Partido Aurora Dourada cria rede de médicos neonazistas na Grécia

16 fev 2013 - 10h04
(atualizado às 10h32)

O partido neonazista Aurora Dourada aproveitou a deterioração do sistema sanitário da Grécia para criar a rede "Médicos com Fronteiras", que oferece atendimento exclusivamente a gregos de "raça pura".

Os cortes orçamentários e os cinco anos consecutivos de recessão levaram a uma crise na rede de saúde, o que fez surgir iniciativas solidárias de atendimento médico. Aos projetos das ONGs e grupos sociais se somou agora nada menos que o Aurora Dourada, que acaba de iniciar consultas na sede central do partido para pessoas que ficaram sem plano de saúde, com a diferença que os neonazistas só atendem a nacionais.

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"Nossos serviços estão disponíveis apenas para os gregos de nascimento", explica sem rodeios Evguenía Jristu, responsável pelo centro, em declaração à Agência Efe. Isso significa que nem sequer as pessoas naturalizadas gregas e os imigrantes com documentos têm direito a tratamento.

O funcionamento é simples: um médico na sede do partido examina os pacientes e os encaminha a um especialista que depois oferece assistência em seu próprio consultório. "Criamos uma rede de 150 médicos que atendem o povo de graça", assegura Jristu, números difíceis de contrastar porque nenhum médico parece disposto a reconhecer publicamente que só trata de gregos gratuitamente.

Longe de se limitar a criar uma rede de assistência para os gregos de "raça pura", os grupos de choque ligados ao partido já fizeram várias "operações" em hospitais contra estrangeiros. Há uma semana, 30 "camisas negras" entraram no hospital regional de Trípoli, 150 quilômetros ao sul de Atenas, e exigiram informação, documentação e licença de trabalho às enfermeiras de origem estrangeira.

O comando acabou expulsando à força quatro pessoas que não quiseram ou não puderam apresentar documentos. No dia seguinte, a diretora, Eleni Siuruni, explicou em entrevista coletiva com o Aurora Dourada que concorda com a crítica do partido de que nos hospitais há estrangeiros imigrantes ilegais contratados por alguns pacientes como enfermeiros e cuidadores particulares, dado o fraco serviço de saúde do país.

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Eleni foi demitida, mas muitos médicos que dedicam seu tempo livre a dar cobertura gratuita aos necessitados se queixam da permissividade governamental em relação às atividades do partido neonazista."O problema não é o que eles (partidários do Aurora Dourada) fazem, mas o que se permite que façam. Isso é que tem que acabar", denuncia à Efe Nikitas Kanakis, presidente do Médicos do Mundo Grécia.

Um dia depois do incidente em Trípoli, um dos centros da ONG em Pérama, um bairro do Pireo, recebia a "visita" de simpatizantes do Aurora Dourada. "Era um exército de cerca de 50 a 60 pessoas. Foi uma demonstração de força", explica Kanakis, acrescentando que os neonazistas fizeram ameaças contra a rede solidária.

Kanakis promete que seus médicos não se deixarão intimidar: "Continuaremos oferecendo serviço a todas as pessoas, não importando se têm permissão de residência ou não têm documentos. Não temos medo".

Embora o Aurora Dourada não seja um partido novo - começou sua atuação nos anos 1980 - a crise favoreceu sua ascensão e nas últimas eleições chegou a 7% dos votos e 18 cadeiras no Parlamento. Atualmente, as enquetes dão inclusive entre 10% e 12%, o que o tornaria a terceira força política do país.

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Apesar da evolução, o presidente de Médicos do Mundo não acredita que vá existir muitos médicos que aceitem participar da "Médicos com Fronteiras", por mais que os neonazistas queiram classificá-la de rede.

"É ridículo. Vai contra o juramento de Hipócrates e contra a lei. E é uma humilhação da ação humanitária", defende, alfinetando: "Bom... até nos campos de concentração nazistas havia médicos. Até Mengele era médico".

  
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