A Promotoria de Hamburgo abriu nesta quinta-feira (18) um processo contra um ex-membro da SS (organização paramilitar ligada ao partido nazista) de 92 anos por cumplicidade na morte de 5.230 prisioneiros no campo de concentração de Stutthof, no atual território da Polônia.
O ex-membro da organização é acusado de ter possibilitado as mortes durante o período em que prestou serviço em Stutthof, onde tinha a missão de impedir a fuga ou a rebelião dos prisioneiros.
O acusado fez parte da máquina "de assassinatos em massa" no campo de concentração por meio de sua condição de guarda da SS, de acordo com a Promotoria, quando tinha entre 17 e 18 anos. Ele atuou no campo, que ficava perto da então cidade alemã de Danzig (hoje Gdansk) entre agosto de 1944 e abril de 1945.
Por causa da idade que o homem tinha quando começou a trabalhar no campo, o processo será analisado por um Tribunal Juvenil (equivalente de um Juizado da Infância e da Juventude no Brasil).
O acusado nao foi identificado publicamente pela promotoria, mas o jornal Die Welt, o identificou como Bruno D.. Em depoimento à promotoria, ele afirmou que nunca foi um nazista, e que só acabou sendo designado como guarda no batalhão SS-Totenkopfsturmbahn, que dirigia o campo, por causa de um problema do coração.
Segundo o Die Welt, o acusado admitiu aos procuradores que viu pessoas sendo levadas para ser executadas em câmaras de gás.
A acusação formulada pela Promotoria de Hamburgo faz parte de uma série de julgamentos tardios realizados nos últimos anos na Alemanha por crimes cometidos durante o nazismo.
Os processos se basearam no julgamento do ex-guarda ucraniano John Demjanjuk, que foi condenado em 2011 a cinco anos de prisão por cumplicidade nas mortes do campo de Sobibor, também na época da ocupação da Polônia pelos nazistas.
Demjanjuk, que após a Segunda Guerra Mundial viveu durante décadas nos Estados Unidos até ser extraditado à Alemanha, acompanhou o processo em uma maca, não chegou a prestar depoimento e morreu meses depois de ouvir a sentença em um asilo para idosos.
O processo e condenação de Demjanjuk abriram as portas para outros julgamentos por cumplicidade no genocídio, geralmente contra nonagenários e marcados por frequentes interrupções por razões de saúde dos acusados.
Em março do ano passado, morreu sem ter chegado a ser preso o chamado "contador de Auschwitz", Oskar Gröning, que em 2015 foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade no assassinato de cerca de 300 mil judeus enquanto serviu no maior campo de extermínio nazista.
No início do mês, um juiz alemão suspendeu o julgamento de outro ex-guarda de campo de concentração, que também atuou em Stutthof, após o acusado de 95 anos ser hospitalizado por problemas cardíacos. Ele também estava sendo julgado por um Tribunal Juvenil, já que tinha menos de 21 anos quando trabalhou no campo (na Alemanha, o sistema permite que jovens entre 18 e 21 anos possam ser julgados por essas cortes, dependendo da acusação e do estado de discernimento do indivíduo).
Stutthof foi construído em 1939 e utilizado para várias finalidades. Inicialmente era o principal ponto de coleta para poloneses judeus e não-judeus da cidade de Danzig.
A partir de 1940, foi usado como um chamado "campo de trabalho educativo", para onde trabalhadores forçados - especialmente cidadãos poloneses e soviéticos que haviam fugido de seus opressores nazistas - eram enviados para cumprirem suas sentenças, morrendo no local.
Outros detentos incluíam criminosos condenados, prisioneiros políticos, homossexuais e testemunhas de Jeová.
A partir de meados de 1944, dezenas de milhares de judeus evacuados de guetos pelos nazistas nos países bálticos, assim como de Auschwitz, que estava superlotado, e milhares de civis poloneses expulsos durante a brutal opressão do Levante de Varsóvia foram enviados a Stutthof.