Sessenta anos após sua morte, sombra de Stalin ainda paira sobre a Rússia

5 mar 2013 - 06h07
(atualizado às 06h13)

A sombra de Stalin é ainda muito presente na Rússia, que lembra nesta terça-feira o 60º aniversário de sua morte, dividida entre aqueles que o consideram um carrasco e os que querem reviver seu legado histórico.

"Dê-me o nome de um dirigente que não tenha sido um assassino, que não assinou penas de morte", afirmou à agência EFE Sergei Obukhov, deputado e um dos dirigentes do Partido Comunista da Rússia (PCR).

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Inatingíveis ao desalento, os dirigentes comunistas estarão presentes hoje na Praça Vermelha, assim como fazem todos os anos no dia 5 de março, para depositar flores no túmulo de Josef Stalin, aos pés do muro vermelho do Kremlin.

"É verdade, os soviéticos tiveram que pagar um preço alto (em vidas humanas) pelas grandes conquistas, mas o povo estava disposto a se sacrificar. Compare os avanços nas suas duas décadas no poder com os últimos 20 anos da Rússia", acrescentou o deputado.

Os comunistas acreditam que o atual presidente russo, Vladimir Putin, deveria agradecer a Stalin pelo potencial nuclear, pelo programa espacial, pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e, inclusive, pelo estado de bem-estar no país.

Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro Levada antes da efeméride, 49% dos russos considerou positiva a atuação do ditador soviético na vida do país, enquanto um terço se manifestou de forma contrária.

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Além disso, 55% dos russos consideram que a morte de Stalin em 1953 trouxe consigo o fim da era do terror e das repressões maciças, e a libertação de milhões de pessoas inocentes das prisões.

"Ao contrário dos alemães, os russos se negam a reconhecer sua culpa, por isso preferem esquecer que Stalin foi um criminoso. Não aprendemos nada do passado soviético", afirmou Nikita Petrov, historiador do centro de direitos humanos Memorial.

Segundo Petrov, a culpa reside "na negativa das autoridades russas de realizar uma avaliação não só política, mas jurídica, de Stalin e de um sistema totalitário que se sustentava exclusivamente na repressão de seu povo".

"O Kremlin mantém um jogo duplo: não faz propaganda stalinista, mas também não a proíbe. Os alemães, ao reconhecerem sua culpa pelo nazismo, conseguiram criar um estado democrático", destacou.

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Na mesma linha, Vsevolod Chaplin, porta-voz e um dos principais ideólogos da Igreja Ortodoxa Russa (IOR), disse que os crimes stalinistas "não podem ser justificados por nenhum motivo".

Chaplin também acrescentou que "é evidente que na época soviética, incluído o governo de Stalin, nosso povo realizou façanhas extraordinárias, alcançou uma grande vitória e conseguiu grandes avanços na ciência, tecnologia, indústria e economia, em geral".

"Stalin, o Grande" é o título do livro escrito pelo historiador espanhol Anselmo Santos, militar reformado que dedicou toda a sua vida pesquisando o tirano, que ele considera um "monstro e um assassino, mas também um gênio".

"Quando Stalin chegou ao poder encontrou um povo analfabeto e na mais absoluta miséria, e o educou e alimentou. Não esqueçamos que cinco milhões de russos tinham morrido na Primeira Guerra Mundial e sete milhões na guerra civil", afirmou à EFE.

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Santos acredita que sem a coletivização forçada da terra, que causou milhões de mortos, Stalin não conseguiria alimentar o povo nem o Exército Vermelho. O mesmo se pode dizer da industrialização: "transformou 25 milhões de parcelas em 250 mil cooperativas", acrescentou.

"Deve ter feito em dez anos o que a revolução industrial fez em mais de um século. Stalin realizou a maior operação logística da história ao transferir 2.500 fábricas, pedra por pedra, para os Urais. Isso sim é um milagre", disse.

O ex-militar espanhol reconheceu que Stalin foi mais bárbaro e cruel que a Inquisição, pois mandou matar quase um milhão de membros do partido durante os expurgos, mas também ressaltou que fez um grande favor ao mundo ao frear o avanço de Hitler, o que foi reconhecido pelo próprio Winston Churchill.

Aproveitando o 70º aniversário da batalha de Stalingrado, os comunistas pediram a volta desse nome à atual cidade de Volgogrado, apesar de 55% dos russos terem se manifestado contrários e só 23% a favor, segundo outra pesquisa do Centro Levada.

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O presidente russo, Vladimir Putin, condenou em 2007 as repressões soviéticas, especialmente as stalinistas, e pediu que a população não se esquecesse "do extermínio de classes inteiras, como o clero, o campesinato e os cossacos".

Na cidade georgiana de Gori, onde nasceu Stalin, a prefeitura informou à EFE que vai gastar US$ 15 mil na restauração do monumento ao ditador que foi retirado há dois anos.

Trata-se do maior monumento a Stalin em toda a antiga União Soviética (13 metros de altura) e será erguido este ano próximo ao museu do ditador, que hoje terá a entrada livre.

  
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