Rússia responderá se interesses na Ucrânia forem atacados

O governo ucraniano ordenou a retomada da operação antiterrorista contra separatistas pró-Rússia no leste do país após a descoberta de corpos com sinais de tortura

23 abr 2014 - 10h31
(atualizado às 12h05)
<p>Lavrov acusou os Estados Unidos de dirigir as ações das autoridades ucranianas</p>
Lavrov acusou os Estados Unidos de dirigir as ações das autoridades ucranianas
Foto: AP

A Rússia advertiu nesta quarta-feira que responderá caso seus interesses na Ucrânia sejam atacados, num momento em que rebeldes pró-russos do leste da Ucrânia enfrentam uma operação militar antiterrorista lançada pelo governo pró-ocidental de Kiev.

A ameaça foi formulada pelo ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que lembrou a guerra de 2008 com a Geórgia, apenas algumas horas após os Estados Unidos anunciarem o envio de mais efetivos militares à Europa oriental.

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"Se nossos interesses, os interesses dos russos forem atacados diretamente, como ocorreu, por exemplo, na Ossétia do Sul (território separatista na Geórgia), não vejo outra forma de responder, de acordo com o direito internacional", declarou Lavrov à rede de televisão RT.

Em 2008, uma breve guerra opôs Rússia e Geórgia, após a qual Moscou reconheceu dois territórios separatistas pró-russos neste pequeno país do Cáucaso, Ossétia do Sul e Abecásia.

A Rússia reiterou ainda que o governo de Kiev tem que retirar suas tropas do leste da Ucrânia para tentar superar a crise neste país.

"A parte russa volta a insistir na (necessidade) imediata de diminuir a intensidade do conflito (...) no sudeste da Ucrânia, em uma retirada das unidades do exército ucraniano e no início de um verdadeiro diálogo interno no qual participem todas as regiões e formações políticas ucranianas", indicou o ministério das Relações Exteriores russo.

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Na terça-feira, 22, Washington anunciou que mobilizará 600 soldados na Polônia e nas repúblicas bálticas, um gesto destinado a mostrar seu compromisso com seus aliados da Otan quando crescem as tensões com a Rússia sobre a Ucrânia.

Já o presidente interino da Ucrânia, Olexander Turchynov, ordenou na noite de terça-feira a retomada da operação antiterrorista contra os separatistas do leste do país, após a descoberta de dois corpos com sinais de tortura.

"Os órgãos de segurança trabalham para liquidar todos os grupos que atuam em Kramatorsk, Slaviansk e outras cidades das regiões de Donetsk e Lugansk", afirmou nesta quarta-feira o vice-primeiro-ministro, Vitaly Yarema.

A operação havia sido suspensa no período de Páscoa, depois de ter se convertido em fracasso para as tropas ucranianas mobilizadas no leste do país: alguns tanques passaram para controle pró-russo e outros precisaram dar meia volta depois de serem bloqueados pela população.

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Lavrov também respondeu a esta situação nesta quarta-feira, acusando os Estados Unidos de dirigir as ações das autoridades de Kiev.

"Haviam anunciado a suspensão do que chamavam de 'operação antiterrorista', mas agora que (o vice-presidente americano) Joe Biden viajou a Kiev, dizem que a operação é reativada", afirmou o ministro russo à RT.

"Não tenho nenhuma razão para não acreditar que os americanos dirigem este espetáculo da maneira mais direta", lançou.

O anúncio da nova ofensiva antiterrorista foi feito poucas horas após o fim da visita de Biden a Kiev.

Vice-presidente dos EUA, Joe Biden, conversa com primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk, durante uma reunião em Kiev, em 22 de abril
Foto: AP

Após alguns dias de calma aparente, depois da assinatura em Genebra de um compromisso internacional sobre a Ucrânia, a tensão voltou com a crescente tomada de controle dos rebeldes da parte russófona no leste da Ucrânia.

"Os terroristas que tomam como reféns toda a região de Donetsk ultrapassaram a linha vermelha ao torturar patriotas da Ucrânia", havia afirmado o presidente ucraniano Turchynov ao anunciar a ofensiva. "Estes crimes são cometidos com o total apoio da Rússia", acusou.

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As ações contra os separatistas do leste do país foram ordenadas após a descoberta de dois corpos com sinais de tortura. Uma das vítimas é Volodymyr Rybak, um vereador da localidade de Gorlivka, "sequestrado recentemente por terroristas", afirmou o presidente.

"Segundo os dados da investigação, membros de um grupo separatista (pró-russo) que controlam a sede do Serviço de Segurança de Slaviansk participaram da tortura e do assassinato", indica o ministério do Interior da Ucrânia em um comunicado.

Slaviansk, cidade de mais de 100.000 habitantes ao norte de Donetsk, está controlada por homens armados, alguns deles encapuzados e portando uniformes sem insígnia. Converteu-se no reduto dos separatistas pró-russos do leste da Ucrânia.

A situação era tranquila na manhã desta quarta-feira em Slaviansk, onde homens encapuzados, aparentemente desarmados, montavam guarda diante da prefeitura, cercada de barricadas.

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O autoproclamado prefeito Viatcheslav Ponomarev - que pediu ao presidente russo Vladimir Putin que envie tropas para proteger os pró-russos - decretou um toque de recolher desde domingo, após um tiroteio que deixou ao menos três mortos.

Neste contexto, o secretário americano de Estado, John Kerry, expressou na noite de terça-feira ao seu colega russo Serguei Lavrov sua profunda preocupação diante da ausência de medidas positivas de Moscou para reduzir a tensão na Ucrânia.

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