A Polícia Federal (PF) anunciou que prendeu em São Paulo na quarta-feira (8/11) duas pessoas que teriam ligações com o grupo libanês Hezbollah. Os nomes dos detidos não foram informados.
Assim como o palestino Hamas, o grupo do Líbano prega a destruição do Estado de Israel.
Por meio de nota, a PF informou que a operação, batizada de Trapiche, tem o "objetivo de interromper atos preparatórios de terrorismo e obter provas de possível recrutamento de brasileiros para a prática de atos extremistas no país".
A operação, segundo fontes ouvidas pela BBC News Brasil, contou com o apoio de órgãos policiais e de inteligência dos Estados Unidos e de Israel.
Ainda de acordo com duas fontes policiais, a investigação apontou que os suspeitos são financiados pelo Hezbollah e que planejavam fazer ataques contra a comunidade judaica no Brasil. Um deles foi preso no aeroporto de Guarulhos, quando chegava do Líbano.
O suposto plano de ataque a alvos judaicos no Brasil vinha sendo trabalhado há algum tempo, mas as tratativas para que ele fosse executado se intensificaram após o início do conflito entre o Hamas e Israel, no início de outubro, informaram fontes familiarizadas com o assunto.
Os supostos terroristas já teriam selecionado seus alvos, incluindo sinagogas e prédios ligados à comunidade judaica no Brasil. Um deles seria a Embaixada de Israel, em Brasília.
Além dos dois suspeitos presos no Brasil, a Justiça Federal expediu mandados de prisão para outros dois suspeitos que estão no Líbano.
Os dois são brasileiros descendentes de libaneses. Seus nomes, segundo investigadores, estão na lista de procurados da Interpol.
Ainda de acordo com pessoas familiarizadas com a investigação, um dos alvos presos já respondia por crimes de lavagem de dinheiro e contrabando.
A PF pretende analisar os dados financeiros do grupo para checar como ele era financiado.
Além das duas prisões, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão expedidos pela Subseção Judiciária de Belo Horizonte, nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal.
Os detidos em São Paulo devem responder pelos crimes de constituir ou integrar uma organização terrorista e de realizar atos preparatórios de terrorismo. De acordo com a PF, se somadas, as penas máximas desses crimes chegam a 15 anos e 6 meses de prisão.
Os crimes previstos na Lei de Terrorismo são inafiançáveis, e a pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado.
O que é o Hezbollah?
O Hezbollah — cujo nome significa "partido de Deus" — é um partido político islâmico xiita que tem um braço paramilitar apoiado pelo Irã e exerce grande poder no Líbano.
As origens precisas do Hezbollah são difíceis de rastrear, mas seus precursores surgiram depois de Israel ter invadido uma parte do sul do Líbano em 1982, em resposta a uma série de ataques de militantes palestinos contra Israel, nomeadamente a tentativa de assassinato do embaixador israelense no Reino Unido.
Ariel Sharon, que era então Ministro da Defesa de Israel, visou expurgar a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) do sul do Líbano e impedir as incursões do grupo através da sua fronteira.
Alguns líderes xiitas no Líbano queriam uma resposta militante à invasão e romperam com o Movimento Amal, um grupo político que se tornou uma das mais importantes milícias muçulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e organizacional da Guarda Revolucionária do Irã (divisão das forças armadas do Irã, fundada depois da Revolução Iraniana) e foi denominado Amal Islâmico.
Pouco depois, essa organização aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
O Hezbollah anunciou oficialmente a sua criação em 1985, publicando uma "carta aberta" que identificava os Estados Unidos e a antiga União Soviética (URSS) como os principais inimigos do Islã.
No polêmico manifesto, o Hezbollah também levantou a destruição de Israel como um objetivo fundamental.
"É o inimigo odiado que temos de combater até que os odiados consigam o que merecem", diz o texto.
"Este inimigo é o maior perigo para as nossas gerações futuras e para o destino das nossas terras, especialmente porque glorifica as ideias de colonização e expansão, iniciadas na Palestina."
Desde 1992, o Hezbollah é liderado por Hassan Nasrallah e tornou-se a força militar mais poderosa da nação árabe.
No mesmo ano, o grupo participou pela primeira vez nas eleições nacionais, obtendo mais assentos do que qualquer partido.
O grupo ganhou gradualmente influência no sistema político do Líbano e tem poder de veto no Executivo do país.
O Hezbollah é considerado por alguns libaneses como uma ameaça à estabilidade do país, mas continua popular entre a comunidade xiita libanesa que representa.
Apesar de o Hezbollah defender uma corrente do Islã diferente da do Hamas, sendo o primeiro xiita e o segundo, sunita, os dois grupos convergem quanto ao desejo de destruir Israel.
Tanto o Hamas quanto o Hezbollah são considerados organizações terroristas pelos governos do Reino Unido, dos EUA e de outros países.
O Hezbollah possui um vasto arsenal de armas que inclui mísseis guiados com precisão que podem afetar intensamente o território israelense e dezenas de milhares de combatentes bem treinados e experientes em batalha.
Muitos no Líbano ainda se lembram da guerra devastadora que o Hezbollah travou contra Israel, que durou um mês, em 2006, e temem que o grupo possa arrastar o país para outro conflito.
Desde o ataque do Hamas a Israel, o Hezbollah intensificou seus ataques a Israel, que está retaliando essas ações.
Mas ambos os lados aparentemente tomaram medidas para evitar uma escalada perigosa e a maioria dos ataques se limitou à zona fronteiriça.
Nasrallah disse recentemente que os últimos ataques do Hamas em Israel foram "corretos, sábios e justos", mas os descreveu como "100% palestinos".
Ainda no discurso, feito em um local secreto e transmitido para milhares de pessoas na capital do Líbano, ele criticou os Estados Unidos, dizendo que o país era o responsável pelo conflito em Gaza.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu uma resposta de magnitude "inimaginável" se o Hezbollah abrir uma segunda frente no conflito.