Apoiados no parapeito da Pont des Arts, em Paris, João e Glauco se esforçam para encontrar um lugar livre na grade de metal da estrutura, que há muito tempo desapareceu sob uma cortina de cadeados.
Depois de dois anos planejando a viagem a Paris, o casal finalmente sela o seu amor com o que no início parecia moda, mas acabou tornando-se uma tradição da capital francesa, os “cadeados do amor”.
“Eu gostei muito porque os cadeados são dourados e isso dá mais beleza à ponte”, disse João, após registrar todo o ritual com sua máquina fotográfica.
Todos os dias, centenas de outros casais apaixonados repetem a tradição na esperança de eternizar o amor. A Pont des Arts tornou-se o maior símbolo deste romantismo, mas, se depender de duas americanas radicadas na capital francesa, a prática está com os dias contados.
Lisa Anselmo e Lisa Taylor Huff decretaram guerra ao que acusam de “vandalismo”. No fim de março, elas lançaram um abaixo-assinado para proibir os “cadeados do amor” em todas as pontes e monumentos da cidade - muitos deles tombados pelo patrimônio histórico e cultural.
O que, para muitos casais é romantismo, para as americanas não passa de depredação da paisagem de Paris, “privando os parisienses de qualidade de vida nos espaços públicos” e poluindo o rio Sena “com as milhares de chaves que são lançadas”.
Assunto polêmico
O debate sobre os cadeados nas pontes de Paris não é de hoje. No ano passado, um vereador parisiense já havia pedido a proibição da prática, alegando que o peso põe em risco a estrutura das pontes.
Tanto o prefeito anterior, Bertrand Delanöe, que ficou 12 anos no cargo, quanto sua sucessora, Anne Hidalgo, que tomou posse no sábado, evitam tomar partido de um dos lados. O silêncio oficial teria um só motivo: não manchar o marketing do romantismo que ajuda a atrair a Paris 16 milhões de turistas por ano.
O assunto é tão polêmico que nem quem ganha dinheiro com o costume arrisca um veredito. Phillipe Debecile , que vende cadeados por cinco euros (cerca de R$ 15) na Pont des Arts, se diz dividido.
“São toneladas de metal forçando diariamente a estrutura da ponte, o que certamente não é bom. No entanto, os cadeados já se tornaram um símbolo e atraem milhares de turistas para a ponte”, garantiu.
Até o fechamento desta reportagem, o abaixo-assinado das americanas já tinha recolhido quase 3.900 apoios. Para serem recebidas pela prefeita Hidalgo, sao necessárias outras seis mil.