O presidente russo Vladimir Putin desafiou nesta quarta-feira os americanos a apresentarem provas do envolvimento militar russo no leste da Ucrânia, mas foi conciliatório em relação ao novo presidente ucraniano, se dizendo pronto para encontrar e conversar com ele.
Em uma entrevista a dois meios de comunicação franceses, à rádio Europe 1 e ao canal de televisão TF1, também negou toda tentativa "de impor um nacionalismo russo ou de reviver o Império" russo.
Acusado recentemente por Washington de deixar passar "combatentes" e "armas" no leste da Ucrânia, região mergulhada em uma insurreição armada pró-Rússia, Putin lançou: "Provas? Que mostrem!"
"Temos visto, todo mundo viu, a forma como o secretário de Estado americano (Colin Powell) apresentou evidências da presença de armas de destruição em massa no Iraque", ironizou o chefe de Estado russo, referindo-se às acusações infundadas utilizadas em 2003 pelos Estados Unidos para justificar a intervenção militar contra Saddam Hussein.
"Afirmar é uma coisa. Ter provas, é outra. E eu repito: não há força russa, nenhum instrutor russo no sudeste da Ucrânia. Não houve nem há", disse Putin, enquanto os guardas de fronteira da Ucrânia informam regularmente a incursões de veículos de transporte de armas da Rússia.
No sábado, o presidente da república russa da Chechênia, Ramzan Kadyrov, também reconheceu que combatentes chechenos lutavam ao lado dos insurgentes pró-russos no leste da Ucrânia.
Questionado sobre sua relação com Barack Obama, com quem trava o maior impasse entre os Estados Unidos e a Rússia desde o colapso da União Soviética, Putin tentou acalmar os ânimos, a dois dias da cerimônia do 70º aniversário do Desembarque dos Aliados na Normandia (França).
"Eu espero que não entremos em uma nova fase da 'Guerra Fria", disse Putin, alegando não ter "razões para acreditar que o presidente Obama não quer falar com o presidente russo".
"É a sua escolha, eu estou pronto para o diálogo", acrescentou, antes de criticar a nova política externa dos Estados Unidos.
"Não é segredo que a política mais forte, mais agressiva, é a política dos Estados Unidos. Nós quase não temos forças militares no exterior e vejam: por todos os cantos do mundo há bases militares dos Estados Unidos, tropas americanas a milhares de quilômetros de suas fronteiras. Eles tomam parte nos assuntos internos de qualquer país, portanto, é difícil nos acusar de violação", declarou.
Questionado se ele irá cumprimentar o novo presidente ucraniano Petro Poroshenko na Normandia, Putin respondeu que "não pretende evitar qualquer pessoa". "Eu não pretendo evitar qualquer pessoa e falarei, é claro, com todo mundo", disse o presidente russo, que ainda não reconheceu formalmente o presidente eleito em 25 de maio.
"O governo ucraniano deve abrir um diálogo com o seu povo: isto não deve ser feito com tanques e aviões, mas através da negociação", ressaltou Putin, enquanto o Exército ucraniano realiza desde 13 de abril uma operação militar para tentar recuperar o controle das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk, na fronteira com a Rússia.
"Eu acredito que o Sr. Poroshenko tem uma oportunidade única: ele ainda não tem sangue em suas mãos, e pode suspender a operação punitiva e iniciar um diálogo direto com os cidadãos do leste e do sul do país".
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