Nas eleições alemãs, é permitido o voto postal, com envio da cédula pelo correio. Embora traga conforto ao eleitor, o mecanismo aumenta o risco de manipulações.
"Nas cidades alemãs, 30% dos eleitores optam, hoje em dia, pelo voto postal – nos grandes centros urbanos, esse índice é ainda maior", diz Norbert Kersting, cientista político da Universidade de Marburg. E a tendência de votar por carta é crescente.
"Isso tem a ver com o aumento do individualismo e com o fato de querermos a participação política com mais facilidade", explica Kersting em entrevista à Deutsche Welle sobre a popularidade deste procedimento. "O voto por carta foi introduzido na Suíça nos anos 1990. Hoje, o índice de adeptos do mecanismo nesse país chega a 90%", completa o cientista político.
Opção polêmica
O voto por carta foi introduzido na Alemanha em 1957. A ideia era possibilitar a votação aos eleitores que estivessem no exterior na data do pleito ou àqueles que não pudessem, por razões de saúde, se locomover para votar. Até o ano de 2008, era preciso fazer um requerimento contendo explicações plausíveis para a necessidade de votar à distância, como por exemplo uma enfermidade ou uma viagem. A partir de 2008, isso se tornou desnecessário e cada eleitor pode optar por votar como quiser. Votar não é obrigatório no país.
Mas também há críticas ao procedimento. Rolf Gröschner, professor de Direito Público da Universidade de Jena, vê com ceticismo a predileção pela via postal. "O que diz respeito a todos nós deveria ser também público", diz ele. Em outras palavras: o ato de votar, segundo Gröschner, deveria acontecer num local público e não em casa, onde, para o especialista, o eleitor está mais exposto a manipulações – seja por parte do cônjuge ou de amigos.
Maior participação nos pleitos
Uma pesquisa feita no Reino Unido no ano de 2000 confirmou que as manipulações são mais frequentes no caso de voto postal. De acordo com o especialista Kersting, houve uma série de casos em que os votos foram dados até mesmo em grupo.
Num caso como esse, diz ele, pode facilmente ocorrer um processo de coação dentro do grupo, que impede a decisão livre e individual de cada um. Embora haja também aspectos positivos: "A maior participação eleitoral se deu em distritos nos quais só se votou por carta", relata Kersting.
Mesmo com todo o ceticismo e risco de manipulação, Gröschner alerta para a necessidade de que se possa votar enviando a cédula pelo correio. "Precisamos, em prol do bem comum, garantir que todos aqueles que queiram possam votar", conclui o jurista.