A fronteira entre Itália e França no Monte Bianco (ou Mont Blanc, em francês), montanha mais alta dos Alpes e da Europa Ocidental, se tornou motivo de tensão nos últimos dias.
A pedido do ministro italiano das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, a embaixada do país em Paris expressou formalmente seu "forte descontentamento" contra uma medida de proteção ambiental adotada pela França e que teria invadido territórios pertencentes à Itália.
A polêmica começou em 1º de outubro, quando a prefeitura do departamento da Alta Saboia instituiu uma reserva para proteger os "habitats naturais do Mont Blanc", ação que havia sido prometida pelo presidente Emmanuel Macron no início do ano.
A medida reúne uma série de iniciativas para proteger a montanha do turismo de massa e de práticas potencialmente danosas para o ambiente local, como pousos de aviões turísticos, excesso de parapentes e a ascensão de alpinistas mal equipados ou preparados.
O perímetro da zona de proteção cobre uma área de quase 3,2 mil hectares, incluindo o glaciar do Gigante, onde ficam o refúgio Torino e a estação Ponta Helbronner do teleférico Skyway, que parte da cidade italiana de Courmayeur. A Itália reclama soberania sobre esse território, com base em um tratado de 1860 entre o então Reino da Sardenha e o Segundo Império Francês.
"Tais medidas unilaterais, que não podem e não devem incidir sobre território italiano, não terão qualquer efeito e não são reconhecidas pela Itália", disse Di Maio a respeito da área de proteção ambiental francesa. Paris não se pronunciou oficialmente sobre a reclamação italiana, mas frontes diplomáticas afirmaram que o governo Macron ofereceu "máxima disposição para colaborar".
A polêmica, no entanto, virou cavalo de batalha da extrema direita nacionalista na Itália, que vê no presidente da França um de seus principais inimigos. Por meio de uma nota, o partido Liga, de Matteo Salvini, defendeu um recurso "aos tribunais internacionais para defender a soberania italiana".
"O contencioso sobre o Monte Bianco entre Itália e França deve ser resolvido de uma vez por todas. Apresentamos um questionamento ao ministro Di Maio para que ele proceda nessa direção. A anexação unilateral de uma parte simbólica da Itália pela França é um abuso. Onde está a Europa, tão celebrada por Macron?", diz o comunicado, divulgado nesta quinta-feira (22).