O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, saiu consagrado como o grande vencedor na Itália das eleições europeias realizadas no domingo, após seu partido, o Partido Democrático (PD), arrebanhar 40% dos votos válidos.
Na avaliação de analistas, foi o primeiro grande teste para o premiê, que não chegou ao poder por votação popular. Uma manobra partidária o tornou sucessor do então primeiro-ministro Enrico Letta em fevereiro deste ano.
A Itália vem enfrentando significativa instabilidade política desde a eclosão da crise financeira, em 2008.
Além de contrariar as pesquisas eleitorais, que indicavam apenas 30% das intenções de voto ao PD, a vitória revela que a estratégia de Renzi tem o respaldo de uma grande parcela do eleitorado italiano.
O sucesso nas urnas também dá um grande cacife eleitoral a Renzi e promete maior estabilidade para o panorama político do país, acrescentam analistas.
O mercado parece ter gostado do resultado e a bolsa de valores de Milão, a principal do país, abriu em alta de 3% nesta segunda-feira.
Apoio ao governo
A Itália foi um dos poucos países europeus em que o governo saiu reforçado do pleito. Agora, Renzi promete continuar a reformar o sistema político e a economia da Itália. Ele quer mudar o sistema de votação italiano, diminuir a burocracia e baixar impostos.
Uma de suas promessas de campanha mais populares foi garantir 80 euros a mais na folha de pagamento para a faixa da população que ganha menos de 25 mil euros por ano. A proposta foi criticada e considerada "populista" pela oposição.
O resultado foi caracterizado de "tsunami eleitoral" pelo jornal italiano La Repubblica, segundo o qual as eleições dão uma "grande esperança" de estabilidade e prosperidade aos italianos. O jornal Il Messaggero aponta para o aspecto histórico do pleito, e diz que só em 1958 um partido teve uma votação tão expressiva - na época, o partido democrata-cristão recebeu 42% dos votos.
Além da 'prova de fogo' para Renzi, as eleições foram vistas na Itália como decisivas para as relações do país com a União Européia. A Itália está saindo lentamente de uma grave crise econômica, e a austeridade econômica imposta principalmente por países do norte europeu foi muito criticada na campanha.
Vários partidos chegaram a mostrar slogans nacionalistas, como "Mais Itália na Europa, menos Europa na Itália". No entanto, os eurocéticos não conseguiram convencer o eleitorado italiano.
É o que mostra, por exemplo, o desempenho da Lega Nord, partido separatista e eurocético de extrema-direita que se aliou à Front National francesa. O partido recebeu menos votos nestas eleições que no último pleito europeu: cerca de 6%, comparado com mais de 10% cinco anos atrás.
Perdedores
Na contramão do sucesso do PD, o grande perdedor das eleições foi o partido Forza Itália, do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, que abocanhou apenas 16% dos votos.
Depois de um racha interno e a condenação de Berlusconi por evasão de impostos, o ex-premiê italiano e seu partido de direita estão combalidos.
Os jornais italianos já dizem que Berlusconi poderá deixar o cargo de líder partidário e passá-lo para sua filha, Marina Berlusconi, atualmente na chefia da empresa de comunicações Mediaset, que pertence ao ex-primeiro-ministro. Ela não confirma nem desmente a notícia.
Outro perdedor do pleito é o comediante Beppe Grillo, fundador do partido de protesto Movimento 5 Estrelas. Em vez de superar o PD, como queria Grillo, o partido recebeu 4% a menos de votos que nas últimas eleições e acabou com cerca de 21%.
Agora, o polêmico Grillo diz que pode deixar a política. "Os italianos vão se arrepender; tiveram a chance de mudar o país, mas não o fizeram", disse o cômico, amargurado com o resultado.