No que aparenta ser uma mudança de postura da Rússia, o presidente Vladimir Putin disse nesta quarta-feira que a eleição presidencial da Ucrânia, marcada para o dia 25 deste mês, é um passo "na direção certa".
No entanto, ele afirmou que o voto não valerá nada se não vier acompanhado da proteção dos direitos de "todos os cidadãos".
"Eu gostaria de enfatizar que apesar de a ação estar na direção certa, os votos não vão decidir nada se todos os cidadãos da Ucrânia não conseguirem garantias de que seus direitos serão protegidos após a eleição", disse Putin.
As declarações foram feitas após líderes russos criticarem a votação. O chanceler Sergei Lavrov disse que fazer uma eleição durante a atual onda de violência seria "pouco usual", enquanto o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, classificou a ideia de "absurda".
Referendo
Putin também fez um pedido aos separatistas pró-Moscou na Ucrânia para que adiassem o referendo pela autonomia, marcado para este domingo, no sudeste e no leste da Ucrânia. Segundo ele, isso poderia ajudar a criar as condições necessárias para o diálogo.
O presidente sugeriu que as operações militares de Kiev no leste da Ucrânia poderiam ser suspensas, em troca do adiamento do referendo.
O primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, minimizou o apelo de Putin, dizendo que ele está "falando bobagem".
Putin fez o pedido após se reunir em Moscou com o presidente suíço, Didier Burkhalter, que preside atualmente a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Os organizadores do referendo em Donetsk - que prepararam cerca de 3 milhões de cédulas de votação - disseram que eles se reuniriam na quinta-feira para discutir o pedido de Putin.
"Putin definitivamente não é conhecido por voltar atrás em suas opiniões", disse o correspondente da BBC em Moscou, Steve Rosernberg. "Mas seus últimos comentários sobre a Ucrânia sugerem, uma mudança na posição do Kremlin - e isso cria esperanças de que haja uma solução diplomática para o conflito."
"O Ocidente provavelmente tratará esses comentários com cautela e esperar que efeito terá na prática. E ver se a nova posição do Kremilin vai ou não reduzir a escalada de tensão na área."
A Ucrânia rejeitou as demandas dos ativistas por mais autonomia, temendo que isso poderia levar a uma onda separatista no país. Kiev também enviou tropas, nas últimas semanas, para retomar prédios do governo que haviam sido ocupados por rebeldes.
Tropas
Em meio à tensão, Putin também disse que a Rússia havia retirado suas tropas da fronteira com a Ucrânia e as enviado para "locais de treinamento".
No entanto, a Otan disse que "não viu nenhuma mudança significativa na disposição das tropas ao longo da fronteira."
Mais no início do dia, forças de segurança ucranianas retomaram apenas por algumas horas a prefeitura da cidade portuária de Mariupol, no sudeste do país. Mas logo em seguida separatistas pró-Rússia retomaramo edifício.
Quando invadiram o prédio, as forças ucranianas prenderem 16 ativistas e os levaram para a delegacia local, o que culminou em um confronto violento entre parentes dos detidos e policiais, que atiraram para cima.
A tensão na região se intensificou desde que o forças apoiadas pelo Kremlin tomaram o controle da Crimeia, que em seguida votou, em março, para se unir à Rússia, em um referendo que Kiev e o Ocidente consideram ilegal.