Quando as primeiras moedas foram cunhadas na Ásia, há 2,6 mil anos, foi dado início a uma verdadeira revolução no comércio em escala mundial. Mas cada vez mais países e especialistas se perguntam: ainda faz sentido manter o dinheiro físico em circulação?
Aos poucos, esse questionamento leva a ações concretas, como na semana passada, quando o governo da Dinamarca anunciou que pretende dar fim ao uso de moedas e cédulas de dinheiro em lojas de roupas, postos de gasolina e restaurantes até 2016.
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Seu objetivo no longo prazo é tornar-se o primeiro país do mundo a eliminar a circulação de dinheiro físico.
A medida foi apresentada como parte de um pacote de propostas para fomentar a produtividade de negócios.
"A meta é cortar os consideráveis custos administrativos e financeiros envolvidos no uso de dinheiro", disse o governo dinamarquês.
Novos hábitos
Mas isso é de fato possível? No caso da Dinamarca, isso parece não só provável, como o governo parece estar em sintonia com os hábitos da população.
Todos os adultos do país têm um cartão de crédito, segundo a Comissão de Pagamentos dinamarquesa, e os pagamentos com dinheiro físico sofreram uma redução de 90% desde 1990. Hoje, apenas um quarto deles é feito desta forma.
Além disso, segundo uma pesquisa nacional, praticamente todos os pequenos negócios aceitam pagamentos com cartões e, em dois terços deles, isso pode ser feito com cartões internacionais.
Algo parecido vem ocorrendo no Equador, onde o governo do presidente Rafael Correa colocou em prática, em dezembro de 2014, um sistema de dinheiro eletrônico.
Um dos principais motivos era lidar com a exclusão financeira da maior parte de sua população - e o celular tornou-se uma ferramenta para isso.
"Cerca de 40% da população economicamente ativa não tem acesso a uma conta bancária", explica o economista Fausto Valencia, diretor do projeto equatoriano. Mas 100% dos domicílios tem um celular.
O sistema é administrado pelo Banco Central do Equador e permite realizar transferências entre usuários, compras e pagar passagens no transporte público. Em breve, também será possível pagar taxas públicas.
Seu funcionamento é simples. Uma conta é aberta com o celular, sem uso da internet, discando *153#. Ela pode ser recarregada em lojas, e as transações são feitas por meio de mensagens.
Valencia acredita que, no futuro, o dinheiro físico estará extinto. "Em países como Dinamarca ou Suécia, não levará muito tempo, porque não há problemas como pobreza e exclusão social como nós. Mas o dinheiro eletrônico é o futuro. Meus netos viverão em uma sociedade sem cédulas e moedas", diz.
Mesmo assim, ele reconhece que algumas barreiras ainda precisam ser superadas. "Nas áreas pobres do Equador, temos um problema de educação financeira que vamos combater com um processo de formação, para que os cidadãos aprendam a usar o sistema", afirma.
Custo
Mas quais são as reais vantagens do dinheiro eletrônico?
Moedas e cédulas têm um custo de produção, armazenamento, transporte, além de haver comissões para sacá-lo do banco.
Além disso, o Equador, por exemplo, precisa repor anualmente US$ 1,3 milhão (R$ 3,9 milhões) em dinheiro físico que se deteriora.
Ao México, custará quase um peso (R$ 0,20) para produzir cada um dos 1,32 milhões de cédulas que serão necessárias neste ano, segundo a revista Excelsior.
E seus habitantes gastarão quase 2,3 milhões de pesos com taxas relacionadas à obtenção de dinheiro físico, segundo um estudo da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos.
Segundo os pesquisadores Bhaskkar Chakravorti e Benjamín Mazzota, da Tuffts, cada americano passa 28 minutos por mês sacando dinheiro de caixas eletrônicos. E, todos os mexicanos juntos, gastam 48 milhões de horas por ano desta forma, segundo a mesma pesquisa.
Por fim, o dinheiro físico leva à evasão fiscal. O governo americano perde US$ 100 milhões por ano com pagamentos em dinheiro não declarados.
O dinheiro eletrônico ainda é mais ecológico. Valencia, do Banco Central do Equador, alerta para o custo ambiental do dinheiro físico, não só por sua produção e transporte, mas também por causa dos documentos exigidos pela burocracia.
Por fim, o dinheiro físico é pouco higiênico. Em 2011, pesquisadores britânicos do Instituto BioCote chegaram à conclusão que tirar dinheiro em um caixa eletrônico deixa uma pessoa tão exposta a bactérias quanto usar o pior dos banheiros públicos.