A televisão pública France 3 anunciou nesta terça-feira que divulgará amanhã um vídeo de 2011 no qual o então presidente líbio, Muammar Kadafi, diz ter financiado a campanha do presidente conservador francês Nicolas Sarkozy, que ganhou as eleições de maio de 2007.
"Se o presidente (Sarkozy) ganhar as eleições graças aos nossos fundos, é verdadeiramente uma vitória para nós", afirmou Kadafi à jornalista Delphine Minoui.
As declarações de Kadafi foram filmadas em Trípoli em 15 de março de 2011. Quatro dias depois, em 19 de março de 2011, aviões franceses abriram fogo contra as tropas de Kadafi dando começo a intervenção internacional militar que a Otan finalizou em 31 de outubro desse mesmo ano.
Kadafi morreu em 20 de outubro de 2011 pelas mãos de milicianos rebeldes líbios.
Seu tradutor e intérprete oficial, Moftah Missouri, confirmou à jornalista da France 3 que Kadafi "tinha entregado US$ 20 milhões para financiar a campanha" eleitoral do presidente conservador francês.
Sarkozy, que governou a França até maio de 2012, quando passou a faixa para o socialista François Hollande, visitou em julho de 2007 o coronel e líder líbio e o recebeu na França com todas as honras oficiais em dezembro desse mesmo ano.
O vídeo de Delphine Minoui e a lembrança de seu encontro com Kadafi fazem parte do programa Pièces à Conviction, que ilustra como o ditador líbio passou do estatuto de terrorista rejeitado pela comunidade internacional a interlocutor privilegiado de certos governos, antes de cair de novo em desgraça.
O programa explora especialmente os laços políticos e financeiros existentes entre França e Líbia de 2003 a 2011, quando começou a guerra, apoiada em uma resolução da ONU.
Em 2003, a ONU tinha suspendido as sanções impostas em 1992 ao regime de Kadafi por sua falta de cooperação na investigação sobre o atentado contra um avião da Pan Am em 1988.
As acusações sobre o financiamento ilegal da campanha de Sarkozy, que ele negou, não são novas: em 16 de março de 2011 um dos filhos do ditador, Saïf al-Islam, pediu que devolvesse "o dinheiro que aceitou da Líbia".
Em abril de 2012, o site francês Médiapart publicou um documento dos serviços secretos líbios, datado de dezembro de 2010, que provaria que Kadafi tinha financiado 50 milhões de euros da campanha de Sarkozy.
A procuradoria de Paris abriu em 19 de março de 2013 uma investigação para esclarecer se existem indícios de "corrupção ativa e passiva, tráfico de influência, falsidade e uso de falsidade, abuso de bens públicos, lavagem, cumplicidade e encobrimento" em relação a essas acusações.