Policial morto em atentado de Paris vira herói nacional

"É a prova trágica de que os muçulmanos não estão sendo poupados", publicou um blogueiro muçulmano no Twitter

9 jan 2015 - 16h18
(atualizado às 17h10)
Policial muçulmano foi morto em ataque terrorista nesta quarta-feira
Policial muçulmano foi morto em ataque terrorista nesta quarta-feira
Foto: Twitter

Flores na delegacia, mensagens no Twitter: Ahmed Meraber, policial francês de origem argelina morto brutalmente na frente da sede do jornal Charlie Hebdo depois do ataque terrorista de quarta-feira recebeu inúmeras homenagens e foi descrito como um homem bom e justo pelos colegas.

Essas homenagens simbolizam a solidariedade da sociedade francesa, apesar de temores de uma possível explosão de preconceito contra muçulmanos. Neste contexto, a maioria dos líderes religiosos condenou com firmeza a chacina.

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Vasos foram colocados na entrada da delegacia para que cidadãos pudessem colocar flores. Uma mulher chega na frente do edifício e faz o sinal da cruz, enquanto um homem deixa uma mensagem no livro de pêsames.

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"Era o mínimo que podia fazer", conta Bertrand, depois de por uma rosa branca dentro de um vaso.

Ahmed tinha 40 anos. Ele foi abatido friamente enquanto estava caído no chão, ferido, logo depois da saída dos jihadistas da redação de Charlie Hebdo, onde acabavam de matar 11 pessoas durante um reunião de pauta.

Bertrand está segurando outra flor, que será colocada na frente da frente da sede do semanário.

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"Liberdade", "toda a nossa compaixão"... No livro de pêsames, as mensagens mostram toda a emoção de anônimos diante da "coragem excepcional" desse homem, nascido em 1974 de pais argelinos, e morto supostamente por dois homens da mesma origem, que se gabaram de "vingar o profeta".

"É a prova trágica de que os muçulmanos não estão sendo poupados", publicou o blogueiro muçulmano ortodoxo Fateh Kimouche.

Muitos muçulmanos da França vivem com medo de sofrer preconceitos da parte de extremistas e deixam claro que atos terroristas são apoiados apenas por uma pequena minoria. Além de Ahmed, outra pessoa de origem norte-africana foi vítima do ataque, Mustapha Ourrad, revisor de Charlie Hebdo.

No Twitter, a hashtag #JeSuisAhmed começou a aparecer, a reboque do lema #JeSuisCharlie.

"O Islã é uma religião de paz e o terrorismo não tem religião", afirma um internauta. "Assassinado covardemente por terroristas, este heróis muçulmano não será esquecido", garante outro.

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As homenagens atravessaram as fronteiras. O tabloide britânico Daily Star resolveu estampar na sua capa desta sexta-feira o rosto sorridente de Ahmed, com a manchete "Herói policial muçulmano executado pelos irmãos terroristas".

"O verdadeiro muçulmano é aquele que, com usando a farda, tentava proteger os cidadãos", insiste Pascal Popelin, deputado de um distrito popular do subúrbio de Paris, que conheceu Ahmed Merabet em 2006.

"Fiquei impressionado com este rapaz extremamente motivado e apaixonado pela profissão, que realmente mostrava o desejo sincero de ser policial e servir a seu país", acrescenta.

Ahmed acabava de passar uma prova para virar oficial de polícia judiciária. Iniciou sua carreira no subúrbio da capital, continuava morando, na cidade de Livry-Gargan.

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Nesse município, situado a 12 quilômetros ao nordeste de Paris, próximos se reuniram na frente do domicílio familial, onde foi instalada uma tenda branca. Velas apareciam nas janelas das casas vizinhas, iluminando as casas inteiras.

"Perdemos um brother, um cara com quem a gente cresceu", declarou um dos amigos de Ahmed. "Ele era francês antes de tudo, isso é o mais importante. Ele era bom e justo, e morreu fazendo seu trabalho. A ficha ainda não caiu", resumiu.

"Ele cresceu aqui, sua família vive na nossa cidade há muito tempo, todo mundo está chocado", lembra o prefeito de Livry-Gargan, Pierre-Yves Martin.

O vídeo do policial levando um tiro no rosto, que circulou na internet e em toda a mídia internacional, chocou muito os próximos da vítima. "É indecente mostrar algo assim", lamenta um amigo.

Foto: Terra

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