General ameaça desertar conferência sobre Líbia na Itália

Congresso de dois dias começa nesta segunda (12), em Palermo

12 nov 2018 - 09h01

A cidade de Palermo, no sul da Itália, recebe a partir desta segunda-feira (12) uma conferência internacional de dois dias sobre a Líbia, que deve ser esvaziada pela provável ausência do general Khalifa Haftar, que comanda a principal força armada do país africano e não reconhece o governo do primeiro-ministro de união nacional Fayez al Sarraj.

Khalifa Haftar controla o leste da Líbia e tem como base a cidade de Tobruk
Khalifa Haftar controla o leste da Líbia e tem como base a cidade de Tobruk
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

No último domingo (11), fontes do Exército Nacional Líbio, conjunto de milícias controlado por Haftar, disseram à ANSA que o general não participaria da conferência de Palermo, devido à presença de representantes do Qatar e de uma organização supostamente ligada à Al Qaeda, o Grupo de Combate Islâmico Líbio.

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Ainda assim, em uma entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal "La Stampa", o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, afirmou confiar na presença de Haftar e na possibilidade de um "compromisso" entre ele e Sarraj.

"Encontrei pessoalmente tanto Sarraj quanto Haftar. Coletei fortes encorajamentos e testemunhos de estima que me confortam sobre o caminho escolhido. Acredito que a Itália tenha a responsabilidade e a capacidade de desenvolver um papel útil neste processo como em toda a área do Mediterrâneo", declarou Conte.

A conferência é uma aposta do governo italiano para pacificar a Líbia, sua ex-colônia e principal vetor da crise migratória no Mar Mediterrâneo nos últimos anos. O congresso, no entanto, não terá a presença de líderes de peso, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron.

Em 2017, o chefe de Estado francês conseguiu reunir Haftar e Sarraj em Paris, iniciativa que irritou a Itália por se tratar de uma área de influência historicamente ligada a Roma. Na ocasião, o general e o premier de união nacional chegaram a um acordo para realizar eleições no fim de 2018, mas o processo não avançou.

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"Acima de tudo, apreciamos grandemente o esforço italiano de contribuir para melhorar o processo político. Estamos ansiosos para participar de um encontro frutífero", disse à ANSA Mohamed el-Sallak, porta-voz de Sarraj. A conferência terá delegações dos parlamentos de Trípoli, base do premier, e Tobruk, base de Haftar, mas qualquer chance de sucesso está condicionada à presença do general.

Senhor da guerra

Haftar é um dos principais personagens da Líbia pós-Kadafi e controla territórios no leste do país, tendo como "capital" a cidade de Tobruk. O general não reconhece o governo de união nacional chefiado por Fayez al Sarraj e baseado em Trípoli - este último é aceito pela ONU.

Haftar lidera as forças contrárias ao Islã político, conta com o apoio do Egito e dos Emirados Árabes e tem diversos poços de petróleo sob seu controle. Ex-aliado de Kadafi, ele ajudou o futuro ditador a derrubar o rei Idris, em 1969, mas rompeu com o coronel em 1987, após ter sido capturado no Chade.

De lá, guiou, com o apoio da CIA, um fracassado golpe contra Kadafi. Por duas décadas viveu como exilado nos Estados Unidos e ganhou cidadania norte-americana. O cenário de fragmentação na Líbia permitiu a ascensão de milícias e de traficantes de seres humanos, que assumiram o controle do litoral para realizar viagens clandestinas de migrantes no Mediterrâneo.

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Para a Itália, a única forma de solucionar a crise migratória de forma definitiva é restabelecer a unidade da Líbia.

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