'Não venham à Itália', alertam imigrantes em anúncio

Comercial da Lega Nord mostra imigrantes da Índia, Paquistão, Sri Lanka, Angola e Marrocos advertindo sobre crise no país

23 mai 2014 - 09h03
Partidários da Lega Nord fazem propaganda para Parlamento Europeu
Partidários da Lega Nord fazem propaganda para Parlamento Europeu
Foto: Marcelo Crescenti / BBC News Brasil

O partido italiano Lega Nord lançou uma propaganda de TV com imigrantes que alertam seus conterrâneos para os problemas da Itália. O objetivo é desestimular a imigração e também arrebanhar os votos dos eleitores de extrema-direita.

A Lega Nord concorre às eleições para o Parlamento Europeu com uma campanha contra o euro e também contra o crescente número de imigrantes econômicos no país.

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Cinco estrangeiros, provenientes de Índia, Paquistão, Sri Lanka, Angola e Marrocos, advertem na peça publicitária que a Itália é um país "pobre" e sem perspectivas para quem vem de fora em busca de melhores condições de vida.

A ideia foi de Angelo Ciocca, conselheiro regional na província da Lombardia e candidato do partido nas eleições para o Parlamento Europeu, em curso até domingo em 28 países da União Europeia.

"Meus conterrâneos, lhes digo de coração: não venham à Itália passar fome", diz um deles. "Este país está passando por uma gravíssima crise", afirma outro. "A Itália é junto com Espanha e Grécia um dos países mais pobres da Europa." Segundo Ciocca, os anúncios deverão ser mostrados nos países de origem dos imigrantes.

No entanto, o objetivo da campanha é claramente o eleitorado italiano, analisa Duncan McDonnel, professor de ciências políticas no Instituto Universitário Europeu em San Domenico di Fiesole, perto de Florença.

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"Com isso (o partido) Lega quer insinuar que nem os imigrantes querem mais estrangeiros no país", diz o especialista em política italiana.

Separatista

A Lega Nord quer separar o norte da Itália do sul do país e é um partido conhecido por referências polêmicas a estrangeiros e imigrantes.

No ano passado o deputado Roberto Calderoli provocou indignação ao comparar a então ministra da integração, Cecile Kyenge, a um orangotango. Kyenge tem raízes africanas.

O partido também é contra a operação "Mare Nostrum", que salva refugiados que tentam chegar à Itália atravessando o mar Mediterrâneo, e quer a saída da Itália da zona do Euro.

A Lega Nord coopera com o partido francês Front National, também de extrema-direita.

A posição de partido "eurocético" é oportunista, disse Duncan McDonnel à BBC Brasil: "No passado a Lega Nord sempre foi a favor da União Europeia, e seu programa não requer a saída do bloco".

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Partidários da Lega Nord fazem propaganda para Parlamento Europeu
Foto: Marcelo Crescenti / BBC News Brasil

O analista político diz que o tema principal da Lega Nord é mesmo a imigração: em uma enquete feita por ele há alguns anos em uma convenção do partido, mais de 70% dos entrevistados citaram a política anti-imigração como a principal bandeira do partido.

A propaganda anti-imigração faz parte do esforço do partido de recuperar a influência perdida no panorama político italiano, diz McDonnel. No passado a Lega Nord chegou a fazer parte do governo e receber mais de 10% dos votos.

No entanto, depois de escândalos de corrupção envolvendo, entre outros, o chefe do partido, Umberto Bossi, a popularidade da agremiação política caiu. Pesquisas atuais mostram que no momento a Lega Nord tem apenas cerca de 5% das intenções de voto.

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