Morte de opositor polariza Rússia e leva milhares às ruas

Na imprensa, nas mídias sociais e entre políticos era comum ouvir o comentário de que o assassinato do opositor era algo considerado impensável

1 mar 2015 - 21h39
A manifestação reuniu cerca de 10 mil pessoas
A manifestação reuniu cerca de 10 mil pessoas
Foto: Reuters / Reuters

O assassinato do líder opositor Boris Nemtsov deixou a Rússia em estado de choque neste final de semana e deu novo impulso a polarização política do país. No domingo (1), dezenas de milhares de pessoas participaram de uma manifestação em homenagem a Nemtsov no centro de Moscou.

Na imprensa, nas mídias sociais e entre políticos era comum ouvir o comentário de que o assassinato do opositor era - até a última sexta-feira - algo considerado impensável.

Publicidade

Nemtsov, de 55 anos, foi baleado em uma ponte próxima ao Kremlin - uma área que conta com policiamento pesado e muitas câmeras de segurança. Ex-vice-premiê, ele era uma figura carismática da política russa, um reformador liberal que ganhou destaque no governo Boris Yeltsin e tornou-se crítico feroz do presidente russo, Vladimir Putin.

Opositores culpam o Kremlin pela morte de Nemtsov. E para muitos, seu assassinato é a prova de que fazer política na Rússia está ficando cada vez mais perigoso - como na época caótica que se seguiu ao colapso da União Soviética.

Durante os protestos deste domingo, alguns manifestantes carregavam cartazes que diziam "não tenho medo". Outros gritavam "Rússia sem Putin".

O presidente russo nega quaquer relação com o crime, que para ele seria uma "provocação". E sua posição é apoiada pela mídia pró-governo e por milhares de simpatizantes do atual governo russo.

Publicidade

"Boris Nemtsov foi morto por pessoas que querem ver uma revolução na Rússia", escreveu no Facebook o analista político pró-governo Sergei Markov.

Em um telegrama para a mãe do opositor, Dina Eydman, que tem 86 anos, Putin prometeu "fazer de tudo" para garantir que os autores do crime - que qualificou como "vil e cínico" - sejam "propriamente punidos".

Assassinato de Nemtsov foi 'meticulosamente planejado'
Video Player
Investigação

O chefe do Comitê Russo de Investigações, Vladimir Markin, endossou a tese de que a morte de Nemtsov teria como objetivo "desestabilizar o país" politicamente. O comitê também está apurando uma possível conexão entre o assassinato e o extremismo islâmico e as ligações de Nemtsov na Ucrânia.

Documentos e arquivos de computador encontrados no apartamento do opositor no centro de Moscou foram recolhidos para ajudar na investigação. Há certo consenso, porém, de que qualquer conclusão sobre o caso levará tempo. E poucos na Rússia acreditam que os mandantes do crime serão de fato identificados.

Publicidade

Os críticos sustentam que a polícia de Moscou pode até prender quem aperta o gatilho, mas quase nunca identifica as cabeças por trás de assassinatos como o de Nemtsov. Em 2006, por exemplo, a jornalista investigativa Anna Politkovskaya foi morta no centro da capital russa. Seus assassinos foram encontrados e presos - mas até hoje não se sabe quem ordenou o crime.

Assassinato de Nemtsov choca comunidade internacional
Video Player

"As imagens das câmeras de segurança que devem ter filmado os assassinos de Boris (Nemtsov) provavelmente seriam suficientes para um longa metragem. Mas estou certa de que os personagens desse filme nunca serão identificados ou julgados", escreveu no Facebook a jornalista russa Aider Muzhdabae.

Muitos também acreditam que a morte de Nemtsov poderia estar relacionada, ainda que indiretamente, a acontecimentos recentes no leste da Ucrânia.

Uma das teorias é que nacionalistas russos que lutaram na região, ao retornarem a Rússia, endurecidos pelo conflito e exaltados pela propaganda oficial, poderiam querer eliminar aqueles que veem como inimigos da "nova Rússia".

A posição política de Nemtsov - liberal e pró-Ocidente - era vista como contrária a visão de país desses nacionalistas.

Publicidade
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações