Projeto estatal russo ajudou a financiar “Palácio de Putin”

A investigação da agência de notícias Reuters mostra ainda que dois aliados do líder russo se beneficiaram de contratos públicos no valor de quase 200 milhões de dólares

21 mai 2014 - 12h35
(atualizado às 12h36)

Uma grande propriedade no Mar Negro, supostamente construída para o presidente russo Vladimir Putin, foi parcialmente financiada por dinheiro de contribuintes vindo de um projeto hospitalar de 1 bilhão de dólares, indicou uma investigação da Reuters.

<p>O Kremlin negou que Putin, que está à frente do poder na Rússia como presidente ou primeiro-ministro desde 2000, tenha algo a ver com a propriedade construída no Mar Negro</p>
O Kremlin negou que Putin, que está à frente do poder na Rússia como presidente ou primeiro-ministro desde 2000, tenha algo a ver com a propriedade construída no Mar Negro
Foto: AFP

Embora a existência da propriedade seja bem conhecida, essa origem do financiamento não tinha sido revelada antes.

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Dois aliados do líder russo se beneficiaram de contratos públicos no valor de quase 200 milhões de dólares, de acordo com documentos alfandegários e transações bancárias examinadas pela Reuters.

Nikolai Shamalov e Dmitry Gorelov possuíam uma companhia de equipamentos médicos que fornecia produtos para um projeto hospitalar federal - iniciado por Putin - a preços que alguns especialistas consideraram inflacionados.

Shamalov e Gorelov, então, enviaram alguns dos ganhos para contas em um banco na Suíça, de acordo com os registros. Dessas contas, o dinheiro foi transferido para uma conta em Liechtenstein ligada à construção de uma luxuosa propriedade no Mar Negro popularmente chamada de “Palácio de Putin”, indicaram os mesmos registros.

Sergei Kolesnikov, um ex-colega de negócios de Shamalov e Gorelov, disse em 2010 que a propriedade foi construída para Putin. O Kremlin negou que Putin, que está à frente do poder na Rússia como presidente ou primeiro-ministro desde 2000, tenha algo a ver com a propriedade.

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O rastreamento do dinheiro emergiu em uma investigação da Reuters sobre como o Estado russo gasta recursos públicos. Em um projeto de saúde de 1 bilhão de dólares, anunciado por Putin em 2005, Shamalov e Gorelov atuaram como intermediários, de acordo com documentos obtidos pela Reters.

Esses documentos indicam que os dois homens possuíam uma companhia com sede no Reino Unido, chamada Greathill, e a utilizaram para comprar equipamentos médicos de alta tecnologia, a maior parte da empresa alemã Siemens AG. Eles então venderam o equipamento à Rússia com lucro.

Shamalov, ex-executivo de vendas da Siemens na Rússia, não respondeu a pedidos de comentários. Um porta-voz da Siemens disse que a companhia não estava a par de conexões de Shamalov com a Greathill. Já Gorelov disse que a operação de importação foi transparente e que a Greathill vendeu equipamento para a Rússia a preços aprovados por especialistas do governo.

Extratos bancários indicam que a Greathill transferiu 56 milhões de dólares a contas na Suíça após 2006, quando a Rússia começou a implementar o bilionário projeto de Putin para melhorar a assistência à saúde. Essas contas eram controladas por uma companhia chamada Lanaval, de acordo com registros bancários.

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Documentos analisados pela Reuters mostram que a Lanaval enviou 48 milhões de dólares para uma conta em Liechtenstein controlada pela Medea Investment, uma companhia registrada em Washington DC. A Medea é controla pelo arquiteto italiano Lanfranco Cirillo, que desenhou a propriedade do Mar Negro, segundo Kolesnikov.

Em um comunicado enviado por seu advogado, Cirillo disse que foi desginado para o trabalho por causa de sua experiência e habilidade profissional. Ele não respondeu sobre questões a respeito do financiamento nem de pagamentos feitos à Medea.

Um porta-voz de Putin não respondeu a perguntas sobre as alegações de Kolesnikov e as descobertas da Reuters.

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