A Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), acusada no ano passado de ter interceptado o celular da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, aparentemente também realizou atividades de espionagem no governo do seu antecessor, Gerhard Schröder (1998-2005).
Segundo investigações do diário Süddeutsche Zeitung e da rádio NDR, Schröder, do Partido Social-Democrata (SPD), foi vigiado pelos serviços secretos americanos pouco antes da Guerra do Iraque, em 2003. A publicação indica que, no máximo em 2002, a NSA incluiu o ex-chanceler federal numa lista de instituições e pessoas a serem monitoradas, chamada de National Sigint Requirement List, sob o número 388.
Citando fontes do governo americano e colaboradores da NSA, o jornal afirma que o motivo para os EUA terem espionado Schröder foi sua postura contrária à guerra, além da preocupação de Washington com um racha na Otan. "Tínhamos razões para acreditar que [Schröder] não contribuía para o sucesso da aliança", disse um informante que tinha conhecimento da ação, citado pelo Süddeutsche Zeitung.
"Não me surpreende"
Sobre as suspeitas, Schröder disse que, antes da divulgação do esquema de espionagem dos EUA pelo delator e ex-agente da NSA Edward Snowden, "não conseguia imaginar" a vigilância maciça dos americanos. "Naquela época, eu não teria desconfiado de que estava sendo espionado. Hoje isso não me surpreende mais", afirmou.
O vice-líder da bancada social-democrata no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), Rolf Mützenich, pediu explicações aos EUA sobre a espionagem. "As relações transatlânticas não podem ser mais minadas por uma desconfiança crescente", afirmou o parlamentar.
Já Konstantin von Notz, vice-líder da bancada do Partido Verde, disse acreditar que outros políticos alemães do alto escalão tenham sido espionados pela NSA. "As mais recentes revelações jornalísticas confirmam suspeitas que pairam no ar há muito tempo", declarou ao jornal Handelsblatt. "Aparentemente, o alvo da vigilância não foi só a comunicação de Angela Merkel, mas também a de outros políticos importantes", constatou, reiterando ainda não ter havido esclarecimentos do próprio governo alemão sobre a espionagem.
O deputado do Partido Verde Hans-Christian Ströbele, que recentemente se encontrou Snowden em Moscou – onde este tem asilo temporário – confirmou as denúncias. Segundo Ströbele, também o ex-ministro do Exterior Joschka Fischer teria sido alvo de monitoramento pelos serviços secretos americanos.
Ocupante do cargo era espionado
Segundo a imprensa alemã, as novas denúncias também se baseiam em um documento divulgado por Snowden. O documento cita o ano de 2002 como o marco inicial da vigilância americana no país europeu, além do nome de Merkel.
Até agora, a interpretação dessas informações era que o celular da chanceler federal teria sido monitorado pela primeira vez em 2002, época em que Merkel era líder do partido conservador CDU, então na oposição.
Mas pessoas ligadas à NSA deram uma nova explicação: o monitoramento não visava a pessoa, mas o ocupante do cargo de chanceler federal. Portanto, Schröder teria sido espionado inicialmente e, mais tarde, Merkel.