"A dor era insuportável." Foi assim que a universitária Resham Khan descreveu as queimaduras que sofreu após um ataque com ácido em 21 de junho em Londres, no Reino Unido.
Ela e seu primo Jameel Muhktar estavam em seu carro em um semáforo em Beckton, no leste da cidade. Voltavam da festa de aniversário de Resham. Ambos sofreram queimaduras no rosto e no corpo, e Muhktar, de 37 anos, ficou em coma induzido para que pudessem tratar suas feridas.
Apesar da situação devastadora e das consequências para toda a vida, Resham começou a usar as redes sociais como um diário de sua recuperação, enviando uma mensagem de esperança pela internet.
Em uma de suas publicações no Twitter, a jovem mostrou uma foto do estojo de maquiagem que tinha no bolso quando foi atacada, "Minha bela paleta de sombras destruída. Não que eu vá usar maquiagem no curto prazo", escreveu em tom irônico. Ela teve ferimentos no olho esquerdo e precisará de enxertos de pele.
Em outro post, a estudante de Administração disse que pretende lançar uma pequena empresa. Contou também que deveria começar um "novo trabalho com jovens de um programa de inclusão social", mas que não poderia em razão das lesões em sua perna.
Alguns responderam dizendo que ela já realizava um trabalho com esse mesmo espírito pela internet ao "inspirar milhares com sua resistência, educar os ignorantes e silenciar os críticos". Outro usuário chamou Resham de uma "super-heroína".
Determinação
Em uma mensagem nas redes sociais, a jovem acrescentou esperar "concentrar-se em melhorar e estar em paz com os episódios recentes", assim, poderá se preparar para "as próximas etapas de sua vida".
"Quero ficar em forma e estar pronta para completar meus estudos e preparar-me para a carreira que tenho planejado", disse a aluna da Universidade Metropolitana de Manchester em sua conta no Facebook. "Voltarei a trabalhar, vou me formar e as coisas vão melhorar."
Mas nem todas as mensagens de Resham foram positivas: "Eu me sinto devastada, me pergunto se a minha vida será a mesma: os ataques com ácido no Reino Unido eram desconhecidos por mim".
"A dor era insuportável, lutava para fechar a janela, meu primo lutava para nos afastarmos, e percebi que minha roupa ardia", ela escreveu.
Muhktar também descreveu o momento trágico que enfrentaram: "Em questão de segundos, seus olhos estavam cheios de bolhas, seu rosto começou a derreter".
Crime de ódio
Ninguém foi preso ainda por conta do ataque, tratado pelas autoridades como um "crime de ódio" após obterem uma "nova informação" sobre o "horrendo ato de violência".
Um homem está sendo buscado em relação ao crime.
A polícia de Londres ordenou que John Tomlin, de 24 anos, se entregue para ser interrogado e divulgou sua foto. Também alertou para que as pessoas não se aproximem dele.
O inspetor Neil Matthews disse que a investigação "prossegue em um bom ritmo e que estão sendo seguidas uma série de pistas para encontrar Tomlin".
Ao comentar sobre o ataque e seu autor, a jovem enviou a seguinte mensagem: "Fiquem em paz uns com os outros e com o mundo. Deixar que esse homem ou os acontecimentos do passado os encham de ódio só obscurecerá sua alma".
Os ataques com ácido aumentaram em Londres? Análise de Daniel Wainwright, jornalista de dados da BBC
Em 2016 e 2017, houve 398 vítimas de crimes com substâncias "nocivas ou corrosivas", como o ácido, em comparação com 146 casos em 2012 e 2013.
Os casos de violência com lesões registraram alta. Em cada um dos períodos de 2015-2016 e 2016-2017, houve 191 vítimas, em comparação com 67 em 2014-2015.
Também foram usadas substâncias nocivas ou corrosivas em cinco casos entre abril de 2012 e março de 2017. Nem todos os incidentes envolveram o uso de ácido.
Devido à forma como a polícia de Londres registra os dados, os números mostram todas as vítimas de crimes em que foram usadas substâncias "nocivas ou corrosivas".