Aliados de Silvio Berlusconi aumentaram a pressão sobre o instável governo de coalizão do primeiro-ministro italiano Enrico Letta, nesta quarta-feira, ameaçando derrubá-lo se o Senado aprovar a expulsão do ex-premiê por ter sido condenado por fraude fiscal.
O destino do governo de Letta está por um fio desde o mês passado, quando Berlusconi, líder da centro-direita, foi condenado pela Justiça por estar no centro de um esquema de fraude fiscal gigante em seu império da comunicação, a Mediaset.
Senadores do partido Povo da Liberdade (PDL), de Berlusconi, reuniram-se nesta quarta-feira para discutir táticas e disseram que o governo não poderia continuar se o Senado decidir retirar a cadeira parlamentar de Berlusconi. Quando lhe perguntaram se a expulsão de Berlusconi significaria o colapso do governo, o senador Altero Matteoli (PDL) respondeu: "Claro".
Há semanas, os defensores do bilionário magnata da mídia vêm alternando sinais conciliatórios com ameaças de deixar a coalizão de governo com a centro-esquerda, formada em abril, após o impasse que se sucedeu às eleições, na qual nenhum partido obteve votos suficientes para governar sozinho.
Os jornais italianos informaram nesta quarta-feira, sem citar fontes, que Berlusconi se tornou mais pessimista sobre suas chances de evitar a expulsão e está pronto para inviabilizar o governo. "Sempre foi difícil imaginar a cooperação entre partidos que têm posições diferentes em tantas questões", declarou à emissora SkyTG24 o vice-presidente do Senado, Maurizio Gasparri, político leal a Berlusconi.
Ele alertou que a centro-direita não poderia continuar a apoiar Letta se a comissão especial do Senado sobre elegibilidade parlamentar, que deve reunir-se na segunda-feira para analisar a possibilidade de expulsão de Berlusconi, tornar-se "um pelotão de fuzilamento político". A decisão definitiva ainda pode demorar porque o Senado terá de votar a questão da exclusão de Berlusconi em plenário.
As ações italianas, que têm oscilado fortemente nas últimas semanas, em razão das manchetes da imprensa sobre o iminente colapso do governo ou a sua sobrevivência a longo prazo, caíram 1,8 por cento, tendo os papéis da Mediaset uma queda maior, de 3,5 por cento.
Com a Itália ainda em recessão e lutando para conter sua dívida pública, as tensões trouxeram à tona a recordação dos tumultos que tomaram conta da zona do euro em 2011, quando o último governo de Berlusconi foi destituído em meio a temores de uma crise da dívida em estilo grego.