A tão esperada trégua finalmente foi posta em prática no leste da Ucrânia, nesta quarta-feira, já que o Exército informou que não houve nenhuma morte em combate pela primeira vez em várias semanas, mas a notícia não conseguiu impedir o colapso da moeda do país, o que obrigou o Banco Central a proibir a maior parte dos negócios com a divisa.
Os militares ucranianos disseram que as últimas 24 horas foram o primeiro dia sem baixas em combate em várias semanas, mas a trégua deveria ter entrado em vigor bem antes, em 15 de fevereiro. Apenas um soldado ficou ferido.
Na região do extremo leste da Ucrânia que está sob controle dos separatistas os grupos rebeldes estavam retirando as armas pesadas da frente de combates. O governo ucraniano afirmou que ainda é muito cedo para fazer o mesmo.
No entanto, o seu reconhecimento de que a maior parte da frente estava tranquila sugere que também poderá implementar os termos da trégua, que parecia ter sucumbido quando os rebeldes lançaram uma grande ofensiva na semana passada.
A boa notícia da frente de batalha, recebida com cautela, surgiu em um momento de duras consequências econômicas para um país à beira da falência.
Com a sua moeda, a hryvnia, em queda livre, e os investidores fugindo do país, o banco central determinou a suspensão de compra de moeda estrangeira por parte de bancos, em nome de seus clientes, por toda esta semana.
O primeiro-ministro Arseny Yatseniuk declarou que a proibição é ruim para a economia. Ele disse que ficou sabendo da decisão pela Internet e exigiu uma explicação da presidente do banco central, Valeria Gontareva.
O banco central afirmou que a medida foi necessária para estabilizar a moeda em meio a demanda "infundadas" de divisas estrangeiras.
A decisão deixou o verdadeiro valor da moeda no limbo. Embora os bancos ainda possam negociar uns com os outros, ao meio-dia não havia operações registradas em nenhuma taxa de câmbio.
Pequenos negócios foram registrados no período da tarde em taxas elevadas, mas em volumes na casa das centenas de milhares de dólares que deram pouco sinal do verdadeiro preço em um mercado que normalmente movimenta centenas de milhões por dia.
Casas de câmbio em Kiev estavam vendendo quantidades limitadas de dólar por 39 hryvnias, uma paridade cerca de 20 por cento mais baixa do que as taxas anunciadas pelos bancos comerciais, onde dólares não estavam disponíveis.
Um trabalhador do setor da construção que trocava dólares em uma casa de câmbio em um mercado de alimentos, levando um saco cheio de milhares de notas de hryvnia, riu e disse aos demais compradores: "Em breve teremos de andar por aí com malas de dinheiro, como na década de 1990."
No dia anterior, a taxa do Banco Central com base em negociações informadas havia caído 11 por cento em relação ao dólar. A hryvnia perdeu pelo menos metade do seu valor até agora este ano, depois de ter sua cotação reduzida pela metade ao longo de 2014.
AVANÇO DOS SEPARATISTAS
A notícia de que não houve mortes entre as tropas ucranianas na frente de combates foi, de longe, o sinal mais inequívoco até agora de que a trégua mediada pela União Europeia está sendo mantida.
Os rebeldes tinham inicialmente rejeitado o cessar-fogo, insistindo que não se aplicava ao seu alvo principal, a cidade de Debaltseve, que invadiram na semana passada em uma de suas maiores vitórias da guerra.
Depois disso, o governo ucraniano vinha acusando os separatistas de reforçar suas posições para uma possível nova investida mais profunda em território que o Kremlin chama de "Nova Rússia". Mas, por enquanto, os rebeldes parecem determinados a mostrar que estão cumprindo o acordo.
Jornalistas da Reuters que operam de forma independente em território controlado pelos rebeldes viram colunas de armamentos sendo retiradas da frente em vários locais nesta quarta-feira.
(Reportagem adicional de Pavel Polityuk e Peter Graff em Kiev)