Guerra Israel-Hamas: como foram as negociações para libertar reféns que envolveram 4 países

Além de Israel e do Hamas, participaram dos esforços EUA, Catar e Egito.

23 nov 2023 - 12h57
Israelenses sequestrados pelo Hamas, da esquerda para a direita do topo: Doron Steinbrecher, Shani Goren, Emily Hand, Alex Danzig, Gali Tarshansky, Amiram Cooper, Erez e Sahar Kalderon, Emma e Julie Alony Cunio, Guy Gilboa-Dalal e Ditza Heiman
Israelenses sequestrados pelo Hamas, da esquerda para a direita do topo: Doron Steinbrecher, Shani Goren, Emily Hand, Alex Danzig, Gali Tarshansky, Amiram Cooper, Erez e Sahar Kalderon, Emma e Julie Alony Cunio, Guy Gilboa-Dalal e Ditza Heiman
Foto: BBC News Brasil

Logo após os ataques de 7 de outubro contra Israel, foi criado uma célula secreta para trabalhar na libertação dos cerca de 240 reféns capturados pelo Hamas.

Foi assim que começou o "processo extremamente excruciante de cinco semanas" envolvendo quatro países, coordenação entre especialistas em espionagem e ligações presidenciais de alto risco, segundo uma fonte da Casa Branca.

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Esse processo resultou no acordo entre Israel e Hamas para libertar 50 mulheres e crianças israelenses durante uma pausa de quatro dias nos combates em troca de 150 prisioneiros palestinos, também mulheres e crianças.

Quando o acordo foi anunciado, o responsável pelas negociações deu detalhes a jornalistas sobre como tudo aconteceu.

O Catar liderou os esforços, disse ele, aproximando-se de Israel e dos EUA com uma proposta para estabelecer uma célula que trabalharia de forma silenciosa e intensa na questão.

Doha atuou como principal canal para o Hamas, mas o Egito também fez parte do complexo acordo de negociação.

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O primeiro avanço ocorreu em 23 de outubro, quando o Hamas libertou duas mulheres americanas. Esse foi o projeto "piloto" que "comprovou o conceito", disse o responsável.

Depois disso, os esforços para uma etapa mais ampla de negociação começaram.

Israel delegou o chefe da Mossad, David Barnea, como seu negociador. Ele atuou e manteve contato regular com o chefe da CIA, Bill Burns, sobre os contornos de um acordo.

O processo foi demorado porque as mensagens tiveram de ser passadas de Doha ou do Cairo para o Hamas em Gaza — e posteriormente respondidas seguindo o caminho inverso.

As conversas também foram altamente técnicas, elaborando meticulosamente detalhes sobre corredores para a passagem dos reféns, vigilância, prazos e números de pessoas libertadas.

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Cerca de 40% dos prisioneiros palestinos que deverão ser libertados são menores de 18 anos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A fonte do governo americano disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, estava "direta e pessoalmente" engajado na libertação dos sequestrados, convocando os líderes de Israel e do Catar em momentos críticos.

Biden viu um acordo de reféns como o "único caminho realista para garantir uma pausa humanitária de vários dias nos combates", disse.

Segundo ele, os israelenses deixaram claro que não iriam parar a sua ofensiva por nenhum outro motivo.

Esse cálculo faz parte do acordo, que propõe prolongar a suspensão das hostilidades se o Hamas libertar mais reféns.

"Também temos confiança de que enquanto estivermos no período de pausa, mais mulheres e crianças vão aparecer", acrescentou.

Famílias de reféns israelenses detidos em Gaza pelo Hamas realizaram uma campanha aberta e pública para trazê-los de volta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um dos pontos críticos foi a inabilidade do Hamas de identificar claramente quem estaria no grupo inicial de 50 reféns libertados.

Essa informação só foi conhecida de fato quando o presidente Biden ligou para o emir do Catar e disse que, sem esses detalhes, o acordo seria rompido, segundo conta a fonte da administração americana.

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Mas, no momento em que o pacto parecia prestes a ser concluído, em meados de novembro, o processo estagnou.

Segundo a fonte, isso aconteceu porque as comunicações com o Hamas "ficaram obscuras".

Ele não deu mais detalhes, mas foi também nessa época que Gaza ficou sem combustível.

O funcionário disse que após as comunicações serem restauradas ainda demorou algum tempo para resolver as lacunas no acordo, que é extremamente detalhado devido ao alto nível de desconfiança de Israel e dos EUA em relação ao Hamas.

A fonte americana evitou responder perguntas sobre se o acordo de reféns e o canal de negociações poderiam oferecer um caminho para acabar com a guerra.

Mas segundo ele, no que diz respeito aos reféns, "o que acabei de descrever nas últimas cinco semanas não vai parar. À medida que passamos por esta fase inicial, estamos determinados a levar todos para casa".

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O acordo

Segundo um comunicado divulgado pelo governo israelense, em uma primeira leva, 50 reféns — crianças e mulheres — serão soltas durante quatro dias. Enquanto isso, o conflito será pausado temporariamente.

"A soltura adicional de cada grupo de 10 reféns resultará em um dia adicional na pausa", diz um trecho do comunicado de Israel.

Israel libertará, então, 150 palestinos. Em seguida, Israel se comprometeu a libertar "até" mais 150 palestinos detidos se "até" mais 50 reféns forem libertados de Gaza.

Israel divulgou uma lista de 300 palestinos que poderiam ser libertados na troca.

A maioria tem 17 ou 18 anos, variando a idade geral entre 14 e 59 anos. Segundo foi informado, 274 dos detidos são homens.

A lista foi publicada devido a uma formalidade em Israel. Antes de qualquer libertação de prisioneiros, os cidadãos israelenses devem ter 24 horas para entrar com um recurso na Suprema Corte israelense.

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Segundo informações obtidas pela BBC, a suspensão dos conflitos deveria começar às 10h (às 5h no horário de Brasília) desta quinta-feira (23/11), enquanto a troca de prisioneiros ocorreria por volta do meio-dia.

Uma fonte do governo israelense, porém, disse que permuta deve ser adiada para sexta (24/11). Com isso, a ofensiva em Gaza continua.

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