Após diversas negativas nos últimos dias, o Irã admitiu neste sábado (11) que o avião da Ukraine International Airlines que caiu perto de Teerã com 176 pessoas a bordo, na madrugada da última quarta-feira (8), foi abatido por engano por seu sistema de defesa antiaérea.
As suspeitas haviam ganhado força na quinta passada (9), quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, falaram publicamente sobre o assunto, mas até então eram negadas pelo governo iraniano.
"A República Islâmica do Irã lamenta profundamente esse erro desastroso", disse no Twitter o presidente do país persa, Hassan Rohani, chamando o episódio de "imperdoável". "As investigações prosseguirão para identificar e processar os responsáveis por essa grande tragédia", acrescentou.
Já o chanceler Mohammad Javad Zarif disse que um "inquérito interno das Forças Armadas" confirmou que houve um "erro humano" por trás do abatimento, mas salientou que o desastre ocorreu em um "momento de crise causado pelo aventureirismo dos EUA".
A queda aconteceu na mesma madrugada em que o Irã disparou mísseis balísticos contra duas bases militares usadas por tropas americanas no Iraque, em retaliação pelo bombardeio que matou o general Qassem Soleimani, em Bagdá, na semana passada.
Zarif também pediu "desculpas" e enviou "condolências" às famílias de todas as vítimas e às nações atingidas. Entre os 176 mortos estão 82 iranianos, 63 canadenses, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três britânicos e três alemães.
Por meio de uma nota, o premier Trudeau cobrou "transparência e justiça" nas investigações.
Dinâmica
Segundo a agência de notícias iraniana Fars, a ordem de dizer a verdade sobre o abatimento do avião partiu do guia supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Apenas um dia antes, autoridades iranianas haviam negado veementemente que a aeronave tivesse sido derrubada por um míssil.
As Forças Armadas disseram que o sistema de defesa antiaérea estava em alerta para evitar "possíveis retaliações" dos EUA aos ataques no Iraque, "já que algumas observações haviam indicado movimentações de aviões americanos para locais estratégicos no Irã".
O Boeing 737-800, de acordo com Teerã, teria sobrevoado uma área perto de um centro militar da Guarda Revolucionária e sido erroneamente identificado como alvo inimigo". O general Amir Ali Hajizadeh, comandante da Força Aérea iraniana, assumiu responsabilidade pelo abatimento.
"Teria preferido morrer do que ver acontecer um fato do tipo", acrescentou. No entanto o mesmo general afirmou que o míssil foi acionado por um "soldado agindo de maneira independente, disparando sem ter recebido ordens, por causa de uma falha de comunicação".
Na versão de Hajizadeh, o militar confundiu o avião ucraniano com um míssil de cruzeiro. "Ele só tinha 10 segundos para decidir e, no fim das contas, tomou a decisão errada", disse. Nenhuma autoridade iraniana explicou por que o espaço aéreo em Teerã não estava fechado.
As Forças Armadas ainda prometeram promover "mudanças nos processos operacionais para evitar erros do tipo no futuro".