Isolada, extrema-direita de Portugal enfrenta dificuldades em eleição

30 set 2019 - 14h33

Balançando bandeiras portuguesas, líderes do Partido Nacional Renovador (PNR), de extrema-direita, aguardavam que mais pessoas comparecessem em um comício em meados de setembro em Lisboa, mas seus cantos patrióticos foram ignorados.

Apoioadores do partido de extrema-direira PNR durante comício na Praça Camões, em Lisboa
14/09/2019
REUTERS/Rafael Marchante
Apoioadores do partido de extrema-direira PNR durante comício na Praça Camões, em Lisboa 14/09/2019 REUTERS/Rafael Marchante
Foto: Reuters

Ninguém se juntou aos cerca de 50 membros do partido reunidos para o ato de campanha para a eleição parlamentar de 6 de outubro. Os poucos pedestres que paravam, na verdade, gritavam "fascistas!".

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Em tempos nos quais movimentos populistas de extrema-direita estão em ascensão na maioria da Europa, o apoio pequeno a esse movimento é comum em Portugal, onde o Partido Socialista, de centro-esquerda, deve permanecer no poder.

Portugal é um dos cinco países da União Europeia sem eleger um partido de extrema-direita para o Parlamento --junto a Reino Unido, Irlanda, Malta e Luxemburgo--, e é pouco provável que a eleição mude esse cenário. O PNR e o Chega, um segundo partido de extrema-direita, reúnem menos de 1% votos cada nas pesquisas.

Grupos de extrema-direita podem ter mais dificuldade de se estabelecer em Portugal devido ao apego do país pela jovem democracia conquistada apenas em 1974 após quatro décadas de ditadura fascista.

"As pessoas em Portugal têm convivido com uma sociedade muito multiétnica, até mesmo se comparada à Espanha", disse o cientista político James Dennison, que pesquisa movimentos de extrema-direita na Península Ibérica.

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Com os imigrantes vindos de suas antigas colônias, incluindo Brasil e Angola, Portugal se acostumou a um fluxo de recém-chegados de diferentes lugares. Ao contrário da maioria das nações europeias que tentam conter a imigração, Portugal encara o crescente fluxo como uma maneira de enfrentar o problema do envelhecimento populacional.

"Precisamos de mais imigração e não toleraremos nenhuma retórica xenofóbica", disse o primeiro-ministro António Costa em uma conferência no ano passado.

Portugal não recebeu uma onda repentina de imigrantes nos últimos anos, como as chegadas em massa por mar nos países do Mediterrâneo e por terra nas nações do norte da Europa, como a Alemanha, em 2016.

"As pessoas ainda estão preocupadas com questões do dia a dia, como economia e desemprego, questões que ofuscam a imigração", disse Dennison, professor do Instituto Universitário Europeu, em Florença.

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Alguns pesquisadores também disseram que a ausência de ataques de militantes islâmicos em Portugal, que foi classificado como o terceiro país mais pacífico do mundo pelo Índice Global de Paz, ajudou a manter afastados os sentimentos contra estrangeiros.

Mas a sociedade portuguesa não é desprovida de racismo, xenofobia ou homofobia, apesar de ter passado por muitas mudanças liberais desde o final da ditadura de António Salazar.

"Muitas pessoas (em Portugal) pensam como nós, mas preferem ir à praia, ficar em casa ou descansar", disse à Reuters o líder do PNR, José Pinto Coelho.

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