Separatistas pedem união à Rússia; UE tenta mediar crise

Insurgentes do leste da Ucrânia proclamaram sua "soberania" e pediram uma anexação à Rússia, como foi o caso da Crimeia em março

13 mai 2014 - 01h43
(atualizado às 01h43)
Desde domingo à noite, os separatistas de Donetsk reivindicam uma vitória do "sim" com cerca de 90%
Desde domingo à noite, os separatistas de Donetsk reivindicam uma vitória do "sim" com cerca de 90%
Foto: Reuters

Os separatistas do leste da Ucrânia pediram nesta segunda-feira a anexação de seu território à Rússia, aumentando a tensão na Ucrânia, em plena tentativa de mediação por parte da União Europeia. Menos de 24 horas após a realização de um referendo, no domingo, sobre a independência das regiões industriais de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, denunciado como "ilegal" por Kiev e pelos ocidentais, os insurgentes proclamaram sua "soberania" e pediram uma anexação à Rússia, como foi o caso da Crimeia em março.

"Nós, o povo da República Popular de Donetsk, declaramos que a república é agora um Estado soberano", disse à imprensa, Denis Puchilin, um dos líderes separatistas, lendo uma declaração. "Para restabelecer a justiça histórica, pedimos que a Rússia examine uma anexação da República de Donetsk à Federação da Rússia", acrescentou.

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Os resultados dessa consulta, ilegal sob o ponto de vista de Kiev e da comunidade internacional, não surpreenderam. Desde domingo à noite, os separatistas de Donetsk reivindicam uma vitória do "sim" com cerca de 90%. A aprovação foi ainda maior. Segundo os insurgentes de Lugansk, o índice chegou a 94%.

A Rússia ainda não reagiu ao pedido de anexação, que lembra o processo ocorrido na península da Crimeia. Mas Moscou pediu respeito "à expressão da vontade dos cidadãos das regiões de Donetsk e Lugansk", em uma atitude contrária à reação das capitais ocidentais que denunciaram a consulta como "ilegítima".

Neste contexto de tensão, a gigante do gás russo Gazprom ameaçou suspender o fornecimento de gás à Ucrânia, se o governo de Kiev não pagar em 3 de junho com antecedência sua conta do mês. "Nós sabemos que a Ucrânia recebeu dinheiro como parte de uma primeira parcela do empréstimo do Fundo Monetário Internacional" de 3,2 bilhões de dólares, desbloqueados na semana passada, ressaltou o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev.

A União Europeia (UE) decidiu nesta segunda adicionar 13 indivíduos e duas empresas à lista de pessoas físicas e jurídicas sujeitas a sanções, que já contava com 48 personalidades punidas desde o início da crise.

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O vice-chefe de gabinete do Kremlin, Viatcheslav Volodine, integra a nova lista, ao lado do general Vladimir Shamanov, comandante das tropas aerotransportadas da Rússia, e do dirigente separatista ucraniano Viatcheslav Ponomarev, prefeito autoproclamado de Slaviansk - bastião do movimento armado pró-russo - e envolvido na detenção de uma equipe internacional de inspetores militares da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).

O pedido dos separatistas é feito em plena tentativa de mediação dos europeus. Segundo a OSCE, o presidente russo, Vladimir Putin, "apoia" a mediação da Organização na tentativa de reduzir a tensão na Ucrânia.

"Em uma conversa por telefone", Putin declarou (ao presidente da OSCE, Didier Burkhalter) que a Rússia "apoia o plano e o compromisso da OSCE na Ucrânia", declarou a organização em um comunicado.

O suíço Didier Burkhalter apresentou o roteiro proposto pela organização para encontrar uma solução para a crise e indicou que um diplomata alemão experiente, Wolfgang Ischinger, vai representar a OSCE como mediador para estabelecer um diálogo entre as partes.

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O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, chegou nesta segunda-feira à noite em Kiev, onde se reunirá com o premiê Arseni Yatseniuk, em um sinal de apoio da UE às eleições presidenciais de 25 de maio. O chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, também é esperado na capital ucraniana na terça-feira.

"Nós não reconhecemos os chamados referendos de ontem (domingo). São ilegítimos e não têm credibilidade", declarou Van Rompuy durante uma coletiva de imprensa em Kiev. "As únicas eleições que nós iremos reconhecer serão as presidenciais de 25 de maio", acrescentou ele, indicando que a UE "está disposta a adotar medidas adicionais de grande alcance em várias áreas", caso a Rússia não ajude a acalmar as tensões.

Os Estados Unidos também denunciaram um "referendo ilegal" e instigador "da divisão e da desordem". De acordo com analistas consultados pela AFP em Moscou, a Rússia deseja utilizar o referendo como argumento em sua disputa com o Ocidente e Kiev, e não iniciar de fato um processo de anexação do leste da Ucrânia ao seu território.

Para alguns especialistas, Moscou, que chegou a defender a federalização da Ucrânia, "obteve uma nova ferramenta de pressão sobre Kiev". Enquanto isso, nos territórios que estão no centro da disputa entre Rússia e Ucrânia, o momento é de preocupação após o anúncio dos resultados do referendo.

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Em Donetsk, principal cidade da região industrial do Donbas, que inclui as regiões de Lugansk e Donetsk, não havia sinal de comemoração ou protesto nas ruas. "Esse referendo foi a nossa única maneira de mostrar que não concordamos com o poder de Kiev. Como podemos ficar felizes quando não sabemos como será o amanhã?", resumiu Dmytro Boiko, um motorista de táxi de 35 anos.

"Muitos de nós estão muito assustados com tudo o que está acontecendo e com o futuro. Nós não sabemos o que vai acontecer ou quem irá nos comandar, mas não podemos ficar de braços cruzados", acrescentou.

A ex-primeira-ministra e atual candidata à eleição presidencial, Yulia Tymoshenko, visitou Donetsk nesta segunda, em um sinal de apoio à unidade da Ucrânia. "Ninguém duvida que os referendos são uma farsa fabricada por Putin e o Kremlin", declarou.

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