Vozes das ruas de Paris defendem união e liberdade

Multidão tomou as ruas de Paris; com cartazes, franceses defenderam a liberdade de expressão

11 jan 2015 - 19h13
(atualizado em 12/1/2015 às 10h07)
Jovens sobem no monumento 'O Triunfo da República', no fim da marcha pelas ruas de Paris
Jovens sobem no monumento 'O Triunfo da República', no fim da marcha pelas ruas de Paris
Foto: Fernando Diniz / Terra

Longe das autoridades de diferentes correntes partidárias e de chefes de Estado do mundo todo, liberdade era a palavra mais ouvida entre a população francesa. Em um país que declarou a República há mais de 225 anos, o ataque ao semanário Charlie Hebdo - que deixou 12 mortos - motivou uma massa de cerca de 1,5 milhão de pessoas que se abarrotaram nas ruas de Paris neste domingo para defender um de seus principais valores, a liberdade de expressão. Em toda a França, foram cerca de 3,7 milhões que marcharam contra o terrorismo.

A movimentação na capital francesa começou na praça da República, onde jovens passaram a subir no monumento de Marianne, figura que representa a república francesa, onde estão grafadas as palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Bandeiras da França foram levantadas no monumento e receberam a companhia de símbolos de outros países.

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“Charlie, Charlie” era um dos gritos dos presentes, até que passaram a cantar "La Marseillaise", hino nacional francês. Numerosos, os cartazes 'Je Suis Charlie' (na tradução 'Eu Sou Charlie') se espalharam por toda a praça e arredores. Nas ruas mais próximas da République, era impossível se mover enquanto a caminhada não começava.

A caminhada, que foi iniciada pelo presidente da França, François Hollande, e outros líderes mundiais, como Angela Merkel (Alemanha), David Cameron (Reino Unido). Também estiveram presentes diferentes correntes políticas da França, da a direita, com Nicolas Sarkozy, até a extrema-exquerda, com Jean-Luc Mélanchon.

A imensa mobilização passou pela Bastilha e terminou na praça da Nação, onde familiares das vítimas foram recebidos com silêncio e aplauso. Depois, o hino francês foi novamente entoado pela multidão, uma marcha que antes pregava a guerra, agora prega a união e a paz entre os povos.

A presença massiva demonstrou também uma afirmação dos franceses em defesa da nação, em vez de expressar o medo ao terror. Nas ruas, a principal defesa da voz das ruas era pela livre expressão e pela liberdade de culto, como relatam os manifestantes.

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“A liberdade de expressão deve continuar”

Foto: Fernando Diniz / Terra

"Meu desenho é para mostrar que a liberdade de expressão deve continuar. É um lápis apontando para o céu. E a liberdade de expressão está apontando para baixo. Estou triste e espero que o mundo inteiro mostre os desenhos de Wolinski, Charb, Cabu e dos outros, porque é muito importante que o mundo veja como eles viam o mundo." (Fernando Diniz/Terra)

Grabielle Dizder, grafista

“A República está de pé”

Foto: Fernando Diniz / Terra

"Penso que neste momento difícil que a gente vive, o valor principal da República é a liberdade de expressão. Ela foi atacada, mas prova nesta loucura é que a República está de pé. É importante que estejamos aqui, para nos sentirmos juntos. Esses brutamontes que fizeram isso, nós não vamos deixar eles com medos. É por nós isso! Quando você é artista e pintor, e quando seus colegas morrem porque desenharam, não podemos deixar de nos mobilizar. Até mesmo atuar em memória deles, para respeitar a memória deles e sua coragem de se expressar contra o obscurantismo."

Jean-Marc Paumier, ou Rue Muert d’Art (pseudônimo), pintor

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“Não importa a religião”

Foto: Fernando Diniz / Terra

"Seja qual for nossa religião, não importa. Somos todos franceses. Estamos todos juntos. Hoje estamos todos unidos por esse sentimento de liberdade. E a religião, claro que tem uma importância, mas frente a esse tipo de acontecimento, conta muito pouco. Os muçulmanos, os judeus, ateus, todos juntos. Não tenho religião, mas sei que hoje estão todos juntos. Todos pela liberdade, igualdade e fraternidade."

Nils, francês, estudante do Ensino Médio

“Eu resisto ao facismo”

"Nem medo, nem ódio, nem vingança - resistência", diz cartaz de cineasta tunisiana
Foto: Fernando Diniz / Terra

"Não temos que sentir medo, devemos continuar a fazer tudo que fazemos, como enfrentar os islamistas. Não temos que sentir ódio, porque não é o ódio que me motiva. Mas a resistência, sim. Porque eu resisto ao facismo."

Nadia El Fani, cinesta tunisiana

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“Viemos à marcha pela liberdade de expressão”

Aposentados levaram imagem de Voltaire para a passeata
Foto: Fernando Diniz / Terra

"Voltaire disse: não concordo com o que você pensa, mas vou até o fim pelo direito de você dizê-las. Na história francesa, há muitas pessoas que foram mortas pelo direito de expressão, e Voltaire é um dos mais conhecidos da literatura francesa. Viemos à marcha pela liberdade de expressão. Nem preciso estar sempre de acordo com o humor de Charlie Hebdo, aprecio seu humor irônico... mas não é porque não estamos totalmente de acordo com alguém que não devemos defendê-lo."

Domenique, aposentado

“Charlie é contrário aos facistas”

Manifestante curdo fez sua homenagem para Charlie Hebdo
Foto: Fernando Diniz / Terra

"O Charlie Hebdo é humanitário, é contrário aos facistas. É laico, democrata. Por isso que eles satirizavam o Estado Islâmico também. Eles não querem lá os curdos lá. Eles massacraram os curdos."

Gunel Mammet, militante curdo na marcha

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"Esse tipo de coisa não tem relação com o Islã"

Turcos que moram em Paris foram à marcha prestar solidariedade aos franceses
Foto: Fernando Diniz / Terra

“A Turquia é um dos raros países muçulmanos laicos e lá nós condenamos esse tipo de coisa, que não tem nada a ver com o Islã. É muito importante separar o Islã do Islamismo. Eles cometem, em nome do Islã, crimes.

Demir Fitrat, presidente de um conselho de turcos em Paris

Fonte: Terra
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