Israel anuncia plano para 'limitar' gestão palestina de Gaza

O Ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, divulgou as propostas para um futuro comando de Gaza assim que acabar a guerra entre Israel e o Hamas.

4 jan 2024 - 22h47
(atualizado às 22h50)
Uma mulher lamenta a morte de seu marido em Kahn Younis, em Gaza
Uma mulher lamenta a morte de seu marido em Kahn Younis, em Gaza
Foto: AFP / BBC News Brasil

O Ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, anunciou as propostas para um futuro comando de Gaza assim que acabar a guerra entre Israel e o Hamas.

Haveria, disse ele, um domínio palestino limitado no território.

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O Hamas deixaria de controlar Gaza e Israel manteria o controle geral da segurança, acrescentou.

Os combates em Gaza continuaram em meio à publicação do plano, com dezenas de pessoas mortas nas últimas 24 horas, disse o ministério da saúde administrado pelo Hamas.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, deverá retornar à região nesta semana. A expectativa é de que ele mantenha conversas com autoridades palestinas na Cisjordânia ocupada e com líderes israelenses.

Essa visita ocorre em meio ao aumento da tensão após o assassinato do principal líder do Hamas, Saleh al-Arouri, na terça-feira na capital do Líbano, Beirute. A morte dele foi amplamente atribuída a Israel, que não confirmou nem negou envolvimento.

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Segundo o agora plano de "quatro cantos" de Galant, Israel manteria o controle geral da segurança de Gaza.

Uma força multinacional se encarregaria de reconstruir o território após a destruição generalizada causada pelos bombardeios israelenses.

O vizinho Egito também teria um papel não especificado a desempenhar no plano.

Mas o documento acrescenta que os palestinos seriam responsáveis pela gestão do território.

"Os residentes de Gaza são palestinos, portanto os órgãos palestinos estarão no comando, com a condição de que não haja ações hostis ou ameaças contra o Estado de Israel", disse Gallant.

As conversas sobre o "dia seguinte" em Gaza levaram a profundos desacordos em Israel.

Alguns membros da extrema-direita do governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmaram que os cidadãos palestinos deveriam ser encorajados a deixar Gaza para o exílio, com o restabelecimento de assentamentos judaicos no território - propostas controversas que foram classificadas como "extremistas" e "impraticáveis" por outros países da região e por alguns dos aliados de Israel.

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Embora as propostas de Galant possam ser consideradas mais práticas do que as sugeridas por alguns dos seus colegas de gabinete, é provável que sejam rejeitadas pelos líderes palestinos que afirmam que os próprios habitantes de Gaza devem ser autorizados a assumir o controle total da gestão do território assim que a guerra terminar.

Netanyahu não falou publicamente com quaisquer detalhes sobre como pensa que Gaza deveria ser governada.

Ele sugeriu que a guerra em Gaza ainda poderá durar vários meses, tendo declaradamente o objetivo de exterminar completamente o Hamas.

O plano de Galant também delineou a forma como os militares israelenses pretendem proceder na próxima fase da guerra em Gaza.

Segundo esse plano, as Forças de Defesa de Israel (FDI) adotariam uma abordagem mais direcionada no norte da Faixa de Gaza, onde as operações incluirão ataques, demolição de túneis e ataques aéreos e terrestres.

No sul, os militares israelenses continuarão tentando localizar os líderes do Hamas e resgatar reféns israelenses, disse.

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Na quinta-feira, as FDI disseram ter atingido áreas no norte e no sul de Gaza, incluindo a Cidade de Gaza e Khan Younis.

Khan Younis, a maior cidade do sul da Faixa de Gaza, foi atingida por ataques aéreos israelenses nesta quinta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A Forças de Israel afirmam ter realizado ataques contra "infraestruturas terroristas" e matado pessoas que foram descritas como militantes, que teriam tentado detonar um explosivo perto de soldados.

Também anunciou que matou um importante agente da Jihad Islâmica Palestina, Mamdouh Lolo, em um ataque aéreo.

O ministério da saúde administrado pelo Hamas em Gaza disse que 125 pessoas foram mortas nas últimas 24 horas na região.

Um funcionário do Ministério da Saúde disse que 14 pessoas - incluindo nove crianças - foram mortas por ataques aéreos israelenses em al-Mawasi, a oeste de Khan Younis.

A pequena cidade foi designada como "espaço seguro" pelas forças israelenses para palestinos deslocados. A IDF não comentou as alegações feitas pelo Hamas.

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"Estávamos dormindo à meia-noite quando um ataque atingiu o acampamento nas tendas 4x2 onde as pessoas dormiam, a maioria crianças", disse Jamal Hamad Salah, testemunha ocular, à agência de notícias Reuters. "Encontramos um corpo que voou a 40 metros de distância."

"Não há lugar seguro em Gaza", disse Jason Lee, diretor da agência humanitária Save the Children, que presta ajuda no território palestino. "Acampamentos, abrigos, escolas, hospitais, casas e as chamadas 'zonas seguras' não deveriam ser campos de batalha."

O número total de pessoas mortas em Gaza desde o início da campanha de retaliação de Israel atingiu mais de 22.400 até quinta-feira - compreendendo quase 1% dos 2,3 milhões de habitantes do lugar, disse o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.

A ofensiva de Israel começou depois de homens armados do Hamas lançarem um ataque surpresa ao sul de Israel, em 7 de Outubro, matando 1.200 pessoas, a maioria civis, e fazendo cerca de 240 reféns.

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