Nacionalismo de ucranianos ressurge nas ruas de Kiev

Jovens cantam gritos de "glória à Ucrânia" e posam ao lado de pôsteres de líderes nacionalistas

29 jul 2014 - 11h01
(atualizado em 30/7/2014 às 08h06)
Pôsteres do controverso líder nacionalista ucraniano Stepan Bandera são vistos na praça central de Kiev
Pôsteres do controverso líder nacionalista ucraniano Stepan Bandera são vistos na praça central de Kiev
Foto: Sandro Fernandes / Especial para Terra

A praça central de Kiev, na Ucrânia, foi durante três meses o principal palco de protestos contra a decisão do governo ucraniano em não assinar um acordo de aproximação com a União Europeia e, posteriormente, contra os casos de corrupção envolvendo o presidente Viktor Yanukovich e seus aliados.

Os manifestantes da Maidan – ou Euromaidan, como a praça ficou conhecida – conseguiram que Yanukovich deixasse o poder, em fevereiro deste ano. A insatisfação generalizada uniu pessoas de diferentes filiações partidárias e ideológicas, mas deixou uma pergunta na praça: qual é a nova luta da Maidan?

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No início deste ano, começaram a aparecer na praça de Kiev pôsteres do controverso líder nacionalista ucraniano Stepan Bandera, que lutou pela independência da Ucrânia na metade do século XX e manteve relações minimamente questionáveis com a Alemanha nazista.

Os pôsteres continuam na praça e o ressurgimento do nacionalismo ucraniano pode ser visto pelo local. Turistas fazem fotos e poses de gosto duvidoso em frente a um imenso pôster de Bandera. Frases anti-Rússia e anti-Putin também estão por todos os lados.

“Eu acho importante a gente vir aqui [em Maidan] e sentir a emoção dos nossos heróis da praça. Muitos foram mortos lutando por cada um de nós, como Bandera”, contou Valya Strokina, professora de educação infantil “de uma cidadezinha perto da fronteira com a Rússia”. Stepan Bandera foi morto pela KGB (serviço secreto soviético) a mando do então líder Nikita Kruschev.

“Glória à Ucrânia!”, entoa em um outro canto da praça um grupo de jovens. Um deles se aproxima da reportagem do Terra, pede a identificação – como se ele tivesse autoridade para tal – e começa a responder a perguntas ainda não feitas.

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“Queremos um Estado que seja puramente ucraniano. Sou patriota, sou nacionalista. Nossa juventude precisa conhecer sua identidade”. Denis – que mudou o tom agressivo ao saber que a equipe era brasileira – tem 20 anos, não estuda, não trabalha e não namora. “Eu estou aqui por um ideal. Não queremos russos aqui. Não queremos pessoas de fora. Você está aqui trabalhando, mas logo vai voltar para o seu país. Mas você nota que você é diferente, não nota?”, pergunta o jovem, fazendo menção ao cabelo enrolado do repórter.

Uma menina da mesma idade logo se aproxima. “Posso sair na entrevista também?”. Sem saber muito o que falar, ela apenas repete o “Glória à Ucrânia”, de maneira delicada, quase sem jeito, e ergue o braço com o punho fechado.

Ao serem perguntados por que eles cobrem o rosto, os dois jovens se entreolham e Denis apenas responde: “Bem, os nossos líderes querem que seja assim. Acho que toda milícia cobre o rosto, não?”.

O coordenador do projeto No Borders (Sem Fronteiras, em tradução livre), Maksim Butkevich, acredita que os grupos de extrema-direita cresceram em popularidade durante os protestos da Euromaidan. Butkevich trabalha em uma ONG que luta contra a xenofobia e analisa que “a ideia nacionalista na Ucrânia agora é mais aceitável e, de certa maneira, mais mainstream para pessoas que nem sabiam o que era isso”. 

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Fonte: Especial para Terra
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