Novo rei da Espanha terá grandes desafios, diz analista

Felipe terá de enfrentar o descontentamento público com as intituições espanholas e uma crise econômica que já dura anos

18 jun 2014 - 13h55
<p>Felipe, o príncipe herdeiro da Espanha, acena para jornalistas antes de uma reunião com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, em Santiago, em 10 de março</p>
Felipe, o príncipe herdeiro da Espanha, acena para jornalistas antes de uma reunião com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, em Santiago, em 10 de março
Foto: Reuters

O príncipe Felipe enfrentará grandes desafios ao se tornar oficialmente o rei da Espanha a partir desta quinta-feira.

Alguns deles são consequência da grave crise econômica dos últimos seis anos, que resultou em grandes dificuldades e desigualdade crescente no país.

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Seu pai, Juan Carlos, já havia admitido no discurso de abdicação ao trono que a crise - da qual a Espanha, só agora, está lentamente se recuperando - causou ferimentos profundos, que não serão superados de uma hora para a outra.

Assim, a tarefa mais importante do futuro rei será ajudar a sociedade espanhola a superar este doloroso legado.

A crise também abasteceu o descontentamento público com as principais instituições espanholas, que enfrentam questionamentos sem precedentes, e muitos temem que somente a recuperação econômica não será capaz de reconquistar o apoio do público.

O próprio Juan Carlos reconheceu tal fato, dizendo que sua abdicação significa abrir espaço para as "transformações" e "reformas" que as atuais circunstâncias exigem.

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Crise na Catalunha

Como seu pai, o futuro rei terá poderes políticos limitados, e a recuperação da imagem do sistema político dependerá dos principais atores políticos.

No entanto, a Constituição de 1978 estabelece que a monarquia "arbitra e modera o funcionamento regular das instituições", o que deve permiti-lo pressionar líderes políticos a deixarem as diferenças de lado e buscar respostas criativas para problemas aparentemente sem solução.

O futuro rei não possui um mandato político para realizar alterações e, claro, não pode prejudicar o governo democraticamente eleito da Espanha, mas ele ainda quer exercitar o seu direito de ser consultado para apoiar e alertar.

O desafio político mais sério a ser enfrentado por ele será a decisão do governo da Catalunha de realizar um referendo sobre a independência da região no dia 9 de novembro. O governo espanhol e a Corte Constitucional classificaram o processo como ilegal.

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Felipe - que fala catalão e conhece bem a região - pode ter uma atuação discreta em ajudar os líderes políticos a encontrarem uma maneira para superar a crise.

O caso poderia levar a uma crise institucional sem precedentes se autoridades da Catalunha tentarem uma declaração unilateral de independência.

Novos esforços para acomodar nacionalistas, incluindo catalães, dentro do Estado espanhol são esperados, e devem exigir uma reforma constitucional.

Foto: BBC News Brasil

Prestígio em queda

No curto prazo, no entanto, o maior desafio do novo monarca será reformar o papel e o estilo na própria monarquia espanhola.

O prestígio da instituição foi afetado pela atual investigação sobre as atividades financeiras do cunhado de Felipe, Iñaki Urdangarin, o que forçou o príncipe a ter contato limitado com sua irmã Cristina.

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A investigação em si prova que ninguém é acima da lei na Espanha, mas ainda não se sabe se será capaz de causar mais estragos à imagem da monarquia no futuro.

Acima de tudo, o escândalo trouxe à tona a importância de garantir que a família real funcione de forma mais transparente.

Felipe 6º também terá de se aproximar de setores da sociedade espanhola cada vez mais indiferentes ou hostis à monarquia.

O futuro rei pode ser menos espontâneo e caloroso que seu pai, mas ele é esforçado e disciplinado, e será o primeiro monarca espanhol com um diploma universitário.

No atual clima, estes atributos certamente o colocarão em uma posição favorável sob os olhos de seus conterrâneos.

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