Parlamentares democratas e republicanos dos Estados Unidos apresentaram narrativas conflitantes nesta quarta-feira quando o inquérito de impeachment que ameaça a Presidência turbulenta de Donald Trump entrou em uma nova fase crucial em sua primeira audiência pública.
Os democratas que comandam a investigação da Câmara dos Deputados convocaram três diplomatas --todos expressaram alarme a respeito das tratativas de Trump com a Ucrânia em depoimentos a portas fechadas-- para que detalhem seus temores nesta semana diante da intensa cobertura midiática. As audiências públicas estão marcadas para esta quarta-feira e para sexta-feira.
Sob os olhares de uma plateia televisiva potencial de dezenas de milhões de espectadores, o deputado democrata Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, iniciou a sessão histórica --o primeiro espetáculo de impeachment em duas décadas-- em um salão de audiências repleto de jornalistas, parlamentares e membros do público.
As acusações de abuso de poder lançadas por Schiff contra Trump levaram o republicano mais graduado do comitê, Devin Nunes, a refutar com firmeza uma cumplicidade do presidente republicano com uma saga na qual se questiona se Trump e seus assessores pressionaram indevidamente a Ucrânia a descobrir podres de um rival político para seu próprio benefício político.
As duas testemunhas desta quarta-feira --William Taylor, o principal diplomata dos Estados Unidos na Ucrânia, e George Kent, vice-secretário-assistente de Estado para assuntos da Europa e da Eurásia-- iniciaram seus depoimentos com declarações que ecoaram seus testemunhos anteriores a portas fechadas a respeito de seu alarme diante dos esforços para induzir Kiev a abrir uma investigação sobre o ex-vice-presidente Joe Biden, um dos mais bem cotados para conquistar a indicação democrata para a eleição de 2020.
"As perguntas apresentadas por este inquérito de impeachment são se o presidente Trump tentou explorar a vulnerabilidade desse aliado e convidar uma interferência da Ucrânia em nossa eleições", disse Schiff em sua declaração inicial.
"Nossa resposta a estas perguntas afetará não somente o futuro desta Presidência, mas o futuro da Presidência em si e o tipo de conduta ou má conduta que o povo norte-americano pode esperar de seu comandante-em-chefe", disse Schiff.
As audiências desta semana, nas quais os norte-americanos ouvirão diretamente e pela primeira vez pessoas envolvidas em acontecimentos que desencadearam o inquérito parlamentar, podem abrir caminho para a Câmara de maioria democrata aprovar artigos de impeachment --ou acusações formais-- contra Trump.
Se isso ocorrer, o Senado realizará um julgamento com base nas acusações, mas até agora os republicanos que o comandam mostraram pouco apoio à ideia de retirar Trump do posto.
Já faz duas décadas que os norte-americanos testemunharam um processo de impeachment contra um presidente, e este será o primeiro da era das redes sociais. Os republicanos, que à época controlavam a Câmara, apresentaram acusações de impeachment contra o democrata Bill Clinton devido a um escândalo envolvendo sua relação sexual com uma estagiária da Casa Branca. O Senado acabou votando pela preservação de Clinton no cargo.
Embora nenhum presidente tenha sido afastado por um impeachment, isso não deteve os democratas, que estão analisando se Trump abusou de seu poder retendo quase 400 milhões de dólares de ajuda de segurança à Ucrânia para pressionar um aliado vulnerável dos EUA.
O foco é uma conversa telefônica de 25 de julho na qual Trump pediu ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, que iniciasse uma investigação de corrupção a respeito de Biden e seu filho e uma teoria desacreditada de que a Ucrânia pode ter interferido nas eleições norte-americanas de 2016.
Trump negou qualquer irregularidade, ridicularizou algumas autoridades antigas e atuais dos EUA que depuseram a comitês e rotulou o inquérito como uma caça às bruxas que visa prejudicar suas chances de se reeleger.