A cabine ou "cockpit" do Airbus A320 acidentado nos Alpes franceses é inacessível em caso de bloqueio interno de seus códigos, como aparentemente fez o copiloto responsável pela queda do avião da Germanwings contra os Alpes franceses, segundo revelaram nesta quinta-feira (26) os investigadores.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, nos quais vários terroristas suicidas conseguiram tomar o controle de quatro aviões que atingiram as Torres Gêmeas e o Pentágono, atualizaram os protocolos de segurança relativos à cabine.
A partir daqueles ataques, foram reforçadas as medidas de segurança para chegar à cabine desde onde são tomadas as decisões de voo, de modo que desde o interior é possível bloquear a porta.
"Antes tínhamos uma porta de cabine que era aberta desde fora e desde os atentados, os aviões estão equipados com portas de segurança", explicou um piloto aposentado com cerca 15 mil horas de voo e seis anos de experiência pilotando um Airbus A320, o modelo da companhia alemã Germanwings que caiu na terça-feira com 150 pessoas a bordo.
Desde 11/9, para entrar na cabine é preciso fazer soar um alarme. O comandante ou o copiloto verificam com uma câmera instalada fora que "não há nada estranho e acionam um interruptor para abrir a porta", segundo a fonte.
"Se forem feitas várias chamadas e na cabine não há resposta ao código de aviso, é possível introduzir um código de emergência e aos 30 segundos a porta se abre automaticamente. Mas na cabine é possível bloquear esse código" de modo que ninguém possa abrir a porta", acrescentou o comandante retirado.
O interruptor tem três posições (normal, bloqueada e desbloqueada) e o piloto e copiloto têm "controle absoluto" porque "não há uma abertura por controle remoto".
"O comandante e o copiloto, que dispõem de uma câmera na porta que enfoca quem está do lado de fora, são os que autorizam a entrada na cabine. Se estes bloqueiam a porta, ninguém desde fora do avião pode desbloqueá-la, nem o fabricante e nem a companhia aérea", confirmou um antigo engenheiro aeronáutico da Airbus.
Os aviões de companhias aéreas comerciais estão equipados com um machado e com uma alavanca de um metro de comprimento, para responder a eventuais incidentes, mas ambas ferramentas viajam na cabine, um compartimento similar em todos os aparatos da Airbus.
Segundo este engenheiro, a cabine é "similar à de um motorista de ônibus, mas com muitos mais botões", de modo que caibam duas pessoas separadas por um set de comandos.
"São todas muito parecidas -acrescentou-, iguais quase 99% para que quando uma companhia aérea forme um piloto no domínio de um A320, este também possa pilotar um A319 e um A321".
A comunicação com a torre de controle só é feita desde a cabine e, embora já haja aviões que estão incorporando internet com wifi para os passageiros, a 30 mil ou 35 mil pés de altura "não funcionam as comunicações com telefone celular", lembrou o comandante.
A legislação internacional estipula que os pilotos comerciais devem se submeter a um exame médico anual até os 60 anos e a cada seis meses dos 60 aos 65, idade máxima que podem trabalhar.
O que a aviação aprende com os acidentes aéreos
"Inclui um exame geral de corpo, taquicardias, eletrocardiograma, análise de urina e de sangue, análise de consumo de drogas e, às vezes, uma entrevista com um psiquiatra", descreveu o ex-piloto.
O A320 é o avião bandeira do fabricante aeronáutico europeu Airbus, com sede em Toulouse (França), e atualmente são operados no mundo todo 6.191 dessas aeronaves bimotores e de um só corredor que, em seu modelo mais habitual, tem capacidade para 150 passageiros e autonomia para 3.300 milhas náuticas (6.150 quilômetros).
Com 11.537 pedidos no total e 6.452 aparatos entregues desde seu voo inaugural em 1987, o A320 é atualmente o segundo avião mais vendido do mundo, só superado pelo Boeing 737 americano.
O acidente
O avião Aibus A320 da companhia aérea Germanwings caiu nesta terça-feira (24) na região dos Alpes franceses, perto da cidade de Barcelonnette, a cerca de 100 quilômetros ao norte de Nice. A aeronave carregava 144 passageiros e seis tripulantes. Segundo o presidente francês François Hollande, não há possibilidade de sobreviventes.
O voo 4U9525 saiu de Barcelona, Espanha, em direção à cidade alemã de Düsseldorf, e desapareceu após 46 minutos da decolagem, por volta das 11h locais, após emitir mensagem de socorro. Equipes de resgate foram encaminhadas ao local, de difícil acesso.