Saiba as razões que podem levar a Rússia a invadir a Ucrânia

Há temores de que a Ucrânia e a Rússia possam entrar em conflito pelo controle da Crimeia

1 mar 2014 - 12h46
(atualizado às 12h50)
<p>Homens armados montam guarda no aeroporto de Simferopol, na região da Crimeia. Homens armados tomaram o controle de dois aeroportos na região da Crimeia nesta sexta-feira, 28, o que o governo da Ucrânia descreveu como uma invasão e ocupação por forças russas, levantando tensões entre Rússia e o Ocidente</p>
Homens armados montam guarda no aeroporto de Simferopol, na região da Crimeia. Homens armados tomaram o controle de dois aeroportos na região da Crimeia nesta sexta-feira, 28, o que o governo da Ucrânia descreveu como uma invasão e ocupação por forças russas, levantando tensões entre Rússia e o Ocidente
Foto: Baz Ratner / Reuters

A Rússia poderia intervir militarmente na região da Crimeia para garantir seus interesses estratégicos na região? Ou, colocando a pergunta de outra forma, as atitudes da Rússia até agora já são uma forma de intervenção?

Publicidade

Há temores de que a Ucrânia e a Rússia possam entrar em conflito pelo controle da Crimeia. A região de 2,3 milhões de habitantes é parte da Ucrânia, no litoral do Mar Negro, mas muitos lá se consideram russos étnicos e falam o idioma russo.

Na última eleição presidencial ucraniana, a população da Crimeia votou em peso em Viktor Yanukovych, político visto como pró-Rússia e que foi afastado no mês passado após semanas de protestos em Kiev.

Desde então, supostas milícias pró-Rússia invadiram o Parlamento regional da Crimeia, prédios públicos e o aeroporto de Simferopol, a capital da região.

Milícias treinadas

Publicidade

Ninguém sabe ao certo a identidade destes homens armados, mas seus equipamentos, veículos e comportamento dão sinais de que se trata de uma unidade militar treinada, e não apenas um grupo qualquer de ativistas pró-Rússia.

"Estes homens parecem um grupo organizado de tropas. Eles parecem ser disciplinados, confiantes, vestidos em uniformes e equipados", diz Ben Barry, militar especialista em combate terrestre do International Institute for Strategic Studies, entidade de pesquisa baseada em Londres.

A ocupação do aeroporto de Simferopol deu início a uma rotina previsível de ameaças da Rússia às autoridades interinas da Ucrânia. Unidades de combate aéreo foram colocadas na fronteira da Ucrânia e estão em estado de alerta. Exercícios militares foram imediatamente iniciados, demonstrando o preparo das forças russas.

Também houve ameaças econômicas, com o possível aumento de tarifas na fronteira dos dois países, e com retórica elevada de ameaças às minorias étnicas russas na Crimeia.

Publicidade

Tentação ocidental

Até agora, o cenário é parecido com a véspera da invasão russa à Geórgia, em 2008. Naquela ocasião, o Exército da Geórgia "fez um favor" aos russos, ao invadirem eles próprios o enclave da Ossétia do Sul, dando margem à resposta da Rússia.

Soldados armados, ao lado de veículos do exército russo, em frente a um posto de guarda de fronteira na cidade de Balaclava, na Crimeia, em 1 de março
Foto: Reuters

Mas as comparações se encerram aqui.

A Geórgia era um país pequeno que havia irritado profundamente o regime de Moscou, e nunca teria condições de responder a qualquer tipo de ação militar russa.

Muitos especialistas acreditam que uma invasão de grande escala de tropas russas, como aquela de 2008 na Geórgia, seria impraticável na Ucrânia agora.

Publicidade

Dado o tamanho da Ucrânia e as divisões internas da população, esse tipo de ação só poderia ter um desfecho: uma grave guerra civil.

A pressão russa neste momento tem um objetivo diferente.

O Estado da Ucrânia está perto da bancarrota. O país precisa de financiamento externo. O governo de Moscou sabe que as instituições financeiras do Ocidente precisarão assumir algum tipo de papel no país.

A Rússia quer deixar claro que o governo ucraniano depende tando de Moscou quanto da União Europeia, e que a Ucrânia precisa se equilibrar entre estas duas forças.

A conclusão russa é de que a Ucrânia precisa resistir à tentação de se aproximar da aliança militar ocidental Otan.

Homens armados não identificados bloqueiam a estrada até o aeroporto militar no porto do Mar Negro em Sevastopol, na Crimeia, em 28 de fevereiro
Foto: AP
Presença russa

Publicidade

A Crimeia é outro assunto. A Rússia sequer precisa invadir o local, pois já possui grande presença lá, alugando instalações junto ao governo ucraniano.

A maior parte da frota russa no Mar Negro está na Crimeia, com um quartel-general na cidade ucraniana de Sevastopol. Militares da Marinha da Rússia já entram e saem da cidade como se fosse um território russo.

Grande parte da população da Crimeia – talvez até mesmo a maioria – é de apoiadores da Rússia. A região abriga muitos militares russos aposentados, e fica geograficamente distante da capital Kiev.

A pressão russa é para que a Ucrânia tenha consciência de que os interesses de Moscou precisam sempre ser preservados em qualquer decisão tomada pelos ucranianos sobre seu futuro econômico e diplomático.

Publicidade

BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações