Simpatizantes do papa Francisco saíram em sua defesa após uma ex-autoridade do Vaticano realizar um ataque sem precedentes contra ele, em uma ação que disseram agravar perigosamente uma campanha para enfraquecer seu pontificado feita por conservadores que o veem como muito liberal.
Apoiadores de Francisco dizem que as acusações do arcebispo Carlos Maria Vigano em comunicado público de 11 páginas têm objetivo de abrir caminho para que um papa conservador seja seu sucessor e reverta suas aberturas para divórcios e católicos homossexuais.
Em comunicado publicado no fim de semana, Vigano, ex-embaixador do Vaticano em Washington, pediu para Francisco renunciar dizendo que o papa sabia há anos de atos sexuais impróprios cometidos por cardeais norte-americanos e não fez nada.
Vigano afirmou ter dito ao próprio papa há cinco anos, pouco mais de três meses após a eleição de Francisco. Ele não incluiu documentos apoiando suas afirmações no comunicado e não esteve disponível para comentários desde a publicação.
Em seu voo de volta da Irlanda no domingo, Francisco disse a repórteres que não iria "dizer uma palavra" sobre as acusações.
"Leiam os documentos cuidadosamente e julguem por si mesmos", disse.
Aliados do papa dizem que o comunicado contém buracos e contradições e destacam o fato de que Vigano escreveu o documento junto com um jornalista que tem sido crítico a Francisco como evidência de que o comunicado é parte de uma estratégia ideológica anti-Francisco, que o jornalista nega.
Ambos lados se preparam para o que veem como uma possível batalha sobre a busca de Francisco por uma Igreja mais inclusiva.
O cardeal Joseph Tobin, de Newark, disse que o comunicado é repleto de "erros factuais, insinuações e ideologia assustadora".
Apoiadores de Vigano na Itália e no exterior elogiaram o ex-diplomata como tendo seguido sua consciência.
"Vigano é um eclesiástico leal ... se ele está fazendo estas acusações agora, e está pedindo a renúncia de Francisco, é pelas razões mais graves", disse em email George Weigel, acadêmico sênior em estudos católicos no Centro de Políticas Públicas e Ética em Washington.
Conservadores basearam anteriormente seus ataques contra o papa em razões doutrinais. Agora, dizem seus apoiadores, eles elevaram as apostas ao acusarem o papa e outras autoridades do Vaticano e da Igreja de fracassaram pessoalmente em agir em casos de condutas sexuais impróprias.
O comunicado de Vigano, assinado em 22 de agosto, foi divulgado quatro dias depois por veículos da mídia conservadora durante a viagem do papa à Irlanda, onde abusos sexuais foram um tema central.
"Parece uma ação óbvia de conservadores para deslegitimar Francisco", disse David Gibson, diretor do Centro de Religião e Cultura da Universidade Fordham, em Nova York. "Esta coisa toda foi cautelosamente coordenada com a mídia católica conservadora e cuidadosamente cronometrada."
Gibson disse acreditar que conservadores estão abrindo caminho para que um deles seja eleito como o próximo papa ao danificar o legado de Francisco antes dele morrer ou renunciar.
"É o começo da campanha para o próximo conclave", disse.
O comunicado foi coescrito e editado pelo jornalista italiano Marco Tosatti, que publica um blog diário chamado Stilum Curie, que é crítico a Francisco.