O designer francês Lilian Lepère viveu momentos de tensão na última sexta-feira. Escondido dentro de um armário debaixo de uma pia na gráfica onde trabalhava, em Dammartin-en-Göele, nos arredores de Paris, ele acompanhou, durante oito horas, a movimentação dos irmãos Chérif e Saïd Kouachi, apontados como autores do ataque à redação do semanário satírico Charlie Hebdo.
Munido de um celular, ele passou, em tempo real, informações que se provaram essenciais à polícia – que, no fim daquele dia, invadiu o local e matou os atiradores.
Em entrevista à TV francesa, Lepère relembrou o temor de ser descoberto, a dificuldade de permanecer escondido em um espaço minúsculo durante tanto tempo e o alívio que sentiu com o fim da operação.
"(...)Então, ele voltou à geladeira, voltou ao lugar onde eu estava escondido e bebeu água na pia acima de mim. Eu consegui ouvir o barulho da água correndo em cima da minha cabeça porque minha cabeça estava colada junto ao sifão", disse o designer de 26 anos ao canal de TV francês France 2.
"Eu consegui também ver a sombra dele através da luz de uma pequena fresta da porta. Então eu mexi um pouco. Aquilo tudo era surreal, parecia cena de cinema", acrescentou ele.
Na entrevista, que foi ao ar na noite de segunda-feira em um dos principais telejornais do país, Lèpere aproveita para agradecer ao chefe, Michel Catalano.
Ele recorda que foi graças a Catalano que ele pode se esconder dos atiradores.
"Eu gostaria de agradecer-lhe porque foi ele quem me deu os segundos necessários para que eu pudesse me esconder. Se eles tivessem me descoberto, se fôssemos dois reféns ali dentro, talvez as coisas fossem diferentes, talvez eles nos retivessem até o fim", disse o designer.
"Foi a iniciativa dele de propor aos sequestradores um café do lado oposto onde eu estava escondido - esses segundos preciosos, se eu o visse agora, eu lhe agradeceria muito", acrescentou.