Centenas de pessoas foram presas em universidades dos Estados Unidos durante protestos contra a guerra que Israel promove em Gaza. Mais de 34,5 mil palestinos foram mortos no confronto.
Nas redes sociais, os manifestantes costumam chamar a onda de protestos de "Intifada", a palavra árabe para "revolta". O termo é usado para períodos de intensas manifestações palestinas contra Israel.
Muitas publicações questionam se haverá uma nova Intifada como repercussão da guerra em Gaza. Alguns chamam os protestos de "Intifada Intelectual" e apelam à "Globalização da Intifada".
Nas últimas semanas, estudantes abandonaram as aulas e montaram acampamentos para protestar contra a campanha militar de Israel em Gaza.
Entre as instituições que tiveram protestos estão a Universidade de Columbia e a NYU, em Nova York, a Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a Universidade de Michigan.
O Emerson College e a Tufts University, em Boston, e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), na vizinha Cambridge, também tiveram manifestações.
Muitos estudantes foram suspensos de Columbia, o que levou a apelos veementes para que as medidas disciplinares fossem suspensas.
Vários estudantes judeus expressaram preocupações sobre o que chamam de ambiente ameaçador nos campi.
Mas outros manifestantes afirmam que o suposto assédio a estudantes judeus tem sido raro e exagerado por aqueles que se opõem aos protestos.
Os ativistas têm exigido que as universidades parem de receber doações e de investirem empresas envolvidas na fabricação de armas e outras indústrias que apoiam a guerra de Israel em Gaza.
Primeira e Segunda Intifada
A chamada Primeira Intifada ocorreu entre 1987 e 1993. A Segunda Intifada aconteceu de 2000 a 2005.
Desde que a recente guerra em Gaza começou, em 7 de outubro de 2023, o termo "Globalizar a Intifada" surgiu em publicações nas redes sociais, convocando pessoas de todo o mundo para participar da revolta contra Israel.
Outros termos têm sido usados, como "Intifada Eletrônica" e "Intifada Intelectual", além de apelos ao boicote de produtos de origem israelenses, no movimento "Boicote, Desinvestimento, Sanções".
A primeira intifada palestina começou em 8 de dezembro de 1987 em Gaza, quando um caminhão-tanque do exército israelense colidiu com carros de palestinos.
Quatro palestinos morreram.
A frustração dos palestinos que vivem sob a ocupação israelense vinha crescendo havia 20 anos — até esse dia.
A presença de colonos israelenses ilegais na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza havia crescido, enquanto os palestinos enfrentavam dificuldades econômicas e confrontos frequentes com o exército de Israel.
Em resposta às mortes, eclodiu uma revolta no campo de refugiados de Jabalia, em Gaza, que se espalhou rapidamente pela Cisjordânia e pela Faixa de Gaza.
Jovens palestinos confrontaram soldados israelenses com pedras e coqueteis molotov. Soldados israelenses dispararam com armas de fogo, gerando críticas de organizações internacionais, incluindo a ONU.
A violência entre os dois lados continuou, com intensidade variável, até 1993.
A revolta foi uma surpresa para muitos partidos, incluindo o governo de Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, que naquela época estava exilado na Tunísia.
Um dos principais resultados da Primeira Intifada foi atrair a atenção mundial para a situação dos palestinos que vivem sob ocupação e, especialmente, para as medidas de violência utilizadas pelos israelenses para reprimir a revolta.
Uma frase ficou famosa na época. O então ministro da Defesa de Israel, Yitzhak Rabin, pediu aos soldados para "quebrar os ossos" dos manifestantes.
Rabin acreditava que atirar em palestinos mancharia a imagem de Israel na comunidade internacional, porque disparar contra palestinos desarmados renderia simpatia à causa deles.
À medida que a Intifada avançava, os palestinos deixaram de atirar pedras e coquetel molotov e passaram a atacar as forças israelense com espingardas, granadas de mão e explosivos.
Fontes oficiais e analistas avaliam que os palestinos mataram mais de 100 israelenses durante a Primeira Intifada, enquanto as forças israelenses mataram pelo menos mil palestinos.
A Intifada terminou em 13 de setembro de 1993, quando Israel e a OLP assinaram os Acordos de Oslo, que encaminharam as negociações de paz.
Israel aceitou a OLP como representante dos palestinos e a OLP renunciou à resistência armada.
A Segunda Intifada foi chamada de Intifada al-Aqsa.
A mesquita de al-Alqsa é o terceiro local mais sagrado do Islã e foi o ponto crítico que marcou o início de uma onda de violência que durou cinco anos.
Os líderes palestinos usaram o nome do santuário para sugerir que se tratava de uma revolta popular e não de atos de violência organizados pela Autoridade Palestina, como argumentou Israel.
Em 28 de setembro de 2000, o então líder da oposição israelense, Ariel Sharon, visitou a mesquita de al-Aqsa, escoltado por soldados e policiais.
Sete palestinos foram mortos no primeiro dia de protestos e mais de 100 ficaram feridas.
O que começou com algumas centenas de manifestantes atirando sapatos e pedras nos guardas de Sharon irrompeu em manifestações por todos os territórios palestinos.
Cenas do menino palestino de 12 anos Mohammed al-Dura sendo morto a tiros em Gaza enquanto se agarrava ao pai se tornaram imagens marcantes do Segundo Levante palestino.
Uma investigação israelense apontou ser "infundada" uma reportagem de uma rede de TV francesa que culpou as tropas do país por matarem a criança a tiros.
A diferença mais grave entre a revolta dos anos 1980 e a revolta de 2000 é a escala dos confrontos e dos atos de violência.
A Segunda Intifada foi muito mais violenta que a Primeira.
A ONU afirma que mais de 5.800 pessoas foram mortas desde o início da Segunda Intifada, em setembro de 2000, até ao final de 2007 — quase dois anos após o fim da revolta.
Embora seja difícil determinar os números exatos de mortes durante a Intifada, a maioria dos analistas acredita que houve muito mais vítimas palestinas do que israelenses.
Os métodos de ataque palestinos incluíram o lançamento de foguetes, bem como atentados suicidas em edifícios e ônibus.
Por vezes houve críticas internacionais aos métodos de reação de Israel, mas o país argumentou que estava respondendo a ataques armados organizados.