O papa Francisco pediu em sua primeira mensagem de Natal "Urbi et Orbi" o fim das guerras na Síria e na África e condenou o tráfico de seres humanos, ao considerá-lo um crime contra a humanidade. A partir do balcão da Basílica de São Pedro, o primeiro papa latino-americano, que foi muito aplaudido ao aparecer vestido com um hábito branco em frente à multidão reunida na Praça de São Pedro, pediu paz para os homens e condenou as várias guerras que assolam o mundo.
"Continuemos a pedir ao Senhor que poupe novos sofrimentos ao amado povo sírio", declarou em sua primeira bênção de Natal como Papa. "Muitas (vidas) dilacerou, nos últimos tempos, o conflito na Síria, fomentando ódio e vingança", reconheceu o pontífice, que dedicou em setembro um dia mundial de oração quando um ataque americano a este país parecia iminente.
O papa argentino também pediu que o acesso à ajuda humanitária para a Síria seja garantido. O pontífice latino-americano se referiu especificamente às tensões que "ameaçam a convivência pacífica" do jovem Estado africano do Sudão do Sul, onde a ONU voltará a mobilizar suas tropas em algumas cidades ante os confrontos entre o exército e os rebeldes.
O temor de que o conflito sul-sudanês se agrave aumentou no domingo e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, advertiu que se for necessário tomará novas medidas para garantir a segurança dos cidadãos americanos depois que quatro soldados deste país ficaram feridos. Francisco também implorou para que a paz reine em vários países da África, entre eles a República Centro-Africana, "frequentemente esquecida pelos homens".
O papa jesuíta pediu negociações entre israelenses e palestinos e que sejam curadas "as chagas do amado Iraque, ferido ainda frequentemente por atentados". O chefe da Igreja católica advertiu que se deve evitar que a paz alcançada seja de "fachada, por trás da qual há contrastes e divisões".
"A verdadeira paz não é um equilíbrio entre forças contrárias", disse em sua breve e densa mensagem. "A paz é um compromisso de todos os dias, que se realiza a partir do dom de Deus, da graça que Ele nos deu em Jesus Cristo", completou.
O chefe da Igreja católica lembrou os deslocados e refugiados, especialmente no Chifre da África e no Congo, e condenou com firmeza o tráfico de seres humanos, que classificou de crime contra a humanidade.
"Ó Menino de Belém, tocai o coração de todos os que estão envolvidos no tráfico de seres humanos, para que se dêem conta da gravidade deste crime contra a humanidade", afirmou o pontífice latino-americano, que mencionou a tragédia na ilha siciliana de Lampedusa, onde quase 400 imigrantes ilegais se afogaram no início de outubro.
"Que nunca mais aconteçam tragédias como aquelas a que assistimos este ano, com numerosos mortos em Lampedusa", rogou o Papa argentino, filho de imigrantes italianos, cuja primeira visita oficial na Itália foi justamente a esta ilha italiana para dar alívio aos ilegais que arriscam sua vida atravessando em barcos o Mediterrâneo.
Em sua mensagem, pronunciada em italiano, lembrou as vítimas das catástrofes naturais e o "querido povo filipino", atingido pelo tufão Haiyan. Dirigindo-se aos católicos, mas também aos não crentes, o papa pediu para que pensem "nas crianças, que são as vítimas mais frágeis das guerras, mas (...) também nos idosos, nas mulheres maltratadas, nos doentes... As guerras dilaceram e ferem tantas vidas", comentou.
"Voltai o vosso olhar para as inúmeras crianças que são raptadas, feridas e mortas nos conflitos armados e para quantas são transformadas em soldados, privadas da sua infância", clamou o pontífice ante a multidão reunida.
Apesar do tempo cinza, milhares de romanos e turistas receberam na Praça de São Pedro de Roma a bênção papal "Urbi et Orbi". O toque de cor foi dado pelos peregrinos latino-americanos, assim como pelos guardas suíços, com seus trajes coloridos.
Previamente, na noite de terça-feira, Francisco celebrou na Basílica de São Pedro a tradicional Missa do Galo. Em sua primeira celebração do Natal, o papa argentino pronunciou uma homilia breve na qual a chegada de Jesus, celebrada hoje pelos católicos, foi o único tema.