
"A oposição deve agir de forma mais ativa. Eles devem dizer como conseguir o impeachment do presidente Viktor Yanukovich", declarou por sua vez à AFP Lessia Pantchuk, de 23 anos, que veio da região de Chernivtsi (oeste).
A assinatura na terça-feira em Moscou de acordos econômicos prevendo um crédito de US$ 15 bilhões para a Ucrânia e a diminuição em um terço do preço do gás russo, enquanto o país está à beira da falência, parece ter desestabilizado os líderes da contestação, sem precedentes desde a Revolução Laranja pró-ocidental, em 2004.
A oposição acusa o presidente de ter "prometido a Ucrânia" a Moscou por US$ 15 bilhões e questionou o conteúdo dos documentos firmados, mas a rejeição de uma aproximação da Rússia parece ter desaparecido das reivindicações. Uma manifestação na terça-feira para denunciar esses acordos mobilizou cerca de 50.000 pessoas.
"A adesão da Ucrânia à União Aduaneira liderada por Moscou deveria ter irritado os opositores, mas é difícil criticar o governo por ter conseguido preços mais baixos para o gás. Não é contra Moscou que a oposição irá se mobilizar", considera o analista político Volodymyr Fessenko.
Após os acordos de Moscou, "as tentativas de formar um 'governo técnico' para assinar um acordo de associação com a UE já não são válidas. A revolta dos oligarcas foi abafada pelo gás barato", ressaltou recentemente o ex-ministro do Interior Yuriy Lutsenko, que fez um apelo em favor da ampliação da contestação.
Se o regime de Yanukovich parecia enfraquecido após a dispersão violenta de uma manifestação estudantil em 30 de novembro, exibida pelas emissoras controladas pelos oligarcas ucranianos, parece agora ter recuperado seus sentidos.
"O poder é mais forte hoje do que em 2004", quando foi derrubado pela Revolução Laranja, diz Volodymyr Fessenko.
A súbita decisão do presidente ucraniano de rejeitar o Acordo de Associação com a União Europeia (UE) em favor de uma aproximação econômica com Moscou desencadeou as maiores manifestações contra o governo desde a Revolução Laranja.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, cujo país desempenhou um papel fundamental para dissuadir a Ucrânia de assinar a associação com a UE ressaltou no sábado que as "estruturas de integração eurasiáticas", um termo para designar as ex-repúblicas da antiga União Soviética, implementadas por Moscou estavam "abertas" para a Ucrânia. O presidente ucraniano é esperado em Moscou na próxima semana para participar de uma reunião de cúpula sobre a integração "Eurasiática".
Reunidos em Bruxelas, alguns líderes europeus expressaram na sexta-feira sua exasperação com o governo ucraniano. A União Europeia mantém a porta aberta "para o povo ucraniano, mas não necessariamente para o seu governo", alertou a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE.