O Irã é um dos mais importantes países do Oriente Médio, uma grande potência regional muçulmana xiita, em meio a países majoritariamente sunitas. O país tornou-se uma república islâmica em 1979, quando a monarquia foi derrubada numa grande revolução de repercussão internacional. Os clérigos assumiram o controle político, na época sob a liderança do aiatolá Khomeini.
A Revolução Iraniana encerrou o regime do xá Reza Pahlavi, que havia alienado poderosas forças religiosas, políticas e populares com um programa de modernização e ocidentalização - aliado a uma violenta repressão contra qualquer dissidência.
A radical mudança interna no Irã opôs o país ao Ocidente e espalhou medo na região, especialmente entre os árabes sunitas. Um ano após a revolução, o Iraque entrou em guerra com o vizinho - um conflito que durou oito anos. O Irã passou a exercer crescente influência política regional, particularmente na Síria e no Líbano.
A Pérsia - como o Irã era conhecido até 1935 - foi um dos grandes impérios da Antiguidade, cujo legado ainda é sentido no Irã moderno. Após a invasão árabe, o país manteve ao longo dos séculos sua identidade cultural, continuando a usar sua própria língua e adotando nacionalmente, no século 16, a interpretação xiita do islã.
Pouco visitado por ocidentais devido a questões políticas, o Irã é um país caracterizado por belíssima geografia e inúmeras atrações históricas, incluindo mesquitas e ruínas da Antiguidade. Entre elas, destaca-se a cidade de Persépolis, antiga capital do império persa da dinastia Aquemênida.
A cultura iraniana moderna é também rica e reconhecida mundo afora, particularmente na música e no cinema. O cantor Mohammad-Reza Shajarian levou a música de seu país a plateias do Ocidente, enquanto cineastas como Abbas Kiarostami, Mohsen Makhmalbaf, Samira Makhmalbaf e Jafar Panahi tornaram o cinema iraniano internacionalmente respeitado. O diretor iraniano Asghar Farhadi recebeu duas vezes o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
FATOS
LÍDERES
Líder supremo: Aiatolá Ali Khamenei
O líder supremo iraniano é a pessoa mais poderosa do país. Ele escolhe os líderes do Judiciário, das Forças Armadas e do setor de comunicações, além de confirmar a eleição do presidente do Irã.
O aiatolá Ali Khamenei foi indicado para o posto, de forma vitalícia, em junho de 1989, escolhido pelo órgão chamado Assembleia dos Especialistas (um conselho de clérigos).
Ele sucedeu o fundador da república islâmica, o aiatolá Khomeini - o escolhido de Khomeini, aiatolá Hussein-Ali Montazeri, entrou em conflito com o líder supremo antes de sua morte, o que deixou a decisão sobre a sucessão em aberto, nas mãos dos clérigos. Até então, Khamenei havia servido como presidente iraniano por dois mandatos na década de 1980, quando o cargo tinha muito menos poder. Khamenei foi escolhido como novo líder supremo apesar de ainda não ser um aiatolá, título que lhe foi dado como parte do processo de escolha.
Presidente: Hassan Rouhani
Hassan Rouhani, considerado moderado e reformista, chegou à Presidência em 2013, derrotando por larga margem o ex-prefeito de Teerã Mohammad Bagher Ghalibaf. Sua chegada ao poder alterou as relações do Irã com as potências ocidentais e permitiu a negociação e assinatura do acordo nuclear de 2015.
No pleito de 2017, Rouhani foi reeleito para mais quatro ano no cargo, derrotando dessa vez o conservador Ebrahim Raisi. Sua reeleição foi um sinal de apoio da população a sua política de maior abertura em relação ao Ocidente e seus esforços para reerguer a economia - em dificuldades desde que os Estados Unidos, no governo de Donald Trump, reimpuseram sanções ao país,
MÍDIA
A disputa por influência e poder no Irã ocorre abertamente na mídia do país. Todas as radiodifusões a partir de solo iraniano é controlada pelo Estado e reflete a ideologia oficial do regime islâmico. Na imprensa e na internet, entretanto, existe uma ampla variedade de opiniões.
Segundo a entidade Repórteres Sem Fronteiras, o Irã está "entre as cinco maiores prisões do mundo" para profissionais de imprensa. A organização diz que jornalistas são "constantemente expostos a intimidação, prisão arbitrária e longas sentenças de prisão impostas por tribunais revolucionários ao final de julgamentos injustos".
A televisão é o principal meio de comunicação, e a estatal IRIB (Radiodifusão da República Islâmica do Irã) opera serviços nacionais e provincianos. Suas redes internacionais incluem a Press TV, um canal de televisão em inglês. A rede doméstica mais popular é o canal para jovens da IRIB.
Apesar da proibição do uso de equipamento para captar transmissões por satélite, canais de TV estrangeiros são amplamente vistos - o que é geralmente tolerado pelas autoridades. Dezenas de estações em persa transmitem a partir dos EUA, da Europa e de Dubai, nos Emirados Árabes.
Canais de empresas de radiodifusão ocidentais, incluindo a BBC Persian TV, da BBC, visam o público iraniano. Suas transmissões já foram alvos de interferência deliberada a partir do território iraniano. As estações de rádio da IRIB incluem uma rede parlamentar, a Rádio Corão e um serviço externo multilinguístico.
Em termos de jornais, existem cerca de 50 diários nacionais, mas poucos iranianos compram jornal diariamente. Os diários esportivos são aqueles com maiores vendas.
Em janeiro de 2021, havia 59 milhões de usuários de internet no Irã, segundo as agências We Are Social e Hootsuite - uma penetração em 70% da população. Os usuários de mídias sociais somavam 36 milhões. A World Wide Web é o principal fórum para vozes políticas dissidentes, mas a internet é abraçada por todos os lados do espectro político e social iraniano, incluindo conservadores e ativistas a favor do regime.
As autoridades costumam bloquear ou filtrar sites que considerem problemáticos - incluindo aqueles com conteúdo considerado pornográfico ou anti-islâmico. Para evitar esse controle, iranianos muitas vezes usam VPNs (redes virtuais privadas) e outros métodos tecnológicos.
O Facebook, embora bloqueado, está entre as redes sociais mais populares no Irã. O Twitter é bloqueado para cidadãos comuns, mas líderes e altos oficiais são ativos na rede. Iranianos são usuários ávidos de aplicativos de mensagens, especialmente o Telegram - também tem havido interrupções esporádicas do aplicativo no país. Em 2016, o Irã anunciou que havia completado a primeira fase de uma rede nacional de informação (NIN), um projeto que visa criar uma internet nacional.
RELAÇÕES COM O BRASIL
Brasil e Irã têm mais de um século de relações diplomáticas, estabelecidas oficialmente em 1903. Em 1965, o xá Mohammad Reza Pahlavi visitou o Brasil, mas a viagem não levou a uma aproximação maior entre os dois países, algo que só ocorreria no século 21.
Na década de 2000, especialmente com a política externa "Sul-Sul" do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de maior aproximação com países emergentes, Brasil e Irã aumentaram a frequência e a amplitude de seus contatos. Após viagens oficiais de seus respectivos ministros do Exterior, em 2009 o presidente Mahmoud Ahmadinejad fez uma visita oficial ao Brasil. No ano seguinte, foi a vez de o presidente Lula visitar o Irã.
No mesmo ano de 2010, Brasil e Turquia patrocinaram um acordo com o Irã que oferecia uma saída ao então impasse envolvendo o programa nuclear iraniano. A proposta, no entanto, não foi encampada pelos Estados Unidos - e uma solução só viria após a mudança de governo em Teerã, em 2013.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, o intercâmbio comercial entre os dois países somou US$ 2,65 bilhões - praticamente todo o valor corresponde a exportações do Brasil, que importou apenas US$ 39,92 milhões. As sanções internacionais contra o Irã, porém, já afetavam o fluxo comercial.
LINHA DO TEMPO
Importantes datas na história do Irã:
550-330 AC - A dinastia Aquemênida reina no primeiro Império Persa, cuja capital era a famosa cidade de Persépolis. Em sua maior extensão, sob o líder Dário I, o império ia do Mar Egeu (entre Grécia e Turquia) e da Líbia até o Vale do Indo.
636 - Invasão árabe acaba com a dinastia Sassanida e dá início ao controle islâmico da região.
Século 9 - Surgimento da língua persa moderna, usando uma forma de escrita árabe.
1220 - As forças mongóis de Genghis Khan tomam a Pérsia, que se torna parte do Ilcanato, governado por descendentes de Hulagu, neto de Genghis Khan.
1501 - Com o apoio das tribos xiitas Qizilbash, o xá Ismail torna-se o primeiro governante da dinastia islâmica Safávida. Ismail impõe o islã xiita como a religião de Estado, forçando a conversão dos sunitas da Pérsia.
1571-1629 - Apogeu do Império Safávida sob o xá Abbas I, que reforma o Exército, afasta os Qizilbash e estabelece os primeiros laços com a Europa ocidental.
1921 - O comandante militar Reza Khan toma o poder.
1926 - Reza Khan é coroado como Reza Xá Pahlavi.
1935 - Irã é adotado como nome oficial do país.
1941 - A posição do xá a favor das potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial leva à ocupação do Irã e à deposição do monarca em favor de seu filho, Mohammad Reza Pahlavi.
1951 - O Parlamento vota pela nacionalização da indústria petrolífera do país, que é então dominada pela empresa britânica Anglo-Iranian Oil Company. O Reino Unido impõe um embargo e um bloqueio sobre o país, paralisando as exportações de petróleo e atingindo a economia iraniana. Ocorre uma disputa de poder entre o xá e o primeiro-ministro nacionalista Mohammad Mossadeq.
1953 - O primeiro-ministro Mossadeq é derrubado em um golpe engenhado pelos serviços de inteligência britânico e americano. O general Fazlollah Zahedi é proclamado primeiro-ministro, e o xá retorna de um exílio temporário.
1963 - O xá Mohammad Reza Pahlavi lança a "Revolução Branca", um programa de reforma agrária e modernização social e econômica. Ao longo dos anos 1960, ele se torna cada vez mais dependente da polícia secreta SAVAK para controlar movimentos de oposição.
1978 - Com as políticas do xá alienando as lideranças religiosas, surgem protestos, greves e grandes manifestações contra seu autoritarismo. Lei marcial é imposta.
1979 - Janeiro - Com a deterioração da situação no país, o xá e sua família são forçados a deixar o país. Em fevereiro, o líder religioso oposicionista e aiatolá Ruhollah Khomeini retorna ao Irã após 14 anos de exílio no Iraque e na França. Em abril, a República Islâmica do Irã é proclamada depois de um referendo.
1979 - Novembro - Militantes islâmicos tomam 52 americanos como reféns dentro da embaixada dos Estados Unidos em Teerã. Eles exigem a extradição do xá, que na época estava nos EUA fazendo tratamento de saúde, para que fosse julgado no Irã.
1980 - Abolhasan Bani-Sadr é eleito o primeiro presidente da República Islâmica. Seu governo começa a trabalhar num grande programa de nacionalizações.
1980 - Julho - O exilado xá Mohammad Reza Pahlavi morre de câncer, no Egito.
1980 - Início da guerra Irã-Iraque, que duraria até 1988 e deixaria 2 milhões de mortos dos dois lados. O Iraque, governado por Saddam Hussein, é apoiado pelos países árabes sunitas, com receio de um fortalecimento do Irã após sua revolução, e por potências ocidentais.
1981 - Reféns americanos são libertados em janeiro, terminando um período de 444 dias de cativeiro.
1990 - Junho - Um grande terremoto atinge o Irã, matando aproximadamente 40 mil pessoas. Setembro - Irã e Iraque retomam relações diplomáticas, dois anos após o fim da guerra entre os países vizinhos.
1997 - Maio - Mohammad Khatami vence as eleições presidenciais com 70% dos votos, derrotando a elite conservadora. Khatami seria reeleito em 2001.
2001 - Meses depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente americano, George W. Bush, descreve Irã, Iraque e a Coreia do Norte como um "eixo do mal".
2004 - Junho - O Irã é criticado pela agência nuclear da ONU, a AIEA, por não cooperar completamente com a investigação sobre suas atividades nucleares.
2005 - Junho - Mahmoud Ahmadinejad, o ultraconservador prefeito de Teerã, vence as eleições presidenciais, derrotando o clérigo e ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani.
2005 - Agosto-Setembro - Teerã anuncia ter retomado a conversão de urânio na sua usina de Isfahan e insiste que o programa tem apenas fins pacíficos. A AIEA diz que o Irã violou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
2009 - O presidente Mahmoud Ahmadinejad é declarado vencedor na eleição presidencial de junho. Seus adversários na disputa questionam o resultado, alegando ter havido fraude. Os seguidores dos oposicionistas tomam as ruas em protesto, gerando uma onda de manifestações, em que ao menos 30 pessoas são mortas e mais de 1 mil são detidas.
2010 - O Conselho de Segurança da ONU impõe uma quarta rodada de sanções contra o Irã em relação a seu programa nuclear, incluindo mais duras medidas financeiras e um mais amplo embargo a venda de armamentos.
2013 - O clérigo Hassan Rouhani, apoiado por reformistas, vence a disputa presidencial, numa nova mudança de rumo na política iraniana.
2015 - Após anos de negociações, potências chegam a um acordo com o Irã sobre uma forma de limitar a atividade nuclear do país em troca da retirada das sanções econômicas internacionais. O acordo dá a inspetores nucleares da ONU acesso amplo, mas não automático, aos locais de produção de energia nuclear no Irã.
2018 - O presidente Donald Trump anuncia a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã, de 2015. Em resposta, o governo iraniano diz que voltar a aumentar sua capacidade de enriquecer urânio, caso o acordo fosse desfeito como resultado da saída americana.
2019 - Tensões entre EUA e Irã aumentam depois que Washington acusa Teerã de atacar navios petroleiros no Golfo Pérsico, o que o Irã nega.
2020 - O comandante da Força Quds, Qasem Soleimani, responsável pelo apoio militar do Irã ao regime de Bashar al-Assad na Síria, é assassinado pelos EUA num ataque aéreo no aeroporto de Bagdá. O Irã ameaça retaliar.
2022 - A morte de Mahsa Amini, uma mulher cirda de 22 anos, que entrou em coma após ter sido detida em Teerã pela polícia moral deflagrou diversos protestos contra o governo em diferentes partes do Irã. Amini foi presa acusada de violar a lei que determina que as mulheres cubram o cabelo com um véu. Em protestos nas ruas da capital , diversas mulheres se paresentaram sem o véu desafiando as leis e em seguida cortaram seus cabelos em protestos que ameaçam desestabilizar o governo.